PENSANDO

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sábado, 23 de abril de 2011

DAR


O sentido de propriedade sempre existiu dentro do ser humano.
Desde sempre os indivíduos procuraram preservar aquilo que achavam que lhes pertencia. Certamente desde sempre também existem a generosidade e a mesquinharia. Acumular algo além do necessário faz sentido para alguns e é abominado por outros, basta ler Karl Marx para entender claramente como a sociedade lida com o excedente. É revoltante quando se é jovem e se descobre no conteúdo da obra de Marx a tradução do funcionamento do capital, da riqueza e do excedente, porque estamos numa fase de grande sonhos e ilusões, e bem nesta hora em que estamos dispostos a doar e fazer transformações no mundo descobrimos a regras básicas e imutáveis da propriedade.
Mas fora a propriedade material há uma outra propriedade que também se enquadra na mesma regra com um grau muito, mas muito mais elevado de sofisticação.
Trata-se do doar-se na relação com as outras pessoas, vamos entender assim: você tem um capital pessoal composto por seu tempo, sua disponibilidade, por sua capacidade de se comunicar, por suas possibilidades de sentir e avaliar o comportamento dos outros, você tem ainda seus gostos pessoas que se espelhados ao de outras pessoas constituem suas afinidades com o social. É imenso o número de itens a serem relacionados mas o que nos importa agora é entender que dispomos de algo que podemos guardar e ser distantes e solitários ou que podemos dispor com generosidade e compartilhar com pessoas afins.
Alguns usam tal patrimônio com muita honestidade e alguns com muita esperteza.
Com honestidade você conquista boas amizades e as mantém, com esperteza você conquista justamente o patrimônio material, justamente aquele que todos querem, aquele deveria ser obtido pelo esforço de cada um com seu trabalho, aquele que deveria ser obtido apenas no volume necessário para a vida ir sendo levada.
Bem, o atalho é buscar o primeiro tipo de bem usando o segundo tipo de bem, você usa seu charme, seus atributos físicos, seu potencial sexual, seu carrão e atrai alguém que por algum caminho obteve bens que você quer sejam transferidos em parte para você com os menores empenhos e custos possíveis, é jogo rápido, você quer gastar o mínimo com a outra parte para obter algo geralmente muito específico, pode ser: um celular, uma noitada, um par de peitos de silicone, o status de ter saído com alguém que se destaca e depois poder contar histórias mirabolantes sobre.
Diálogo:
- Eu consigo quase tudo que tenho envolvendo os homens, mas conseguiria mais se fosse mais esperta.
- Eu acho que você conseguiria mais se fosse mais sincera, porque conseguiria além de coisas mais valiosas relações mais duráveis, um bom nome na praça ou quero dizer: uma reputação positiva e mesmo que seus relacionamentos não fossem duradouros, seriam intensos e gratificantes para ambos os lados, poderiam terminar com presentes de despedida ao invés de ressentimentos por parte de quem se sentiu usado.
Por fim vejo que ser esperto é apropriado para obtenção de migalhas a curto prazo, coisa para quem tem pressa, coisa para quem sabe que aparência é um patrimônio volátil. Já, mergulhar na alma alheia, sem medo, sem intenções é prá quem sabe que vai colher algo permanente e de longa duração, que colhe porque no mergulho há troca, que entre pessoas integras há generosidade, que o sentido de preço inexiste, que numa dessas até materialmente se sai ganhando.
Entendeu agora...

PS.: Há sempre o risco de se topar com alguém mais esperto que a gente e sair com prejuízos incalculáveis pensando que ia nadar de braçada.

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