PENSANDO

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domingo, 9 de dezembro de 2012

VIRGINIA

Virginia Woolf nasceu em Janeiro e 1882. Matou-se mui poeticamente em Março de 1941.
O filme " As Horas" mostra os sentimentos por ela incorridos entre uma data e outra, mas ler um livro dela mostra que havia uma turbina acelerando a mente, a percepção e a imaginação dessa mulher numa velocidade que só com muito custo, mas muito mesmo é possível apreciar.
Leio Mrs Dolloway e é alucinante a velocidade com que, em cada frase, entram tantas descrições de sentimentos, impressões, fatos, detalhes, ações e acontecimentos que não consigo traduzir. É preciso parar o tempo todo e reler, reler, refletir  e imaginar. O panorama é amplo demais para uma cabecinha normal(?) como a minha. Tudo irá se passar em um único dia enquanto se prepara um festa. Mas ela moê e remoê tantas coisas que certamente, mesmo neste momento da cultura humana, onde somos capazes de processar milhares de informações ao mesmo tempo, onde um comercial de tv de 20 segundos tem 50 tomadas e mais 150 palavras, sons e músicas e ainda assim parece monótono, ela consegue permanecer mais rápida e explosiva; só que com uma profundidade e capacidade de traduzir um fato ou sentimento que um diretor de comercial, penso, nunca vai conseguir.
Com essa aparência tranquila ela tinha na verdade um turbilhão de sentimentos a atormenta-la.
O que para ela era uma angústia, foi na verdade o conteúdo que transbordou magnificamente para suas escritas. É aparentemente uma confusão de pensamentos, algo que interrompe o tempo todo o curso da narrativa, para um leitor comum é um saco, a coisa não anda e não se desenvolve. Mas em cada interrupção por uma virgula ou parenteses pode surgir uma ação ou sentimento tão bem definidos que faz você parar de ler e ficar pensando por muito tempo sobre aquilo. Com tão poucas palavras algo tão bem resolvido. Mérito também para o tradutor Mario Quintana.
Uma alma muito mais completa que as demais, só que com muitos fragmentos. São tantos fragmentos que nem ela mesma conseguiu junta-los todos e se para nós ofereceu paginas deliciosas, plenas de sentimentos possíveis de serem percebidos através de sua visão por outro para ela foi uma ida e volta permanente ao centro da loucura. Colados os fragmentos em ordem aceitável ela seria talvez a plena felicidade. Ela deu-se em sacrifício para quem a lesse pudesse descobrir coisas que humanos normais passam batidos, esbarrando nelas sem ver.
Um dia de vida tem muito mais conteúdo em algumas pessoas que infinitas vidas em outras. Ela é absolutamente clara nisso em cada linha que escreveu.

Um comentário:

Paulo SS Vilela disse...

Muito bom mesmo, Vitório, cada dia melhor!
Apenas uma correção sobre o filme As Horas. Na mis en scène do cinema, a mistura dela mesmo no seu tempo com uma personagem do seu livro, ambientada nos anos 50, e uma leitora de seus livros na época atual.