PENSANDO

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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

UMA COISA PENICANDO A MINHA PAZ

Em caso de dúvida não faça nada.
Deixe o tempo mostrar que suas dúvidas equivalem a nada.
Ele coloca tudo no lugar, isso se algo estiver realmente fora do lugar.
Não que a gente não possa ter lá alguma conclusão sobre algo que não dominamos,
mas não conhecendo alguns fatos, tendo certeza da verdade, fica difícil mesmo saber
se é melhor agir ou esperar... ou esquecer... ou apenas desprezar e seguir em frente.

Hoje bateu uma enorme dúvida sobre alguém a quem em alguns momentos admirei.
Fiz umas ponderações e cheguei à conclusão que nunca soube o suficiente para
afirmar nada sobre a pessoa.
Sobre as coisas pontuais a imagem sempre foi de neutra prá boa.
Mas no geral fica sempre uma dúvida... parece que tem gato na tuba.
Essa desconfiança é que é a questão... tem um demoniozinho te cutucando e dizendo:
- Fica esperto, fica esperto.
Com isso não dá pra relaxar.
Se tem uma coisinha te espetando o bom mesmo é procurar no tecido a maldita pontinha.
É preciso bons olhos para ver, é achar uma estrela no infinito e as vezes nem há tempo,
nem vontade forte mesmo prá isso.
Então tem um outro não-demoniozinho que diz:
- Esquece, esquece.
Melhor esquecer!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

GONZAGÃO

Aeroporto do Galeão - depois se tornaria Aeroporto Tom Jobim - tarde de terça ou quinta feira.
Um sol forte entra pela parede envidraçada da enorme sala onde eu esparramado numa poltrona aguardo a chamada de um voo para São Paulo. era sempre assim, naquele tempo eram raros os voos diretos de Vitória-ES para São Paulo, então para não ficar em Vitória que era quente demais eu ia adiantando a viagem e ficava morgando no Rio de Janeiro.
Sentado atrás de mim um senhor conversava calmamente. As poltronas tinham um único encosto para dois acentos e o senhor também estava bastante estirado na poltrona dele de modos que a gente estava cabeça com cabeça a uns míseros centímetros um do outro. Mas a vós era conhecida. Daí bate aquela agonia, de quem é essa vós? E pensa, e pensa e a resposta não vem. Era óbvia demais e não vinha. Só tinha uma jeito: levantar dar uma volta e ver o rosto do sujeito. Fiz isso.
Putz, era nada menos que Luiz Gonzaga, o Gonzagão, o Rei do Baião, o co-autor de Asa Branca, o homem que "enfrentava as balas" em Exu prá pazcificar a cidade da eterna luta entre as famílias: Alencar, Sampaio e Saraiva, onde uma vingava a morte de um membro da família matando um membro da outra por muitos anos.
Ele certamente estava acostumado a ser observado com curiosidade e eu não seria nada mais que apenas mais um ninguém a observa-lo. Mas é forte a emoção, era realmente como ver um rei, um papa, um Beatle de perto, lembro da roupa azul que ele usava e lembro tão claramente da vós que mesmo o tempo, uns 30 e tantos anos não empalidam nada de minha memória.
Ouça Luiz Gonzaga, aproveite que ele esta na moda e aprofunde seu conhecimento sobre as músicas dele, e sobre a dramática história de vida dele.
Se o mundo não acabar no dia 12 de Dezembro no dia 13 vamos comemorar os 100 anos de nascimento desse cara muito legal.

Digna de nota a belíssima  ilustração acima de Willian Medeiros.


Asa Branca
Luíz Gonzaga

Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão

Quando o verde dos teus "óio"
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração



sábado, 20 de outubro de 2012

HI HI HI HI HI HI HI HI HI

Acabou muito bem.
Salvou a pele de todo mundo dos dois lados.
Do nosso, salvou aqueles atores que sempre foram medianos e que de tanto tentar acabaram fazendo bem feito. Do deles, salvou e guardou para a história aquilo que trazemos, nestes tempos vividos, de ruim e maldoso dentro de nós. Um dia quem pesquisar saberá com bastante proximidade como era o povo que vivia nessa parte do mundo e neste momento da trajetória.
Ninguém é bom nem ninguém é ruim, somos confusos, não entendemos quais são os valores e pendemos para todos os lados.
Incrível é ver como o autor conseguiu perceber isso e se manter nessa convicção durante toda a história que embora dinâmica, muito dinâmica, enrolava para caramba. Ele realmente tem muito valor, um grande escritor.
Não sei ao certo ainda, mas algo inédito aconteceu com essa novela e foi bom.
Cada um escolhe seus favoritos, mas todos concordam com algo, mas o quê é esse algo?
Repito, não sei, mas esvaziou ruas, reuniu pessoas e provocou sensações novas.

Um primor a cena do rizoto de frango servido pela Carminha, ali esta contido uma angustia e uma verdade que serão necessários pilhas de livros e ensaios para esclarecer completamente. Ponto para todos os atores presentes na cena, um jóia rara na história da ficção.
Um segundo primor a cena da Pepeta queimando, algo que só será compreendido plenamente daqui a algumas centenas de anos. A amante que vem e salva o amado, com mutua coragem, num mergulho profundo demais para ser aceito e entendido de cara. outra jóia rara na história da ficção que de cômica não teve absolutamente nada, simplesmente uma cena maravilhosa e extremamente corajosa. Outros dois atores que vieram para brilhar, que entenderam a cena e fizeram ela acontecer como uma correção absoluta.

Salvou-se o gênero telenovela.
Contribuíram para fazer avançar a alma humana.
Mas não fiquem felizes... agora vem a Glória Perez e fode tudo.

HOSPITAL DE CLINICAS

Ontem estive pela manhã no Hospital de Clínicas de São Paulo.
É preciso algumas centenas de paginas para descrever apenas as primeiras impressões.
Multidão, variada multidão composto por todos os tipos de pessoas, interesses e necessidades.
Um gasto estilo de relação pessoal. Uma forma impessoal de interagir mas alguma afetividade pairando no ar. Uma senhora evangélica abordando a todos na calçada com santinhos, ora que engraçado, santinhos no formato gráfico apenas, oferecendo consolo religioso àqueles que se sustentam na fé, mesmo estando bem à beira da continuidade da vida.
Uma feira das desgraças. Uma feira da falta de sorte na vida.
Chamou a atenção num determinado momento um homem jovem ( entre 30 a 35 anos ) em pé, num canto com um pano sobre a boca seguro por uma das mãos. Que tipo de socorro buscava?
Olhei-o, mais jovem que eu uns 20 anos e passou-me a firme convicção que se um dia eu descubro em mim uma doença muito grave, engulo o amargo do azar, mas não tomo uma aspirina que seja. Deixo que o mal me consuma o mais rápido possível e não luto para contrariar a regra da natureza.
54 anos é tempo suficiente para fazer todas as coisa certas necessárias a uma vida.
Se neste tempo, que afirmo: é muito longo, se bem aproveitado, não é dado o destino correto a cada momento da vida, não precisa requer tempo extra.
O bom de ser criança é que a gente não sabe que a vida tem que ser aproveitada e acaba aproveitando mesmo sem saber, mas depois descobre uns meios de acumular ansiedades e planos e com isso consome todo o tempo com coisas dispensáveis e acaba dispensando a vida.
Imagine uma praia, a maior do mundo, com 600 quilômetros de comprimento. Dois jornalistas aventureiros levaram 30 dias para cruza-la a pé. Apenas 30 dias. Em 54 anos eu poderia ter cruzado essa mesma praia 657 vezes. Ou cruzado a pé 394.000 quilômetros de praias, nem existem tantas praias assim neste planeta.
Mas em 54 anos o máximo que fiz foi 14 quilômetros num único dia e contei a mesma história sobre a proeza 657 vezes.
No HC você fica de cara com a derrota parcial e com a fé de que a derrota também é algo passageiro.
Meu orgulho e minha arrogância só me permitem optar pela não luta. Eih, eu não estou doente, não sou terminal, estou tão sujeito à morte imediata quanto qualquer um de todos nós.
Mas acredito que é mais digno morrer escondidinho como fazem os elefantes, como fazem os animais que se entocam e agonizam numa profunda aceitação das regras naturais.
Não contem comigo numa fila de hospital, não quero penetrar e entender a fé que leva as pessoas a aceitarem isso. Não quero ter que encarar a senhora velhinha com o santinho na mão falando de Cristo e ter que ser sincero com ela e dizer que sou completamente ateu. Vou polpa-la, deixar o tempo dela para os que acreditam na cura.
Na real eu acho que morrer não é algo tão ruim assim.
Não entendo esse apego todo a continuar e continuar e lutar para continuar mesmo não estando pleno.
Eu só precisava de 30 dias prá cruzar a praia,  nunca fiz, agora vou requerer mais tempo prá continuar não fazendo? Faz sentido?
Acho que o HC deveria ter sido construído numa praia de 600 quilômetros e ao invés de cura deveriam apenas indicar a direção e dizer: -Vão, caminhem por 30 dias e se chegarem vivos ao final dela não fará a menor diferença se vocês querem mais alguns dias na vida, economizem o tempo da fila e o frio olhar, embora afetivo, das atendentes, não importa a dor, vocês irão ouvir as ondas, ver as aves, ver o sol se por e nascer, sentir o vento, o cheiro e a emoção de fazer algo que poucos fazem, do contrário se curarmos vocês, apenas irão voltar para casa, prá sentar na sala e ver televisão... e na tela irão ver praias onde nunca pisarão.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

BAILARINOS NÃO CANTAM

Foi em 1986, pode ter sido em outro ano, mas algo me diz que foi em Paraty - com certeza, isso eu tenho - em Maio de 1986 um certo festival de música sacra. Não sei se ainda existe, se conseguiram preservar aquela maravilhosa ideia  que me contou o maestro Jonas Christensen, foi do Papa João Paulo II, que a ele atribuiu de fazer com que o festival viesse a existir em alguma cidade histórica brasileira.

Mas o gran finale do festival foi na igreja matriz de Paraty e um dos grupos corais que se apresentou marcou-me por longo tempo pela surrealidade e comicidade da situação.

Formado por pessoas  com um pouco mais de idade - diria entre 35 e 50 anos - e com uma certa vontade em inovar ou se destacar fizeram algo bem diferente mesmo e marcante. Foi assim: o coral entrava na igreja cantando, percorrendo o mesmo caminho que percorre uma noiva, entravam pela porta principal e iam cantando até chegar ao altar onde havia sido arranjado um grande palco. Não lembro o nome do coral, de onde era e nem qual era a música que cantavam, e prá dizer bem a verdade até  a agora pouco, em meu café da manhã, eu nem lembrava mais da passagem. Mas alem de entrar cantando eles tinham uma formação curiosa, entravam em duas filas indianas e caminhavam dando um passo para o lado e paravam davam um outro passo para o lado oposto ao anterior e paravam novamente. Assim as duas colunas iam balançando lentamente de um lado para o outro, enquanto eles cantavam a todo pulmão e olhavam fixamente para frente. Honestamente, pô, como eu vou escrever uma coisa dessas a seguir?... era patético... tudo era patético: a roupa, as caras, a música, a pretensão inovadora, a coreografia medíocre.
Mas nada desagrada a todos, algumas pessoas - falarei no final do texto sobre esse tipo de pessoa - choravam emocionadas diante da tão, tão, tão... inesperada performance do grupo vocal.

Brasileiro é ruim de numero, isso é um fato que se quiserem eu discorro por dias seguidos com milhões de exemplos até convence-los. Aqui ninguém sabe nada de número, dimensão, proporção ou coisas assim... colocou número na parada dá merda. Um arquiteta prá quem fiz um trabalho recentemente não sabia o que era uma polegada... vi engenheiros da CESP de Marília se embananando na hora de calcular quantos mourões seriam necessários prá construir um alambrado, e assim vai... ora, se um cara é maestro não tem a obrigação de saber nada mais além de música, código de transito e primeiros socorros para engasgados, certo? Mas e quanto ao corredor da igreja em questão versus a velocidade do avanço do grupo vocal divido pelo tempo da música elevado à raiz quadrada do número de expectadores que desejavam que o coral chegasse junto ao palco no finalzinho da música para aplaudi-los - ou vaia-los, conforme o gosto, eih?
Simples assim, na metade do corredor todo mundo notou que a música ia acabar primeiro. Ninguém lá dentro ignorava, agora pela mais pura intuição que aquilo não ia dar certo. O grupo estava lento demais na caminhada? O corredor era muito curto? A música era breve demais?
Todos sofremos, aquele sofrimento pelo constrangimento alheio, pela mediocridade matemática do maestro ou de quem quer que seja que tenha tido a infeliz ideia da coreografia ou que não tenha ensaiado antes ou ao menos notado que a igreja era grande para cacete. Eu cagava de rir da cara de agonia de todos, mas era um rir nervoso, desconfortável e doloroso. O que já era patético, fico hiper patético, a apresentação virou um suplicio, os passos começaram a ficar longos e a coisa piorou mais ainda, porque tudo se desacertou e alguns puristas filhos das putas resolveram não acelerar o passo e o coral rachou ao meio, virou uma bosta.
Nada mais casava com nada... o que salvaria aquela apresentação?
Acho que nem vou contar, porque ninguém vai acreditar... o Batman. Na verdade não foi o Batman, foi um primo distante dele... um morcego bem grande começou a voar dentro da igreja. Passou a dar rasantes sobre todos. Tem gente que nem liga, tem gente que se caga de medo, então a igreja - que estava lotada - passou a ter um movimento ondulante, tipo holla em estádio mexicano, era bonito de ver e quem conhece morcego sabe que ele fica ali fazendo o mesmo itinerário de forma meio circular por um bom tempo, com isso tinha uma parte da igreja que se divertia e outra que sofria e no meio o coral na maior cara de pau escorria em direção ao altar e se safava da merda que fizeram.
No final grande aplauso para o morcego... e o limbo para o coral que ao deixar de ser apenas coral mergulhou num mundo que não era o seu... mergulhou por falta de humildade em apenas cantar bem... queria arrasar, queria aparecer mais que os demais. Em algumas situações devemos aceitar ser apenas figurantes, na maioria devemos ser apenas participantes e não estrelas. Talvez a maioria dos velhotes daquele coral hoje se divertem em bailes da terceira idade, é isso ai, dançaram lá na igreja e descobriram que dançar é uma coisa legal, mas tem que ter um coreografia  e um sincronia... tem também que conhecer e dominar o espaço e principalmente saber que: bailarinos não cantam.

Nota.: Agora falarei sobre um tipo de pessoa, dentro de meu eterno desfiar sobre a mediocridade humana.
Quando eu fazia teatro amador ia sempre com o pessoal do grupo ver uns espetáculos de teatro gratuitos nas sextas ou sábados à meia-noite. Era a apresentação prá classe... eu não era da classe mas ninguém queria saber sobre isso. Um dia fomos ver "Bonitinha mas ordinária" de Nelson Rodrigues na montagem profissional mais amadora que já vi na vida, tanto que ao final, os colegas da classe artística - incluindo Antonio Fagundes, presente na ocasião - aplaudiram sentados, eu nunca tinha visto nada assim e não voltaria a ver um artista ser aplaudido sentado. Mas antes da peça os atores abriam um  vão da cortina e saiam para aquecer o público contando umas piadas. Aquilo já era uma promessa ou um presságio. Uma piada era pior que a outra. Mas bem na minha frente - não vou dizer que era um viado afetadíssimo prá não me enquadrar como homofóbico, mas foda-se era um viado afetadíssimo  rasgava-se de rir... problema dele se ele achava engraçado, mas ele se esticava a ponto de sua cabeça chegar bem perto de mim e numa das esticadas de braços, ah, sim, ele esticava os braços prá conseguir expressar toda a explosão de riso que as inodoras piadas lhe causavam... , ele me acertou o rosto... passei a esperar com grande espectativa o final de cada piada a fim de me abaixar e me proteger da bicha. Mas ali notei o que quero definir, uma pessoa desenquadrada, fora do clima do momento, uma gargalhada no funeral, uma insistência inoportuna, chorar na hora errada, chorar de coisas piegas, mostrar uma falsa sensibilidade prá aparecer e aparecer muito... não suporto, já fui assim também, já tive minhas necessidades de luz, mas estou melhorando... mas aquele tipo que sai da condição de massa prá chamar demais, a atenção de ultima hora, na hora mais oportuna, na hora que vê que há uma brecha, é o cara que atravessa pelado o campo de futebol na hora do jogo, um babaca, o mesmo que abraça o candidato a prefeito na rua e diz: vamos juntos até a vitória... acho que defini, né?