PENSANDO

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sábado, 23 de abril de 2011

BONO X IVETE



As informações vem em gotas, são pouco confiáveis mas temos nossos juízos próprios e intuímos sobre a consistência dos fatos.
Falou-se numa rádio de São Paulo que o Bono do U2 recusou-se a gravar com a Ivete Sangalo, falou-se também numa rádio que em 85 quando o Queen veio ao Rock in Rio o Fred Mercury expulsou do camarim, ao chegar ao show, um monte de artistas brasileiros que lá estavam acomodados prontos a dar as boas vindas e conhecer pessoalmente o ídolo indiano, falou-se também no rádio ( pô esses caras das rádios falam prá cacete ) que o mesmo Bono quer fazer um show em Copacabana durante a copa do mundo de 2014, que quer gravar um DVD no Corcovado e que convidou para tanto o nosso rei Roberto Carlos e pasmem, mas pasmem mesmo: Ivete Sangalo. O rock errou. Errou de porta, errou de hora o rock errou de amor.
Um pouco sobre gosto e preconceito ( parece até nome daqueles romances que viram filmes como é mesmo o nome da autora? tem até um filme com o nome dela “Clube de leitura de ????? ), nosso gosto é formado baseado em mistérios, senão como explicar que alguém possa gostar de música clássica e buchada? Ou ainda axé e literatura? Experimentemos Axé e Rock in Rio? Tai, axé e Rock in Rio... nada de novidade, primeiro porque Rock in Rio é no máximo a junção de uma série e letras que não forma sentido algum, senão como explicar que o evento ocorre regularmente em Portugal e na Espanha e na Líbia ( eu escrevi: na Líbia?????) e não no Rio. Se não é importante que Rio seja no Rio, minimamente importante também que rock seja rock, pode ser axé, pancadão, Hip Hop, pagode, pode ter até Erasmo Carlos, Ivan Lins e Rita Lee e daí pode ter também, é justo ter alias, Claudia Leite, Ivete Sangalo, Calypso, Bono Vox, Tiririca cantado Forentina de Jesus e Genival Lacerda cantando Ela deu o rádio ( acho que este já morreu, já morreu???), pode tudo, pode o que quiser, só não pode ter coerência.
Agora sobre preconceito: acho que a arte, a verdadeira arte, não teme a crítica, ela se lixa prá critica, a arte segue, empurra os limites e escancara valores.
A arte pode tudo porque o artista verdadeiro não depende dos meios materiais para viver, o verdadeiro artista tem uma missão: produzir a inquietação. Para produzi-la ele tem que ser livre, independente, atemporal e capaz de transforma algo naquilo que imaginou. Mas o artista é algo totalmente diverso do espectador, e mais, o artista vive um universo oposto ao do espectador. O artista constrói algo, o espectador consome algo. O artista pensa antes e pensa por todos, na maior parte do tempo ele determina como o mundo deveria ou vai pensar a seguir.
Nuns momentos, que não sei porque, a arte se torna, só em alguns casos: entretenimento. Pois entendamos, arte é arte, diversão é diversão, mas diversão pode originar-se na arte. Ivete Sangalo pula, chacoalha, grita, diverte, mas não é arte não é rock, Ivete não amplia fronteiras, só contas bancárias e seus propósitos não vão muito além disso.
Bono descobriu como ganhar muito dinheiro, descobriu que no Brasil quem também sabe ganhar muito dinheiro é o futebol, Roberto e Carlos e Ivete Sangalo, logo Bono cola na Copa, no rei e na Ivete e amplia as fronteiras de sua conta bancária.
Fred Mercury quando chegou ao Brasil em 85 já era e sabia que era soro positivo, transou com meio mundo no Rio de Janeiro mas sabia que o que saia de sua goela quando ele estava no palco era arte, e naquele momento uma arte grudada na angustia. Depois do episódio do camarim aceitou conhecer todos os artistas brasileiros que havia posto para fora e deve ter transado com uma porção deles. Foi assim também entre os portugueses e as índias do Brasil, ainda é assim no litoral sexo-turístico brasileiro, nós damos mesmo.
Mas o Fred não comprometeu sua obra, não chamou ao palco a Fafá de Belém ou a Gal Costa prá cantar Carinhoso, Fred vinha ao Brasil mostrar seu trabalho, sua arte, ganhar seu dinheiro, e gasta-lo com surubas, mas no palco não bajulava, seu trabalho era fechado e integro, era bem visceral.
Gosto de quase tudo do Queen, de quase tudo do U2, de quase tudo do Roberto Carlos. Não gosto de futebol, especialmente Copa do Mundo, e não vejo valor no trabalho da Ivete Sangalo, ela não me diverte, faz um personagem muito bajulador e artificial, tudo muito estudado para agradar, para parecer simples mas ela é uma atriz fraquinha e não engana a todos o tempo todo, e deve servir a outros mesmo que isso que escrevo agora possa parecer e é arrogante.
Fechando, gravar com a Ivete não pulveriza Miss Sarajevo nem Sunday Bloody Sunday
mas pulveriza se cantá-las com a Ivete em cima de um trio elétrico.

Ps.: Para entender o espírito da coisa responda rápido: 1) Pablo Picasso aceitaria costura seu painel Guernica no Gerra e Paz de Portinari? ou 2 ) Tarcila do Amaral aceitaria que Diego Rivera desse umas pinceladas no Abaporu?

2 comentários:

Mary Joe disse...

Olá Vitório... adorei seu texto. Aliás, a parte que mais gostei foi a do Genival Lacerda cantando... tentei imaginar isso, mas era trash demais...

A autora que vc quis citar é a Jane Austen.

Agora, cá entre nós... confesso a vc que tenho um medo danado do que virá dessa dupla, Bonivete. Ou será Ivono... assustador demais, né?

Beijo carinhoso
Mary Joe

Anônimo disse...

Sim, existe uma diferença enorme entre arte e entretenimento, infelizmente nesses tempos pós-modernos ter um pensamento crítico e não ter medo de expressar a sua individualidade faz com que as pessoas te tachem de intolerante e preconceituoso. Hoje acreditá-se na falsa ideia de que todos gostam de tudo; impossível ter sensibilidade e senso crítico e gostar de tudo. Parabéns pelo texto... Rock é vida, liberdade, atrevimento, um sentimento que nunca vai morrer!