Ontem estive pela manhã no Hospital de Clínicas de São Paulo.
É preciso algumas centenas de paginas para descrever apenas as primeiras impressões.
Multidão, variada multidão composto por todos os tipos de pessoas, interesses e necessidades.
Um gasto estilo de relação pessoal. Uma forma impessoal de interagir mas alguma afetividade pairando no ar. Uma senhora evangélica abordando a todos na calçada com santinhos, ora que engraçado, santinhos no formato gráfico apenas, oferecendo consolo religioso àqueles que se sustentam na fé, mesmo estando bem à beira da continuidade da vida.
Uma feira das desgraças. Uma feira da falta de sorte na vida.
Chamou a atenção num determinado momento um homem jovem ( entre 30 a 35 anos ) em pé, num canto com um pano sobre a boca seguro por uma das mãos. Que tipo de socorro buscava?
Olhei-o, mais jovem que eu uns 20 anos e passou-me a firme convicção que se um dia eu descubro em mim uma doença muito grave, engulo o amargo do azar, mas não tomo uma aspirina que seja. Deixo que o mal me consuma o mais rápido possível e não luto para contrariar a regra da natureza.
54 anos é tempo suficiente para fazer todas as coisa certas necessárias a uma vida.
Se neste tempo, que afirmo: é muito longo, se bem aproveitado, não é dado o destino correto a cada momento da vida, não precisa requer tempo extra.
O bom de ser criança é que a gente não sabe que a vida tem que ser aproveitada e acaba aproveitando mesmo sem saber, mas depois descobre uns meios de acumular ansiedades e planos e com isso consome todo o tempo com coisas dispensáveis e acaba dispensando a vida.
Imagine uma praia, a maior do mundo, com 600 quilômetros de comprimento. Dois jornalistas aventureiros levaram 30 dias para cruza-la a pé. Apenas 30 dias. Em 54 anos eu poderia ter cruzado essa mesma praia 657 vezes. Ou cruzado a pé 394.000 quilômetros de praias, nem existem tantas praias assim neste planeta.
Mas em 54 anos o máximo que fiz foi 14 quilômetros num único dia e contei a mesma história sobre a proeza 657 vezes.
No HC você fica de cara com a derrota parcial e com a fé de que a derrota também é algo passageiro.
Meu orgulho e minha arrogância só me permitem optar pela não luta. Eih, eu não estou doente, não sou terminal, estou tão sujeito à morte imediata quanto qualquer um de todos nós.
Mas acredito que é mais digno morrer escondidinho como fazem os elefantes, como fazem os animais que se entocam e agonizam numa profunda aceitação das regras naturais.
Não contem comigo numa fila de hospital, não quero penetrar e entender a fé que leva as pessoas a aceitarem isso. Não quero ter que encarar a senhora velhinha com o santinho na mão falando de Cristo e ter que ser sincero com ela e dizer que sou completamente ateu. Vou polpa-la, deixar o tempo dela para os que acreditam na cura.
Na real eu acho que morrer não é algo tão ruim assim.
Não entendo esse apego todo a continuar e continuar e lutar para continuar mesmo não estando pleno.
Eu só precisava de 30 dias prá cruzar a praia, nunca fiz, agora vou requerer mais tempo prá continuar não fazendo? Faz sentido?
Acho que o HC deveria ter sido construído numa praia de 600 quilômetros e ao invés de cura deveriam apenas indicar a direção e dizer: -Vão, caminhem por 30 dias e se chegarem vivos ao final dela não fará a menor diferença se vocês querem mais alguns dias na vida, economizem o tempo da fila e o frio olhar, embora afetivo, das atendentes, não importa a dor, vocês irão ouvir as ondas, ver as aves, ver o sol se por e nascer, sentir o vento, o cheiro e a emoção de fazer algo que poucos fazem, do contrário se curarmos vocês, apenas irão voltar para casa, prá sentar na sala e ver televisão... e na tela irão ver praias onde nunca pisarão.
É preciso algumas centenas de paginas para descrever apenas as primeiras impressões.
Multidão, variada multidão composto por todos os tipos de pessoas, interesses e necessidades.
Um gasto estilo de relação pessoal. Uma forma impessoal de interagir mas alguma afetividade pairando no ar. Uma senhora evangélica abordando a todos na calçada com santinhos, ora que engraçado, santinhos no formato gráfico apenas, oferecendo consolo religioso àqueles que se sustentam na fé, mesmo estando bem à beira da continuidade da vida.
Uma feira das desgraças. Uma feira da falta de sorte na vida.
Chamou a atenção num determinado momento um homem jovem ( entre 30 a 35 anos ) em pé, num canto com um pano sobre a boca seguro por uma das mãos. Que tipo de socorro buscava?
Olhei-o, mais jovem que eu uns 20 anos e passou-me a firme convicção que se um dia eu descubro em mim uma doença muito grave, engulo o amargo do azar, mas não tomo uma aspirina que seja. Deixo que o mal me consuma o mais rápido possível e não luto para contrariar a regra da natureza.
54 anos é tempo suficiente para fazer todas as coisa certas necessárias a uma vida.
Se neste tempo, que afirmo: é muito longo, se bem aproveitado, não é dado o destino correto a cada momento da vida, não precisa requer tempo extra.
O bom de ser criança é que a gente não sabe que a vida tem que ser aproveitada e acaba aproveitando mesmo sem saber, mas depois descobre uns meios de acumular ansiedades e planos e com isso consome todo o tempo com coisas dispensáveis e acaba dispensando a vida.
Imagine uma praia, a maior do mundo, com 600 quilômetros de comprimento. Dois jornalistas aventureiros levaram 30 dias para cruza-la a pé. Apenas 30 dias. Em 54 anos eu poderia ter cruzado essa mesma praia 657 vezes. Ou cruzado a pé 394.000 quilômetros de praias, nem existem tantas praias assim neste planeta.
Mas em 54 anos o máximo que fiz foi 14 quilômetros num único dia e contei a mesma história sobre a proeza 657 vezes.
No HC você fica de cara com a derrota parcial e com a fé de que a derrota também é algo passageiro.
Meu orgulho e minha arrogância só me permitem optar pela não luta. Eih, eu não estou doente, não sou terminal, estou tão sujeito à morte imediata quanto qualquer um de todos nós.
Mas acredito que é mais digno morrer escondidinho como fazem os elefantes, como fazem os animais que se entocam e agonizam numa profunda aceitação das regras naturais.
Não contem comigo numa fila de hospital, não quero penetrar e entender a fé que leva as pessoas a aceitarem isso. Não quero ter que encarar a senhora velhinha com o santinho na mão falando de Cristo e ter que ser sincero com ela e dizer que sou completamente ateu. Vou polpa-la, deixar o tempo dela para os que acreditam na cura.
Na real eu acho que morrer não é algo tão ruim assim.
Não entendo esse apego todo a continuar e continuar e lutar para continuar mesmo não estando pleno.
Eu só precisava de 30 dias prá cruzar a praia, nunca fiz, agora vou requerer mais tempo prá continuar não fazendo? Faz sentido?
Acho que o HC deveria ter sido construído numa praia de 600 quilômetros e ao invés de cura deveriam apenas indicar a direção e dizer: -Vão, caminhem por 30 dias e se chegarem vivos ao final dela não fará a menor diferença se vocês querem mais alguns dias na vida, economizem o tempo da fila e o frio olhar, embora afetivo, das atendentes, não importa a dor, vocês irão ouvir as ondas, ver as aves, ver o sol se por e nascer, sentir o vento, o cheiro e a emoção de fazer algo que poucos fazem, do contrário se curarmos vocês, apenas irão voltar para casa, prá sentar na sala e ver televisão... e na tela irão ver praias onde nunca pisarão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário