PENSANDO

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domingo, 30 de dezembro de 2012

DESCONSTRUINDO UMA COISA BOA.

Cena de "A noite de São Lourenço"
Eu achava que o filme era mais velho, mas era de 1982... em minha memória ele estava arquivado em 1976 ou 77... dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani a película italiana " A noite de São Lourenço" também constava em minha - agora confirmada - equivocadíssima  memória com sendo um filme arrebatador e intocável.
Ontem assisti(mos) o filme depois de prováveis 30 anos e desconstruímos o filme de sua forma dramática original para uma forma cômica de alto nível de gargalhadas.
É claro que não somos mais os mesmos, que o cinema já não é mais o mesmo e que a obra em questão não conseguiu se manter com o passar do tempo.
As aventuras de Pi
Dissecando a frase acima: mudamos nós que perdemos aquela ingenuidade e a comoção diante dos dramas alheios, agora tem que ser tragédia devastadora e profunda prá nos fazer sentir a dor na alma e o nó na garganta. Já vimos muito e já vimos muitas formas de se contar uma boa história e com isso aprendemos que  é preciso um talento fenomenal para sensibilizar um público mais escolado e com  uma porrada de anos de estrada. Mas ainda é possível pois só de ouvir contar algumas passagens do filme em cartaz " As aventuras de Pi " do diretor Ang Lee já vi que tem momentos de cortar até o coração mais duro. Mas fato é que perdemos a ingenuidade cinematográfica e agora um filme tem que ter em primeiro lugar um roteiro impecável que conte uma história muito interessante e que o diretor tenha um domínio completo sobre todo o processo, não há mais lugar para experimentos e experimentadores, a coisa agora é completamente profissional ou só vai poder ser visto em reunião de amigos complacentes. As pequenas tragedias já não comovem mais, mesmo para contar uma desgraça é preciso envolve-la em algum humor, o mundo não tem mais público para coisas que só fazem sofrer, o ingresso tá caro, ir ao cinema dá muita despesa e o filme tem que valer muito a pena, e fazer valer a pena é o que conta, tem que divertir completamente o público, nem criancinha se deixa mais enganar por filminhos de fundo de quintal.
O filme é premiado mas o que para alguns pode parecer estilo de direção para mim parece defeito.
Marilyn Monroe
Jack Lemmon
A técnica de direção melhorou muito, os atores bons se multiplicaram - mas é claro que ninguém aqui vai falar que um Jack Lemmon não foi um ator genial, que a Marilyn  não foi absoluta, isso não mudou, não vai mudar, faz parte da história consolidada e pétrea - o que muda é que novos atores conseguem transmitir mais emoções e de forma mais natural e convincente.
Mas por que desconstruímos o filme e que raio é isso?
Desconstruir e ver uma cena em que o diretor concebeu e dirigiu como drama, fazer uma análise relâmpago baseado em sua bagagem como público tarimbado de cinema e sacar que aquela cena não é drama mas sim um excelente piada. Vamos a um exemplo: O personagem teve seu ônibus velho roubado pelo soldados fascistas  já no finalzinho da guerra na Itália, e segue de longe os soldados ladrões que vão arrastando o ônibus puxando-o ( arrasta ou puxa ? ) com dois cavalos, então esse mesmo personagem encontra outras pessoas no caminho e explica que esta seguindo os ladrões  para tentar recuperar seu único bem - até ai temos um drama - e que já bateram nele várias vezes, já fizeram o diabo com ele - isso também é drama - e que ele tem um cesto com 30 ovos e que planeja comer um por dia para sobreviver por 30 dias e conseguir recuperar o ônibus - mantem-se o drama - mas daí ele cobre o rosto com as mãos e diz: - Há cinco dias que não converso com ninguém... daí uma de nossas amigas mais espirituosas presentes na exibição comenta: - Poxa  para um italiano, ficar 5 dias sem falar com ninguém é mesmo uma trajédia... e não há como não rir da piada em que se transforma toda a cena desde o inicio... com isso todas as declarações anteriores viram apenas escada para a piada final e os diretores não viram isso, acharam que o público ia se comover e acho que se comoveu em 1982, mas 1982 esta muito no passado, num passado onde víamos o filme idolatrando o cinema, hoje julgamos o cinema e com muita cátedra.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A GRAÇA ESTA JUSTAMENTE EM AGUENTAR...

Você tem filho adolescente?
É fácil suportar?
Eu acho que não fui adolescente, pelo menos não me lembro de ter torturado todos por longo período em troca de nada.
A maior graça é torturar por torturar, porque o adolescente trás dentro de si a certeza de que não vai conseguir aquilo que quer, a não ser que o objeto do desejo dele seja a tortura coletiva, ai tá conseguido.
No geral, do alto de suas volubilidades, eles fazem uma escolha que se torna fundamental em suas vidas, aquilo que foi escolhido precisa ser conseguido a custo de tortura extrema.
Por mais banal que seja o propósito, por mais pequena que seja a coisa eles colocam sempre a mesma carga de energia no trabalho de conquista, e cavam o buraco sempre do lado errado. Incrível como falta senso de oportunidade, como conseguem escolher os piores momentos para bater na tecla.
Adultos alvos, levados ao desespero pela voz taquara rachada, pensam, erradamente, que o melhor caminho seria ceder e terminar logo com o incômodo, mas ai a contra tortura perde a graça e a graça esta justamente em aguentar para depois devolver a mesma carga, se possível potencializada de tortura.
Argumentos sem base alguma, pensamento ilógicos, erros de diagnóstico, histerismo, portas arremessadas com todas as forças contra seus batentes e desaforos, muitos desaforos... isso basicamente sintetiza um adolescente em fase de desejo ardente.
Risos nervosos, horas perdias, lágrimas, desabafos rancorosos no meu querido diário e espinhas brotando por todos os poros do corpo... uma fase perdida, um erro de projeto do criador, um abismo de nada... são adoráveis quando dormem até as duas da tarde ou quando estão na casa dos amigos...
Mas o criador deve ter tido um propósito quando criou a adolescencia e esse propósito só pode ter sido: competir com o capeta.

BALANÇO DE FINAL DE ANO...

É não mais que um meio de aconchegar a culpa por ter desperdiçado o tempo.
Fala a verdade, você faz promessas para você mesmo? Não as cumpre? Depois fica se enganando?
Claro que sim... todo mundo faz assim, bem poucas pessoas conseguem fazer mudanças significativas em suas vidas de forma marcante, precisas e definitivas.
Quanta gente já se mudou com tudo que tinha prá nunca mais voltar e um ano depois estava de volta com a mesma cara de pau e rotina mórbida, eu ia escrever medíocre.
Quantas vezes jurei não perder mais a cabeça até perder a cabeça alguns  momentos depois... é assim, somos os defeitos que somos e mudar é contra a natureza.
Melhor não fazer aquele balanço de  final de ano seguido de promessas para o ano que vem... melhor não ter consciência nem cobrar muito de você mesmo.
Pense mais a longo prazo, se em 20 anos você conseguir para de fumar já tá bom demais, se em 3 anos você esquecer aquele cafajeste já é um puta lucro... melhor conseguir no longuíssimo prazo que ter que todo ano cair no ridículo de se  auto enganar com novas promessas...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A HARD DAY'S NIGHT

Uma coisa sempre esta em minha cabeça: é muito bom ter um final de semana ou alguns dias de folga depois de uma jornada de trabalho duro, em condições difíceis, onde você tem que buscar forças no fundo da alma para chegar ao final de cada dia.
No Brasil Colônia os nobres tinham a pele branquinha, branquinha... e era importante ser branca, sinal de que não precisavam se expor ao sol, que não precisavam trabalhar. E trabalhar ou se esforçar era motivo de vergonha, só os plebeus trabalhavam e ser plebeu era vergonhoso.
Assim o final de semana na nobreza lusitana era conseguido com o suor, o cansaço de terceiros e de escravos... hoje vemos Portugal e Espanha afundados em crise social e econômica mesmo tendo eles levado para a terrinha todas as riquezas da América. As pedras que calçam as ruas de Paraty-RJ., vieram de Portugal como lastro dos navios que trocavam o lastro por ouro e outras riquezas. Nada mais justo que hoje sofram um pouquinho já que em 500 anos não conseguiram, com o sangue que derramaram e com o ouro e prata que saquearam, fazer um pé de meia. Danem-se.
Quando estou em meus dias de plebeu, muito calor como hoje, muito trabalho como sempre e me falta o ânimo prá chegar ao final do dia penso no neo-zelandês Edmund Hillary e o Sherpa Tenzing Norgay que em Maio de 1953 conseguiram o feito de chegar ao topo do Monte Everest. Muitos haviam tentado, mas os dois foram os primeiros a perseverar e fazer as coisas certas. Acho que quando chegaram ao topo tomaram uma deliciosa cerveja gelada para comemorar... claro que não. Mas pode estar certo que no primeiro Sábado seguinte eles comemoraram o feito com alguma bebida. E ai sim o sabor é outro, é o sabor da recompensa por uma uma dura jornada de trabalho.

Ringo Star falava umas frases engraçadas por serem sempre muito mal construídas, umas delas  foi : Uma noite de um dia pesado, mas ele queria traduzir exatamente isso, uma noite de descanso depois de um dia pesado de trabalho... virou nome de música.

A Hard Day's Night

It's been a hard day's night
And I've been workin' like a dog
It's been a hard day's night
I should be sleepin' like a log

But when I get home to you
I find the things that you do
You make me feel alright

You know I work all day
To get your money to buy your things
And it's worth it just to hear you say
You're gonna give me everything

So why on earth should I moan?
'Cause when I get you alone
You know I feel okay

When I'm home
Everything seems to be right
When I'm home
Feeling you holding me tight
Tight, yeah

It's been a hard day's night
And I've been workin' like a dog
It's been a hard day's night
I should be sleepin' like a log

But when I get home to you
I find the things that you do
You make me feel alright

So why on earth should I moan?
'Cause when I get you alone
You know I feel okay

When I'm home
Everything seems to be right
When I'm home
Feeling you holding me tight
Tight, yeah

It's been a hard day's night
And I've been workin' like a dog
It's been a hard day's night
I should be sleepin' like a log

But when I get home to you
I find the things that you do
You make me feel alright

(2x)
You know I feel alright

Uma Noite De Um Dia Difícil

Está sendo uma noite de um dia difícil
E eu estive trabalhando como um cachorro.
Está sendo uma noite de um dia difícil,
Eu deveria estar dormindo como um tronco,

Mas quando eu chegar em casa pra você,
e eu encontro as coisas que você faz
Isso me fará sentir tão bem.

Sabe, eu trabalho o dia todo
para ganhar dinheiro pra você para comprar suas coisas
E vale a pena só de ouvir
você dizer você irá me dar de tudo

Então porque diabos eu deveria me lamentar?
Porque quando eu te pego sozinha
Você sabe que eu me sinto bem

Quando estou em casa,
tudo parece estar certo.
Quando estou em casa,
sentindo você me abraçar forte,
forte, yeah.

Está sendo uma noite de um dia difícil
e eu estive trabalhando como um cachorro
Está sendo uma noite de um dia difícil,
eu deveria estar dormindo como uma pedra

Mas quando eu chegar em casa pra você,
eu encontro as coisas que você faz
Isso me fará sentir tão bem

Então por que diabos eu deveria lamentar?
Porque quando eu te pego sozinha
Você sabe que me sinto bem

Quando estou em casa,
Tudo parece estar certo.
Quando estou em casa,
Sentindo você me abraçar forte
Forte,yeah

Está sendo uma noite de um dia difícil
E eu estive trabalhando como um cachorro.
Está sendo uma noite de um dia difícil,
Eu deveria estar dormindo como um tronco,

Mas quando eu chegar em casa pra você,
E eu encontro as coisas que você faz
Isso me fará sentir tão bem.

(2x)
Você vê que eu estou tao bem.


sábado, 22 de dezembro de 2012

THE NU PROJECT

Um projeto inciado em 2005, sem nenhuma objetividade maior a não ser o de mostrar pessoas nuas em seus ambientes normais, sem glamour, maquiagem, exigência de profissionalismo, erotismo ou qualquer outra coisa que se possa imaginar.
Não espere ver aquele tipo de beleza do calendário da Pirelli, nem a garota da propaganda de cerveja.
Você vai descobrir gente normal, mas completamente sem roupa, em seus ambientes no máximo fazendo um pose incomum.
O link é: http://www.thenuproject.com/
Aceitam voluntários.

NASCEU VELHO

A juventude nasce nos velhos.
Os jovens passam por ela, mas não sabem que por ela estão passando.
Só quem precisa dela é que sabe de sua existência.
Os jovens ainda estão no equivoco de que há tempo para tudo e o tempo é uma linguiça com um gomo após o outro, longa linguiça, interminável linguiça, farta e generosa; já os velhos batem de cara com a formidável realidade de que o tempo é rápido, rápido e traiçoeiro e que é preciso reconstruir a juventude dentro de si para prolongar a ilusão de quê ainda vai dar tempo, de quê ainda vai ser possível.
Nascemos e somos levados, com essa sem preocupação, chegamos ao momento em que num mágico despertar sentimos a perna cansada e pesada... tarde demais.
Falidos, fudidos, com a grana contada e sem encantos o que sobra é pensar em como reconstruir a juventude. Vivi e conheci muita gente que começou por simplificar. Viver com o mínimo e com precisão.
Minimo de tudo, precisão nas decisões, não há tempo nem oportunidades para errar, tem que ser de primeira. Atalhos não existem, retornar já não é uma boa ideia.
Aquilo que fazia parte do plano inicial e não foi conseguido é a primeira coisa a ser descartada.
Agora é começar do zero, nada de novas tentativas para fazer aquilo que nunca foi conseguido, desapegar-se das ideias enraizadas, dos gostos, dos amores e das paixões. Tentar de novo não o velho mas algo inédito.
A energia é pouca, o tempo curto - embora longo - e a juventude é apenas uma ilusão que foi criada para entorpecer do medo de descobrir que fracassamos.
Retumbante fracasso. Todos fracassamos, não há quem chegue à maturidade sem um viés de fracasso.
Ninguém acerta tudo, ninguém consegue tapar todas as prechas e prever todas as invertidas que a vida vai armar.
Infinitas possibilidades sempre nos esperam... coisas impossíveis acontecem, as voltas que a vida dá não são previsíveis, e a cada dia mais surpresos ficamos com o quão infinitas são as possibilidades, se é que se possa pensar em quão.
Não seja jovem na juventude, isso todo mundo é.
Seja jovem depois da juventude.


COMO VAI VOCÊ?

Vou bem... quero dizer... estou meio enterrado em coisas... assim, acho que deixei juntar muitas coisas e agora não sei quanto trabalho preciso para resolver isso.
Não são coisas para concertar, ou contas para pagar, ou obrigações com os clientes, são coisas inúteis empilhadas por todas as partes, que eu pasmo, outra hora tentei classificar.
Primeira classificação: Dê onde veio isto?... 90% das origens me fogem à memória... por que teria eu buscado, recebido ou aceito tantas coisas.
Segunda classificação: Para quê serve isto?... 95% não serve para mais nada, dado o estado de empoeiramento e abandono em que se encontram. Para quê guardei tudo isso, a impressão que tenho é que eu acordei de um sono e enquanto dormia andei coletando coisas e guardando em todos os cantos possíveis.
Terceira classificação: Como se livrar agora? 99% de não sei como fazer estas coisas sumirem de meu território.
Vamos comparar. Se você mora em um bom apartamento então estamos falando de 140 metros quadrados, se você mora numa casa muito boa estamos falando de 500 metros quadrados... em meu caso estamos falando de um território de 5000 metros quadrados que precisam de soluções. Exagero, não é assim, não são os 5000 metros que estão ocupados, na verdade estou falando de uma pequena parte, digamos assim: uns 100 metros... ou 2 semanas trabalhando como um doido levando o incinerável para uma fogueira em local apropriado, algo como queimar umas 60 Santas Joanas Darc's, imagine eu carregando Joanas nos ombros, lançando-as à fogueira e voltando rapidinho para pegar outra, depois pego a esmerilhadeira com disco de corte e vou cortando tudo o que for de ferro como se eu fosse o autor do crime da mala, e picando vou em pedacinhos a secadora que não liga mais, o aquecedor que enferrujou, as janelas apodrecidas, as ferramentas de jardim gastas e cortando e picando até completar pelo menos uma dúzia de crimes da mala.
Ao final de tanto serviço um prêmio, uma cerveja e uma lata vazia par ser amassada e destinada...
UMA REFLEXÃO E UM TOMBO.
Cada mísero objeto sem destino empoeirado ou entrelaçado nas tramas de uma era são um gritante apelo a que pares de errar. Acerte na dose. Consegui demais, não dei conta de ter tanto, fui ganancioso e por outro lado um imbecil. Coisas materiais desperdiçadas são o equivalente a tempo desperdiçado trabalhando para consegui-las. Tá certo que algumas encrencam e se perdem, mas a maioria foi trocada por uma nova versão ou comprada em proporção acima do necessário e ficaram a espera de serem usadas, coisa que nunca ira acontecer. Refletir em quanto isso me custou me dará um tombo, quanto gastei para obter, trazer até aqui neste local tão distante e depois abandona-las para serem devoradas pela natureza. Como posso ser tão imbecil.
Vamos lembrar o que disse Nelson Rodrigues - estará na moda neste blog por algum tempo - "Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. ( O óbvio ululante ).
Assim para tudo... ter pouco e ter domínio sobre o que se possui. Assim, não naufrague em seus próprios delírios, em sua imbecilidade em acumular... consuma a vida sentado numa cadeira de praia vendo as nuvens se tornarem e não quebrando as costas prá conseguir aquilo que nunca te fará diferença.

LEIA E REVOLTE-SE.

Vamos sofrer um pouco agora, como convém a todos que adoram amar e odiar, sem saber que estão, em verdade, tratando de matéria única.
Hoje li a frase: A companhia de um paulista é a pior forma de solidão. Escrito por Nelson Rodrigues em A cabra vadia.
No contexto da obra é uma coisa, fora dele é revoltante.
...mas será que não é verdade? Já me falaram coisas muito parecidas. Os mineiros sempre reclamam da frieza dos paulistas, mas se você for indo mais ao Sul do continente a temperatura vai baixando cada vez mais... em Curitiba não existem vizinhos, ... em Santa Catarina somos mulatos, ... no Rio Grande do Sul somos estrangeiros, ... na Argentina somos uns símios... chega de divagações, voltemos.
Eu afirmo que: 1° quando fiz faculdade as melhores companhias eram dos de fora, não importa se do interior do estado ou de outros estados ou de outros países, os daqui eram sempre comprometidos com a hora de voltar para casa, os de fora não tinham hora para nada, eram sonhadores, duros mas se resolviam sempre, poéticos, abertos a tudo e sempre prontos. 2° Em São Paulo só vive só e só sente solidão quem não se identificou ainda na vida com nenhum grupo ou tribo. Se você sabe qual é o seu barato, saiba que ele existe em São Paulo, tem que procurar mas existe. Tá certo que é uma mistureba e nem sempre é composto só por paulista ou paulistanos, mas existe e é sempre muito receptivo.
Assim, revolta a qualquer paulista ler ( e eu não conhecia essa frase até hoje ) que paulista é a pior forma de solidão. Nelson tratava da alma e das mais insondáveis profundezas dela. Com isso deixou no ar a falta de alma dos paulista, o que não é verdade de forma alguma que se aborde.
Acho que em  cidade nenhuma do mundo Nelson Rodrigues foi mais encenado, lido e aplaudido que em São Paulo. São Paulo fez justiça a esse gênio da observação do comportamento privado, das promiscuidades intimas e das simulações humanas.
Será que somos tão vazios assim? Causamos sono? Desejo de ir embora? Arrepia saber que se vai ter que ficar ao lado de um  paulista?
Adorei a frase, odiei a frase, fui rodriguiano na interpretação dela.
Só um gênio prá escrever algo assim.

HUMANO ÉS... ACHO QUE ÉS.

Humano?
Sou, em muitos aspectos.
Um deles é o que dá conta de ser atencioso com as pessoas.
Já conheci pessoas de arrepiar, pessoas que ignoravam solenemente outras, já falei sobre isso aqui.
Mas é tema recorrente, na medida em que a cada dia que vivo percebo atitudes de completa indiferença.
Não falo daquela indiferença dos que estão distantes e que poderia dar um telefonema para saber como um outro esta, ou passar para tomar uma cafezinho uma vez ou outra, refiro-me à indiferença na cara, presencial, aquela que demonstra um desprezo total, um não estou nem ai sem fundo.
É comum no comercio, você entra na loja e não é atendido, ninguém liga, quando liga não se envolve no assunto e simula, descarta, olhar distante, ideia em outro lugar, pressa em se livrar e voltar a borbulhar no nada absoluto de uma rotina chata para cacete.
Mas entre amigos é mais cruel, é o retorno que não vem, é desimportar-se de algo que o outro achou que era importante e seria considerado. É não lembrar do compromisso, é chegar na hora, e não chegar de mãos abanando e perguntar em que pode ajudar... ops, as vezes sou desumano, ops... sou sim.
Mas não é sistemático, no geral sou atencioso, corro atrás, busco saber, responder, comparecer e ajudar.
Mas sou malandro também, aprendi a não contar com ninguém... em geral organizo um festa para uma pessoa... eu. Mas com módulos expansivos para acomodar mais gente, assim quem for chegando vai se acomodando. Sei de uma festa de aniversário onde nenhum convidado veio... parece combinado... não, os anfitriões é que se meteram com as pessoas erradas.
Humanidade não se cobra e não se conquista. Humanidade vem depois das escolhas que fazemos. Para algumas coisas é bom estar com desumanos e para a maioria os humanos são muito melhores.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A CONTRADIÇÃO

Houve um tempo em que eu cobraria por uma contradição.
Achava que não era digno de ninguém ser de duas maneiras ao mesmo tempo, abraçar coisas diferentes, ter atitudes não fundamentadas.
Depois descobri que a maioria das pessoas está no mundo mais para se divertir que para construir algo.
Quê algo? ...uma reputação talvez. Ou algo assim como previsibilidade de atitudes.
Quê atitudes? ... sei lá... atitudes pensadas, eu achava que as atitudes eram todas pensadas, que cada palavra dita tinha uma propósito... relaxa, não é assim, nunca foi assim. As coisas vem as turbilhões, as atitudes vem do nada e nesse mesmo nada se extinguem.
Reconheço que tenho uma queda para pessoas sofredoras e que com isso vivem em zigue-zague, e que pessoas certinhas e bem resolvidas me dão nos nervos. E isso foi uma contradição que vivi por muitos e gloriosos tempos. Gostava dos exóticos, mas buscava neles um qüerência ( impossível escrever esta palavra sem tremas ). Ora, o básico do complexo é justamente a contradição, o desencontro de ideias e sentimentos, a fé contraditória, os erros de visão e comportamento.
Hoje aceito a todos como são, mas me resguardo de não entrar na dança, vou ao baile mas não danço.
Careta, procuro não escorregar, ainda acho indignas algumas contradições, mas tenho que reconhecer que num mundo tão sem regras sociais ficou difícil descobrir o que vale e o que não vale mais.

A FÉ.

 Nunca acreditei.
Buscando fundo na memória, não encontro nenhum momento em minha vida em que tenha acreditado em algo sobrenatural, nunca tive medo e nunca tive fé.
Achava divertido sim as noites em que passávamos ouvindo a Tia Benta - que raramente nos visitava, mas que quando vinha era uma alegria só, um verdadeiro frisson - contar as histórias mal assombradas. Ela contava causos da juventude, de uma época que nos parecia muito distante, de um tempo antigo vivido só por pessoas muito velhas, de uma falta de tudo, de um início de tudo, uma época em que as coisas verdadeiramente sobrenaturais aconteciam. E nós, eu com uns 6 anos no máximo, eramos já de um outro tempo, de um tempo em que algumas coisas já não existiam mais, por isso eu não acreditava e não temia, apenas sentia aquela coisa do suspense, da angústia que cria o compasso de uma história bem contada, e a Tia Benta sabia fazer isso. Ela tinha um tom de voz manso, dava o tom correto, sabia guardar o desfecho para o momento certo. Fora isso não sabia e não fazia mais nada na vida.
Depois alguns outros fatos, geralmente doenças na família, me fazia ter a certeza de que não havia nada para se acreditar. Num tempo, agora meu tempo, em que a medicina engatinhava, e em que eramos pobres o suficiente para nem sonhar em ir a um médico restava o curandeirismo. E esse, gloriosamente falhava, sem exceção falhava, nada de bom acontecia, as coisas nunca se resolviam por essa via e com isso eu tinha provas e mais provas de que a fé de minha família era um enorme perda de tempo.
Vi bestificado algumas atitudes e mudanças chocantes de crenças e vi como era volátil a fé familiar. Iam atrás de qualquer novidade, aceitavam qualquer possibilidade, uma profunda fé em coisa alguma, nada nunca fundamentado, justificativas que nem a uma criança como eu convenciam.
Com isso liquidou-se para sempre em mim a ferramenta fé, fé cega, mergulho em confiança.
Livrei-me portanto das contradições que mordem os calcanhares de todos os que acreditam.

domingo, 9 de dezembro de 2012

VIRGINIA

Virginia Woolf nasceu em Janeiro e 1882. Matou-se mui poeticamente em Março de 1941.
O filme " As Horas" mostra os sentimentos por ela incorridos entre uma data e outra, mas ler um livro dela mostra que havia uma turbina acelerando a mente, a percepção e a imaginação dessa mulher numa velocidade que só com muito custo, mas muito mesmo é possível apreciar.
Leio Mrs Dolloway e é alucinante a velocidade com que, em cada frase, entram tantas descrições de sentimentos, impressões, fatos, detalhes, ações e acontecimentos que não consigo traduzir. É preciso parar o tempo todo e reler, reler, refletir  e imaginar. O panorama é amplo demais para uma cabecinha normal(?) como a minha. Tudo irá se passar em um único dia enquanto se prepara um festa. Mas ela moê e remoê tantas coisas que certamente, mesmo neste momento da cultura humana, onde somos capazes de processar milhares de informações ao mesmo tempo, onde um comercial de tv de 20 segundos tem 50 tomadas e mais 150 palavras, sons e músicas e ainda assim parece monótono, ela consegue permanecer mais rápida e explosiva; só que com uma profundidade e capacidade de traduzir um fato ou sentimento que um diretor de comercial, penso, nunca vai conseguir.
Com essa aparência tranquila ela tinha na verdade um turbilhão de sentimentos a atormenta-la.
O que para ela era uma angústia, foi na verdade o conteúdo que transbordou magnificamente para suas escritas. É aparentemente uma confusão de pensamentos, algo que interrompe o tempo todo o curso da narrativa, para um leitor comum é um saco, a coisa não anda e não se desenvolve. Mas em cada interrupção por uma virgula ou parenteses pode surgir uma ação ou sentimento tão bem definidos que faz você parar de ler e ficar pensando por muito tempo sobre aquilo. Com tão poucas palavras algo tão bem resolvido. Mérito também para o tradutor Mario Quintana.
Uma alma muito mais completa que as demais, só que com muitos fragmentos. São tantos fragmentos que nem ela mesma conseguiu junta-los todos e se para nós ofereceu paginas deliciosas, plenas de sentimentos possíveis de serem percebidos através de sua visão por outro para ela foi uma ida e volta permanente ao centro da loucura. Colados os fragmentos em ordem aceitável ela seria talvez a plena felicidade. Ela deu-se em sacrifício para quem a lesse pudesse descobrir coisas que humanos normais passam batidos, esbarrando nelas sem ver.
Um dia de vida tem muito mais conteúdo em algumas pessoas que infinitas vidas em outras. Ela é absolutamente clara nisso em cada linha que escreveu.

NÃO SE DEVE BRINCAR COM JACINTA

Não sei se você soube, mas uma enfermeira de nome Jacinta Saldanha matou-se depois de um incidente absolutamente sem importância para o resto do mundo menos para ela.
Ela foi quem atendeu ao telefonema originário de uma rádio australiana que por meio de um trote perguntava por informações sobre o estado de saúde da Duquesa de Cambridge Kate Middleton internado onde Jacinta trabalhava.
Não foi realmente importante, ela apenas atendeu ao telefone porque não havia telefonista de plantão naquele horário e passou a ligação para uma outra colega que deu as informações achando que falava diretamente com a rainha da Inglaterra e com o sogro da Duquesa. Ninguém advertiu ninguém, ninguém prestou queixa de nada, apenas que o fato repercutiu mundialmente apenas pelo peso da figura real envolvida. Kate nora de Diana vai seguir com o peso nos ombros que sacrificou a Lady Di por representar uma pessoa rara na face da terra, a da moça que vive o conto de fadas.
Mas Jacinta, sabe-se lá porque colocou um pessoalidade no caso e torturou-se. Viu-se à beira do abismo e hiper dimensionou os fatos.
Algo me diz que uma certa Jacinta Saldanha deve ser portuguesa e ou descendente de portugueses e como é mais que sabido portugueses sofrem e levam as coisas muito a sério por muito tempo.
Escrevo aqui apostando que falo de uma portuguesa que se levava a sério e não aceitava brincadeiras.
Só sendo boa profissional e pessoa séria para atender a pessoa mais em foco na mira mundana.
Maior o peso do erro, que não cometeu, e maior a dor de alma.
Caminhou Jacinta horas e horas numa escuridão total, transtornada por algo que só ela viu, e sofreu tanto que achou melhor parar de sofrer da forma mais radical possível.
Serve para as pessoas que levam as coisas da vida a sério demais. Séria é a vida, não as coisas da vida.
Vivemos um milagre inexplicável, a vida,  e nela uma série de pequenas chateações nos afrontam a cada esquina a cada momento. Deixar de perceber que a vida é o mais importante e não esses pequenos infortúnios é um Erro de Jacinta.
Jacinta, com todo o meu respeito por alguém que sofreu só e profundamente algo que só ela compreendeu assim, cometeu um erro banal de por fim a um milagre apenas porque não conseguiu distinguir alho de bugalho.



O PRESENTE SECRETO

Não há prazer maior em nossa vida intima que poder guardar por longos anos um segredo importante.
Receber um pacote bem feito que nunca poderá ser aberto.
Guardar um "algo" que mesmo nós não temos a noção perfeita de suas proporções e profundidades.
Confiar e ser de confiança de alguém. Enfim: cumplicidade.
Receber um beijo proibido e não poder sair pulando de alegria, apenas poder dar uM breve sorriso, explodir por dentro e ter que nada demontrar.
É um paraíso secreto, um universo paralelo para onde podemos ir as vezes e lá ficar sentado quietinho debaixo de uma imensa árvore, vendo o nada acontecer e o tempo não passar.
Um privilégio de poucoS.
Mas é um "algo" que nos faz por dentro, ensina a não ostentar, mostra os verdadeiros caminhos e prazeres da vida.
E vamos levando o mais longe possível, por quanto tempo for possível, e nos refugiando nele sempre que necessário.
É o viver plenamente, é ter uma ferramenta que ninguém tem, é rir dos tolos, é desdenhar sem ser pedante.
É o extremo prazer de se sentir acima, com mais, não dependente, controlado e forte.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

COM n LETRAS, A PALAVRA É:

Com quais palavras você formaria a frase que define seu atual estado de espírito?
Uma vez eu disse que ainda não existiam as palavras adequadas.
Na verdade o que não existia era a competência para saber o que devia ser definido nem o conhecimento das palavras existentes para formular a frase.
Mas hoje, quais seriam as palavras?
Acho que hoje ainda não existe, em mim, a competência para identificar os sentimentos sobre os quais estou falando.
Passou o tempo, muito tempo, mas se por um lado as brechas foram aumentando entre as peças que poderiam fazer algum sentido, por outro a crença de que não é preciso se auto definir ficou bastante forte.
Você pensa muito? Pensa muito sobre você? Tenta se descobrir e se traduzir em palavras?
Pois eu descobri que isso já não é mais importante. Não é mesmo.
A coisa é mais simples, nada de bipolaridades, depressões, ansiedades...
Pegue uma estrada de terra e nela você vai encontrar, em algum ponto, uma pessoa simples.
Pare e converse, nenhum assunto especificamente, fale sobre coisa alguma.
Verá que o estado de espirito nos lugares onde existem poucas pessoas e as poucas que existem são simples não varia de forma perceptível.
Agora, ande numa rua, encontre uma pessoa e converse sobre qualquer assunto e o estado de espirito vai dar grandes saltos.
É assim, nos pequenos universos, vazios de angustias, sonhos desproporcionados e caprichos as vidas fluem de forma automaticamente traduzível em palavras simples, ou sem palavras mesmo.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

FAZER SALA E ACOMPANHAR AO PORTÃO

Quando penso no tempo que perdi na vida fazendo coisas que não gostava e/ou coisas que deram em nada só não entro em depressão porque já sou uma pessoa em depressão.
De qualquer maneira aquela coisa que eu tinha na cabeça que me dizia que a vida era uma linha reta, que tudo que começava terminava, que tudo que fosse aberto seria, na hora certa, fechado, que um disco deveria ser ouvido da primeira à última música, que um livro nunca poderia ser abandonado depois de iniciada a leitura e que um filme tinha que ser assistido em silêncio desde o rugido do leão da Metro até a ultima letrinha que subisse na tela. Depois, mas muito depois, e bota depois nisso eu descobri que a vida é mais semelhante a cena de quem chega a noite na cozinha de uma casa fechada a muito tempo e ao acender a luz vê uma "manada" de baratas correndo em zigue-zague para todos os lados. A vida é um caos permanente e quanto mais se vive mais caótica fica e só não nos afeta pela absurda mania dos humanos de se adaptar a tudo.
Mas eu achava que cada minuto deveria ser útil, cada coisa tinha que estar em seu lugar, tudo tinha que ser feito conforme a regra, a logica e a ética.
Fui adestrado assim por meus pais.
Então quando chegava visita em casa, mesmo eu sendo criança e a visita adulta era inimaginável não fazer sala e ao final da visita não acompanha-la ao portão e ficar vendo a visita ir descendo a rua até dobrar a esquina, só então a vida podia voltar à rotina normal, e isso algumas vezes levava muito tempo. Tínhamos visitas que demoravam muito a ir embora. Mas a sensação de fazer a coisa completa era conseguida ao custo de uma brutal perda de tempo e de infância,  eu não podia e não devia participar dos assuntos e tudo o que eu dizia ninguém ouvia, mas as vezes meu pai ouvia e não aprovava nada as colocações pueris e babacas frequentes que eu oferecia ao diálogo, sei hoje, mais pueril e babaca que o meu.
Tínhamos umas pragas que quando apontavam no portão faziam o sangue gelar. Chegavam, se instalavam e as vezes "para nossa alegria" cochilavam e roncavam no sofá... tínhamos um cacareco ao qual chamávamos de televisão e isso atraia muitos chatos, numa época em que poucos tinham televisão. Acho que chegamos a ser praticamente os únicos a ter uma tv na rua inteira - praticamente - isso porque a nossa sala a noite ( minúscula sala ) ficava lotada de televizinhos - figura extinta da sociedade atualmente.
Enquanto a visita estava em casa não se podia fazer nada, não se comia nada - até porque a despensa em casa sempre foi muito pobre - e não se podia dormir. Mas tinha um tal de Afonso que vinha todo de linho branco, e numa bicicleta enorme e a pretexto de assistir tv tirava longos roncos em nosso sofá, que aliás era horrível, duro, de plástico... uma tortura. Afonso só acordava quando minha mãe jogava panelas no chão da cozinha. Quanto sono perdido, quanta falta de inciativa de jogar um balde de água na cabeça do infeliz... mas tinha um primo de meu pai que vinha e tinha assunto para um dia inteiro e o assunto era a coisa mais chata do mundo e um irmão desse mesmo primo que era mais chato ainda e só falava de programas de rádio que tocavam música caipira para onde ele escrevia cartas fazendo pedidos e desafios, não eram más pessoas, eram apenas chatos para o meu universo de expectativas infantis. Nunca vinham crianças com quem eu pudesse brincar, só adultos com assuntos intermináveis de adultos. Consumi grande tempo de minha infância esperando algo, com isso acostumei-me a esperar por coisas que nunca chegavam e isso deprime e enfraquece a alma. Não sei também porque permanecia na sala, não lembro de uma ordem neste sentido, apenas sei que tinha um peso enorme para alguém (?) a minha presença imóvel e calada fazendo sala.
A grande alegria do dia era quando a visita anunciava que ia embora, nossa, que festa interior eu fazia, mas não demonstrava.
Hoje eu educada e friamente pediria para as pessoas incômodas terminarem a visita e me liberarem para outros afazeres mais úteis para mim, ou... pasmem... acho que mataria as visitas chatas e enterraria no fundo do quintal. Como não pensei nisso antes...

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

UMA COISA PENICANDO A MINHA PAZ

Em caso de dúvida não faça nada.
Deixe o tempo mostrar que suas dúvidas equivalem a nada.
Ele coloca tudo no lugar, isso se algo estiver realmente fora do lugar.
Não que a gente não possa ter lá alguma conclusão sobre algo que não dominamos,
mas não conhecendo alguns fatos, tendo certeza da verdade, fica difícil mesmo saber
se é melhor agir ou esperar... ou esquecer... ou apenas desprezar e seguir em frente.

Hoje bateu uma enorme dúvida sobre alguém a quem em alguns momentos admirei.
Fiz umas ponderações e cheguei à conclusão que nunca soube o suficiente para
afirmar nada sobre a pessoa.
Sobre as coisas pontuais a imagem sempre foi de neutra prá boa.
Mas no geral fica sempre uma dúvida... parece que tem gato na tuba.
Essa desconfiança é que é a questão... tem um demoniozinho te cutucando e dizendo:
- Fica esperto, fica esperto.
Com isso não dá pra relaxar.
Se tem uma coisinha te espetando o bom mesmo é procurar no tecido a maldita pontinha.
É preciso bons olhos para ver, é achar uma estrela no infinito e as vezes nem há tempo,
nem vontade forte mesmo prá isso.
Então tem um outro não-demoniozinho que diz:
- Esquece, esquece.
Melhor esquecer!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

GONZAGÃO

Aeroporto do Galeão - depois se tornaria Aeroporto Tom Jobim - tarde de terça ou quinta feira.
Um sol forte entra pela parede envidraçada da enorme sala onde eu esparramado numa poltrona aguardo a chamada de um voo para São Paulo. era sempre assim, naquele tempo eram raros os voos diretos de Vitória-ES para São Paulo, então para não ficar em Vitória que era quente demais eu ia adiantando a viagem e ficava morgando no Rio de Janeiro.
Sentado atrás de mim um senhor conversava calmamente. As poltronas tinham um único encosto para dois acentos e o senhor também estava bastante estirado na poltrona dele de modos que a gente estava cabeça com cabeça a uns míseros centímetros um do outro. Mas a vós era conhecida. Daí bate aquela agonia, de quem é essa vós? E pensa, e pensa e a resposta não vem. Era óbvia demais e não vinha. Só tinha uma jeito: levantar dar uma volta e ver o rosto do sujeito. Fiz isso.
Putz, era nada menos que Luiz Gonzaga, o Gonzagão, o Rei do Baião, o co-autor de Asa Branca, o homem que "enfrentava as balas" em Exu prá pazcificar a cidade da eterna luta entre as famílias: Alencar, Sampaio e Saraiva, onde uma vingava a morte de um membro da família matando um membro da outra por muitos anos.
Ele certamente estava acostumado a ser observado com curiosidade e eu não seria nada mais que apenas mais um ninguém a observa-lo. Mas é forte a emoção, era realmente como ver um rei, um papa, um Beatle de perto, lembro da roupa azul que ele usava e lembro tão claramente da vós que mesmo o tempo, uns 30 e tantos anos não empalidam nada de minha memória.
Ouça Luiz Gonzaga, aproveite que ele esta na moda e aprofunde seu conhecimento sobre as músicas dele, e sobre a dramática história de vida dele.
Se o mundo não acabar no dia 12 de Dezembro no dia 13 vamos comemorar os 100 anos de nascimento desse cara muito legal.

Digna de nota a belíssima  ilustração acima de Willian Medeiros.


Asa Branca
Luíz Gonzaga

Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão

Quando o verde dos teus "óio"
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração



sábado, 20 de outubro de 2012

HI HI HI HI HI HI HI HI HI

Acabou muito bem.
Salvou a pele de todo mundo dos dois lados.
Do nosso, salvou aqueles atores que sempre foram medianos e que de tanto tentar acabaram fazendo bem feito. Do deles, salvou e guardou para a história aquilo que trazemos, nestes tempos vividos, de ruim e maldoso dentro de nós. Um dia quem pesquisar saberá com bastante proximidade como era o povo que vivia nessa parte do mundo e neste momento da trajetória.
Ninguém é bom nem ninguém é ruim, somos confusos, não entendemos quais são os valores e pendemos para todos os lados.
Incrível é ver como o autor conseguiu perceber isso e se manter nessa convicção durante toda a história que embora dinâmica, muito dinâmica, enrolava para caramba. Ele realmente tem muito valor, um grande escritor.
Não sei ao certo ainda, mas algo inédito aconteceu com essa novela e foi bom.
Cada um escolhe seus favoritos, mas todos concordam com algo, mas o quê é esse algo?
Repito, não sei, mas esvaziou ruas, reuniu pessoas e provocou sensações novas.

Um primor a cena do rizoto de frango servido pela Carminha, ali esta contido uma angustia e uma verdade que serão necessários pilhas de livros e ensaios para esclarecer completamente. Ponto para todos os atores presentes na cena, um jóia rara na história da ficção.
Um segundo primor a cena da Pepeta queimando, algo que só será compreendido plenamente daqui a algumas centenas de anos. A amante que vem e salva o amado, com mutua coragem, num mergulho profundo demais para ser aceito e entendido de cara. outra jóia rara na história da ficção que de cômica não teve absolutamente nada, simplesmente uma cena maravilhosa e extremamente corajosa. Outros dois atores que vieram para brilhar, que entenderam a cena e fizeram ela acontecer como uma correção absoluta.

Salvou-se o gênero telenovela.
Contribuíram para fazer avançar a alma humana.
Mas não fiquem felizes... agora vem a Glória Perez e fode tudo.

HOSPITAL DE CLINICAS

Ontem estive pela manhã no Hospital de Clínicas de São Paulo.
É preciso algumas centenas de paginas para descrever apenas as primeiras impressões.
Multidão, variada multidão composto por todos os tipos de pessoas, interesses e necessidades.
Um gasto estilo de relação pessoal. Uma forma impessoal de interagir mas alguma afetividade pairando no ar. Uma senhora evangélica abordando a todos na calçada com santinhos, ora que engraçado, santinhos no formato gráfico apenas, oferecendo consolo religioso àqueles que se sustentam na fé, mesmo estando bem à beira da continuidade da vida.
Uma feira das desgraças. Uma feira da falta de sorte na vida.
Chamou a atenção num determinado momento um homem jovem ( entre 30 a 35 anos ) em pé, num canto com um pano sobre a boca seguro por uma das mãos. Que tipo de socorro buscava?
Olhei-o, mais jovem que eu uns 20 anos e passou-me a firme convicção que se um dia eu descubro em mim uma doença muito grave, engulo o amargo do azar, mas não tomo uma aspirina que seja. Deixo que o mal me consuma o mais rápido possível e não luto para contrariar a regra da natureza.
54 anos é tempo suficiente para fazer todas as coisa certas necessárias a uma vida.
Se neste tempo, que afirmo: é muito longo, se bem aproveitado, não é dado o destino correto a cada momento da vida, não precisa requer tempo extra.
O bom de ser criança é que a gente não sabe que a vida tem que ser aproveitada e acaba aproveitando mesmo sem saber, mas depois descobre uns meios de acumular ansiedades e planos e com isso consome todo o tempo com coisas dispensáveis e acaba dispensando a vida.
Imagine uma praia, a maior do mundo, com 600 quilômetros de comprimento. Dois jornalistas aventureiros levaram 30 dias para cruza-la a pé. Apenas 30 dias. Em 54 anos eu poderia ter cruzado essa mesma praia 657 vezes. Ou cruzado a pé 394.000 quilômetros de praias, nem existem tantas praias assim neste planeta.
Mas em 54 anos o máximo que fiz foi 14 quilômetros num único dia e contei a mesma história sobre a proeza 657 vezes.
No HC você fica de cara com a derrota parcial e com a fé de que a derrota também é algo passageiro.
Meu orgulho e minha arrogância só me permitem optar pela não luta. Eih, eu não estou doente, não sou terminal, estou tão sujeito à morte imediata quanto qualquer um de todos nós.
Mas acredito que é mais digno morrer escondidinho como fazem os elefantes, como fazem os animais que se entocam e agonizam numa profunda aceitação das regras naturais.
Não contem comigo numa fila de hospital, não quero penetrar e entender a fé que leva as pessoas a aceitarem isso. Não quero ter que encarar a senhora velhinha com o santinho na mão falando de Cristo e ter que ser sincero com ela e dizer que sou completamente ateu. Vou polpa-la, deixar o tempo dela para os que acreditam na cura.
Na real eu acho que morrer não é algo tão ruim assim.
Não entendo esse apego todo a continuar e continuar e lutar para continuar mesmo não estando pleno.
Eu só precisava de 30 dias prá cruzar a praia,  nunca fiz, agora vou requerer mais tempo prá continuar não fazendo? Faz sentido?
Acho que o HC deveria ter sido construído numa praia de 600 quilômetros e ao invés de cura deveriam apenas indicar a direção e dizer: -Vão, caminhem por 30 dias e se chegarem vivos ao final dela não fará a menor diferença se vocês querem mais alguns dias na vida, economizem o tempo da fila e o frio olhar, embora afetivo, das atendentes, não importa a dor, vocês irão ouvir as ondas, ver as aves, ver o sol se por e nascer, sentir o vento, o cheiro e a emoção de fazer algo que poucos fazem, do contrário se curarmos vocês, apenas irão voltar para casa, prá sentar na sala e ver televisão... e na tela irão ver praias onde nunca pisarão.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

BAILARINOS NÃO CANTAM

Foi em 1986, pode ter sido em outro ano, mas algo me diz que foi em Paraty - com certeza, isso eu tenho - em Maio de 1986 um certo festival de música sacra. Não sei se ainda existe, se conseguiram preservar aquela maravilhosa ideia  que me contou o maestro Jonas Christensen, foi do Papa João Paulo II, que a ele atribuiu de fazer com que o festival viesse a existir em alguma cidade histórica brasileira.

Mas o gran finale do festival foi na igreja matriz de Paraty e um dos grupos corais que se apresentou marcou-me por longo tempo pela surrealidade e comicidade da situação.

Formado por pessoas  com um pouco mais de idade - diria entre 35 e 50 anos - e com uma certa vontade em inovar ou se destacar fizeram algo bem diferente mesmo e marcante. Foi assim: o coral entrava na igreja cantando, percorrendo o mesmo caminho que percorre uma noiva, entravam pela porta principal e iam cantando até chegar ao altar onde havia sido arranjado um grande palco. Não lembro o nome do coral, de onde era e nem qual era a música que cantavam, e prá dizer bem a verdade até  a agora pouco, em meu café da manhã, eu nem lembrava mais da passagem. Mas alem de entrar cantando eles tinham uma formação curiosa, entravam em duas filas indianas e caminhavam dando um passo para o lado e paravam davam um outro passo para o lado oposto ao anterior e paravam novamente. Assim as duas colunas iam balançando lentamente de um lado para o outro, enquanto eles cantavam a todo pulmão e olhavam fixamente para frente. Honestamente, pô, como eu vou escrever uma coisa dessas a seguir?... era patético... tudo era patético: a roupa, as caras, a música, a pretensão inovadora, a coreografia medíocre.
Mas nada desagrada a todos, algumas pessoas - falarei no final do texto sobre esse tipo de pessoa - choravam emocionadas diante da tão, tão, tão... inesperada performance do grupo vocal.

Brasileiro é ruim de numero, isso é um fato que se quiserem eu discorro por dias seguidos com milhões de exemplos até convence-los. Aqui ninguém sabe nada de número, dimensão, proporção ou coisas assim... colocou número na parada dá merda. Um arquiteta prá quem fiz um trabalho recentemente não sabia o que era uma polegada... vi engenheiros da CESP de Marília se embananando na hora de calcular quantos mourões seriam necessários prá construir um alambrado, e assim vai... ora, se um cara é maestro não tem a obrigação de saber nada mais além de música, código de transito e primeiros socorros para engasgados, certo? Mas e quanto ao corredor da igreja em questão versus a velocidade do avanço do grupo vocal divido pelo tempo da música elevado à raiz quadrada do número de expectadores que desejavam que o coral chegasse junto ao palco no finalzinho da música para aplaudi-los - ou vaia-los, conforme o gosto, eih?
Simples assim, na metade do corredor todo mundo notou que a música ia acabar primeiro. Ninguém lá dentro ignorava, agora pela mais pura intuição que aquilo não ia dar certo. O grupo estava lento demais na caminhada? O corredor era muito curto? A música era breve demais?
Todos sofremos, aquele sofrimento pelo constrangimento alheio, pela mediocridade matemática do maestro ou de quem quer que seja que tenha tido a infeliz ideia da coreografia ou que não tenha ensaiado antes ou ao menos notado que a igreja era grande para cacete. Eu cagava de rir da cara de agonia de todos, mas era um rir nervoso, desconfortável e doloroso. O que já era patético, fico hiper patético, a apresentação virou um suplicio, os passos começaram a ficar longos e a coisa piorou mais ainda, porque tudo se desacertou e alguns puristas filhos das putas resolveram não acelerar o passo e o coral rachou ao meio, virou uma bosta.
Nada mais casava com nada... o que salvaria aquela apresentação?
Acho que nem vou contar, porque ninguém vai acreditar... o Batman. Na verdade não foi o Batman, foi um primo distante dele... um morcego bem grande começou a voar dentro da igreja. Passou a dar rasantes sobre todos. Tem gente que nem liga, tem gente que se caga de medo, então a igreja - que estava lotada - passou a ter um movimento ondulante, tipo holla em estádio mexicano, era bonito de ver e quem conhece morcego sabe que ele fica ali fazendo o mesmo itinerário de forma meio circular por um bom tempo, com isso tinha uma parte da igreja que se divertia e outra que sofria e no meio o coral na maior cara de pau escorria em direção ao altar e se safava da merda que fizeram.
No final grande aplauso para o morcego... e o limbo para o coral que ao deixar de ser apenas coral mergulhou num mundo que não era o seu... mergulhou por falta de humildade em apenas cantar bem... queria arrasar, queria aparecer mais que os demais. Em algumas situações devemos aceitar ser apenas figurantes, na maioria devemos ser apenas participantes e não estrelas. Talvez a maioria dos velhotes daquele coral hoje se divertem em bailes da terceira idade, é isso ai, dançaram lá na igreja e descobriram que dançar é uma coisa legal, mas tem que ter um coreografia  e um sincronia... tem também que conhecer e dominar o espaço e principalmente saber que: bailarinos não cantam.

Nota.: Agora falarei sobre um tipo de pessoa, dentro de meu eterno desfiar sobre a mediocridade humana.
Quando eu fazia teatro amador ia sempre com o pessoal do grupo ver uns espetáculos de teatro gratuitos nas sextas ou sábados à meia-noite. Era a apresentação prá classe... eu não era da classe mas ninguém queria saber sobre isso. Um dia fomos ver "Bonitinha mas ordinária" de Nelson Rodrigues na montagem profissional mais amadora que já vi na vida, tanto que ao final, os colegas da classe artística - incluindo Antonio Fagundes, presente na ocasião - aplaudiram sentados, eu nunca tinha visto nada assim e não voltaria a ver um artista ser aplaudido sentado. Mas antes da peça os atores abriam um  vão da cortina e saiam para aquecer o público contando umas piadas. Aquilo já era uma promessa ou um presságio. Uma piada era pior que a outra. Mas bem na minha frente - não vou dizer que era um viado afetadíssimo prá não me enquadrar como homofóbico, mas foda-se era um viado afetadíssimo  rasgava-se de rir... problema dele se ele achava engraçado, mas ele se esticava a ponto de sua cabeça chegar bem perto de mim e numa das esticadas de braços, ah, sim, ele esticava os braços prá conseguir expressar toda a explosão de riso que as inodoras piadas lhe causavam... , ele me acertou o rosto... passei a esperar com grande espectativa o final de cada piada a fim de me abaixar e me proteger da bicha. Mas ali notei o que quero definir, uma pessoa desenquadrada, fora do clima do momento, uma gargalhada no funeral, uma insistência inoportuna, chorar na hora errada, chorar de coisas piegas, mostrar uma falsa sensibilidade prá aparecer e aparecer muito... não suporto, já fui assim também, já tive minhas necessidades de luz, mas estou melhorando... mas aquele tipo que sai da condição de massa prá chamar demais, a atenção de ultima hora, na hora mais oportuna, na hora que vê que há uma brecha, é o cara que atravessa pelado o campo de futebol na hora do jogo, um babaca, o mesmo que abraça o candidato a prefeito na rua e diz: vamos juntos até a vitória... acho que defini, né?


sábado, 29 de setembro de 2012

TED BOY

TEDDDY BOY foi uma subcultura britânica das décadas de 1950  e 1970. Era tipificada por homens jovens usando roupas inspiradas nos estilos da era eduardiana que  estilistas de Savile Row haviam tentado re-introduzir após a Segunda Guerra Mundial. A subcultura iniciou-se em Londres na década de 1950 e espalhou-se  rapidamente pelo Reino Unido, tendo ficado associada ao rock and roll e ao rockabilly tocado por músicos norte-americanos, Os Teddy Boys costumavam brigar intensamente com os Mods.

Mas em minha infância Ted Boy foi lutador de luta livre bonzinho, o cara que brigava contra o Aquiles, lutador "sujo", contra o juiz Isidoro de Cárie, injusto,  e mais tarde foi um dos quatro primeiro Trapalhões.
Bons tempos, boas lembranças...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

AINDA NAQUELA COISA CHATA DA MEDIOCRIDADE DOS HUMANOS

O inseto pode ser esmagado num simples gesto, mas não tem dono.
Não ter dono conta muito no quesito dar bom proveito à vida.
Vender a alma ao diabo, ou algo assim é o que você faz quando quer muito alguma coisa, ou, quando quer muito alguém. Não vende não tem? Sim, obter é consequência de vender-se de alguma forma e uma vez vendido você passa a ser propriedade ou de alguém, ou de uma situação, ou de uma engrenagem social qualquer... O desapego liberta, e liberta mais do que você pensa, liberta também dos sentimentos mais mesquinhos que eu pelo menos, contra a minha vontade, vivo incorrendo, se bem que minha vontade de não incorrer não tem sido tão forte assim...
Mas eu me esforço para não fazer parte da imensa massa de humanos medíocres absolutamente; ser mediana ou razoavelmente medíocre é o minimo que se pode esperar de quem pensa um pouquinho no que esta fazendo naquele momento da vida e no que esta prestes a fazer dela.
Procuro passar a limpo minha vida quase sempre e dela subtraio algumas pessoas, situações e mesmo objetos que me escravizam... não odeio quase ninguém, nem odeio muito a quem odeio, apenas tenho como principio que as vezes é preciso lavar os pratos que usamos, quando jogamos a sujeira pelo ralo da pia, não estamos necessariamente odiando a sujeira, estamos apenas querendo ter um prato limpo para usar a qualquer momento, a limpeza portanto nada tem a ver com a sujeira. Assim, lavo os partos e jogo pelo ralo aquelas pessoas que me complicam a vida e nem são tão engraçadas ou generosas assim a ponto de merecerem um nicho em minha vidinha babaca. Assim também, jogo na pilha de recicláveis para que seja útil para alguém aquelas velharias que guardo empoeirando na garagem e no porão e que só me escravizam...
Olho para os excluídos e penso aquilo que tantos já pensaram antes: " Como pude me prender a isso, como pude ser tão medíocre?"
Até agora não joguei pelo ralo nada nem ninguém de que me arrependesse, ainda não ocorreu... ou sou medíocre demais para perceber as perdas?

terça-feira, 11 de setembro de 2012

DA MEDIOCRIDADE DOS SENTIMENTOS HUMANOS

DA SÉRIE: PRIMEIROS CHUTES NA BUNDA DOS SENTIMENTOS ATROFIADOS.
A humanidade é medíocre em seus sentimentos. Alguns, muito poucos, se salvam da mediocridade plena, mas a maioria não domina nada e se afunda no campo dos sentimentos. O certo seria que por essa falta de capacidade evolutiva a humanidade fosse levada à sua quase completa extinção, mas, por alguma lógica ou falta de lógica, isso não acontece e ao contrário a humanidade cresce em número e minimiza cada vez mais sua capacidade de controle dos sentimentos. Seguimos cada vez mais aparelhados em direção ao futuro e cada vez mais selvagens e toscos. Mudou muito tudo e mudou em muito pouco tempo. Não se chora mais a morte... nem em profundidade nem em tempo de duração do sofrer. Não se sente mais a perda de coisas importantes como o tempo sem fazer nada de útil, ou de se fazer mudanças relevantes na vida. A vida segue inútil e nós não ligamos mais para isso, viver longamente e inutilmente essa longevidade não afeta nenhuma consciência. Não é algo próprio só dos humanos dos grandes centros, dos centros mais civilizados, dos centros mais desenvolvidos, é um algo mais ligado à época que ao lugar.
Nada de novo que denuncie uma mudança se enxerga no horizonte.
Uns poucos são sentimentalmente relevantes.
Uns, mais poucos ainda, são relevantes em algum aspecto para o todo.
Há um sonoro eco no vazio... há um vazio imenso, um descaminho imenso.
Há uma imensa nuvem que paira sem fazer sombra... sem fazer chuva, sem formar figuras de coelhos fofinhos ou cachorros com a língua de fora... trata-se de uma nuvem que pode ser vista como nuvem, mas que não funciona como nuvem.
Há um imenso espaço sendo ocupado por um nada absoluto.
E isso não é justo... a vida requer mais, o milagre da vida deveria cobrar mais dessa humanidade que apatetou-se e conformou-se.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

...

Partiu.
Lentamente.
Abriu as asas e tentou voar em seu último gesto.
Não voou, saberei sempre onde esta agora.
Muito medo do vazio, do espaço desocupado.
Adorado.

terça-feira, 17 de julho de 2012

MEUS CAROS AMIGOS

5 minutos ao lado de bons amigos valem uma revisão de nossas vidas e deixa a sensação de que estamos fazendo algo de bom com ela. Afinal encontramos e estamos conservando as pessoas certas. Mesmo ouvindo seus problemas, mesmo trocando perplexidades, a cumplicidade é uma forma vigorosa de conforto.
Mas sabe aqueles ex amigos que não fazem falta, sabe aqueles amigos que estão prestes a se tornarem ex... pois é, eles também servem prá você revisar o que ainda virá.

terça-feira, 24 de abril de 2012

PENSAMENTO INÚTIL DO DIA, Nº 32 = O QUE É CINEMA? ( Para meditar enquanto tenta decorar a taboada do 9 e 3/4)


Cinema é o seguinte: o filme não tem que ser um puta filme, você é que tem que se ver na tela.
Partindo disso, 2 coelhos não é um puta filme, mas é um grafite, uma múcica, um interpretação surpreendente, uma piada que você gostaria de ter feito, uma idéia que você gostaria de ter tido e uma porrada de coisas que você inveja mas não fez.
Simples assim, perfeito assim, acelerado e com calma. Corre e para e dá tempo, um longo tempo prá cena compor um clima prá uma única palavra ganhar um tremendo valor. Complicadinho e meio bobinho, mas um puta filme, você ainda não viu? Um puta filme.
atrizAlessandra Negrine/Afonso Poyart diretor... filme brasileiro, muitos efeitos legais...

PENSAMENTO INÚTIL DO DIA, Nº 138.461 ( Para ler enquanto semeia couve manteiga )

Atracados num abraço travado e mortal segue em direção ao infinito a sociedade brasileira e seus políticos.
Já vi isso em filme, embora a situação vá leva-los à morte, os inimigos se atracam e cuidam de algo mais imediato desprezando o risco fatal, e imediato se conserta, fatal não.
Assim seguimos atracados, anestesiados e suicídas.
Enquanto o país cresce  e distribui renda, enquanto um ou outro larápio se ferra vamos alegres consumir o que for possível alcançar, e se não alcançar vamos financiar, depois chorar... ou nem isso fazer.
Mas o fato é que não há um sonho, e essa sociedade por não sonhar torna-se culpada pelo jorro de vida que vai em rápida corrente para a boca de lobo mais próxima.
Deveria ser surrada até a morte essa sociedade, deveria aprender apanhando muito, mas apanha e não aprende... oh cabecinha pequena, olhar curto, falta de humanidade.
Esta sociedade é a unica culpada pelos filhos tortos que coloca no mundo e despreza enquanto olha vitrines. Deixa que roubem, deixa que façam festas ruidosas e não liga.
Precisa de muita surra ainda esta sociedade.
Precisa humanizar-se, descobrir-se e ser severa educadora.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

PENSAMENTO INÚTIL DO DIA - N° 37.356 (Para pensar enquanto tenta abrir a tampa de um vidro de palmito )


Eliana Tranchesi, herdeira e dona da Villa Daslu faleceu com um enorme débito social.
Em 26 de Março de 2009 ela foi condenada a 94 anos e meio de prisão, e muito em função de ser portadora de câncer safou-se da pena mas não da morte, nem tudo o dinheiro compra.
Ela comentou que quando descobriu a doença sentiu-se como "uma criança abandonada na Disney", engraçado né? Ela entrou no Hospital Albert Einstein e teve contato com outras pessoas que tinham a mesma doença, então vislumbrou, ao que parece pela primeira vez que o mundo alèm de: Dolce & GabbanaGiorgio ArmaniLouis VuittonChristian DiorPradaChanelBurberrySalvatore FerragamoGucciFendiChloéCacharelYves Saint LaurentGoyard,Tom Ford e Tods., tinha também na vitrine dor, sofrimento e morte, dai ela se sentiu como uma criança perdida na Disney, muito estranho esse pensar, nunca vou conseguir entender isso.
Mas estamos falando de uma criminosa condenada a 94,5 anos de prisão que passou apenas HUM dia na cadeia, não de uma pobre vitima, ela é quase um Lindemberg, mas ninguém polemizou tanto assim sobre ela.
Estranho como a sociedade absolve os ricos.
Ela teve o mundo nas mãos, mas quis mais que o mundo, quis o universo todo.
Roubou a todos nós.
Na sentença, a juíza Maria Isabel do Prado destacou, tratando de Eliana seu irmão e demais envolvidos nos crimes, que houve"ganância" e que Tranchesi "demonstrou ter personalidade integralmente voltada para o crime". Em sua decisão, a juíza mencionou que a "organização criminosa" também deve ser presa por ter"conexões no estrangeiro" e que os acusados praticavam "crimes de forma habitual, como verdadeiro modo de vida, ou seja, são literalmente profissionais do crime.


Ela nos deve 94,5 anos de prisão, ele deve tudo que roubou e roubou algo muito mais sutil. Ela fez muita gente acreditar que era incapaz de conseguir as coisas, porque essas mesmas pessoas lutavam honestamente e não entendiam por que não chegavam lá, criou legiões de concorrentes que se matavam de trabalhar mas não obtinham nem a sombra dos mesmos resultados que ela. Isso mata a sociedade, isso tira a fé das pessoas no trabalho e na justiça. Mas a Eliana acreditava que não ia nem para o céu nem para o inferno, ia ficar a eternidade vagando sozinha pelos parques da Disney... acho que eu agora entendí!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

PENSAMENTO INÚTIL DO DIA - N° 35.643 (Para pensar enquanto ouve musica do Wando pendurado num cabide )

É forte, segundo o que soube, a tendencia das pessoas voltarem sempre ao ponto de partida, ou seja, não conseguir sair da rotina. Isso pode parecer pouco, mas consome uma vida. Se você não consegue fazer voltar a outro ponto de partida no dia seguinte, ou na semana, ou no mês seguinte ou, ou, ou... tenha a certeza que sua vida esta indo pro ralo... se você vai todos os dias pela mesma calçada, amanhã troque de lado da rua.