PENSANDO

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quinta-feira, 27 de junho de 2013

UM TESOURO REENCONTRADO

Sem querer achei na internet uma cópia de um trabalho meu feito 1986, acredito eu.
Um trabalho que custou mais de uma semana de dedicação, já que cada casa da cidade e cada rua teve que ser imaginado visto de cima pois não haviam imagens aéreas da cidade ao meu alcance. Mas apostei na poesia e por encomenda de um espaço cultural da cidade que faria um festival ou algo assim, fiz esse desenho para encartar na divulgação do evento. Posteriormente o mapa passou a ser vendido. Eu tinha notícias dele por intermédio de um amigo que hoje reside lá e que reconheceu minha autoria, eu acreditava que não houvesse mais nenhuma cópia dele já que se passaram 27 anos, mas o achei com pequenos acréscimos de nome de algumas ruas, e isso é uma retificação sobre o original que tinha todos os nomes e indicações dos locais relevantes.
O fato é que quando a gente menos espera a internet age feito o mar que do nada devolve à terra coisas que a gente acreditava terem sido tragadas para sempre.

terça-feira, 25 de junho de 2013

19 PALAVRAS

... e uma velha ama, a velha Moody, a velha Goody, ou coisa parecida, a quem se visitava numa pequena peça cheia de fotografias e de gaiolas de passarinhos.)   Mrs.Dalloway pagina 64 - Virginia Woolf  ( até aqui é dela, daqui pra frente sou eu )...


Ela já beirava os 88 ou 89 anos e ainda assim vivia em total independência, apenas que havia sabiamente reduzido sua rotina ao possível. Mas esse possível era tão amplo que duvido que muitas pessoas algumas décadas mais jovens tivessem uma vida tão repleta e movimentada.
Os pássaros já não existiam mais nas gaiolas... motivo de brigas e enfrentamentos com o finado marido hoje eles eram feitos de tecido estampadinho, preenchidos de algodão ou marcela e com olhos de botões ou rosário... algumas gaiolas maiores chegavam a ter 5 ou 6 e eram encantadores.
As fotos jaziam em molduras feitas pelo marido... ele as fazia às dezenas e ficavam amontoadas, ela, depois que ele morreu, resolveu pinta-las e completa-las com uns pedaços de cartão e sobre estes colava fotos. Não havia vidros para protege-las, mas as fotos estavam ali milagrosamente conservadas. De algumas ela não tinha mais lembranças para descrever quem eram os retratados e onde havia posado, mas havia fotos de todos que ela havia acompanhado pela vida e levado ao cemitério... mas sem dramas, sem lamentações.
O jardim era uma coleção caótica de espécies, mas tinham uma harmonia e a casa, escondida nos fundos de onde não se podia avista-la facilmente, estava estalando de nova sempre... ela pintava e repintava e contava com a ajuda de amigos para isso e para os concertos... chegara aos dias atuais com muitos deles, para ele cozinhava doces e bolos e montava em varias tardes da semana uma caixa de vime e ia ao encontro deles, numa lerdeza enervante, mas chegava, sempre chegava... e ao chegar encantava com suas observações feitas com precisão pelo caminho... nada de muito elaborado no pensar, era e sempre fora simples, mas era de muita poesia e precisão... sabia parar de falar e ficava olhando com um sorriso de Monalisa, a espera de um replica... isso confundia um pouco, era preciso buscar rapidamente algo para falar, ela ficava olhando e esperando e aqueles olhos cinzas, ou sabe-se lá que cor tinham, não piscavam e não desviavam...
Nos dias de chuva limpava as fotos e tirava a poeira dos passarinhos e depois coçava longamente  um gato de pano... se gostava tanto assim de gatos, por que não tinha um de verdade, havia tantos na redondeza, mas ela sabia que não iria muito longe e não queria deixar órfão... então conversava com os panos, e conversava longamente, contava detalhes, forçava a memória e o intelecto para formular algumas ideias, mas lhe faltava estofo, ela era realmente muito simples.
Não havia caderno de receita e tudo dava certo na mais pura intuição.
Banhos quentes 3 vezes por semana na casa de uma amiga, em casa não havia banho e não parecia faze r falta. A comida vinha era colhida ou chegava de algum lugar, sempre muito mais do que o necessário.
Era o menor paraíso do mundo... era aberto... era um ponto de encontro garantido com um sorriso e uma vós calma... era uma vida resumida em 19 palavras.