PENSANDO

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domingo, 30 de dezembro de 2012

DESCONSTRUINDO UMA COISA BOA.

Cena de "A noite de São Lourenço"
Eu achava que o filme era mais velho, mas era de 1982... em minha memória ele estava arquivado em 1976 ou 77... dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani a película italiana " A noite de São Lourenço" também constava em minha - agora confirmada - equivocadíssima  memória com sendo um filme arrebatador e intocável.
Ontem assisti(mos) o filme depois de prováveis 30 anos e desconstruímos o filme de sua forma dramática original para uma forma cômica de alto nível de gargalhadas.
É claro que não somos mais os mesmos, que o cinema já não é mais o mesmo e que a obra em questão não conseguiu se manter com o passar do tempo.
As aventuras de Pi
Dissecando a frase acima: mudamos nós que perdemos aquela ingenuidade e a comoção diante dos dramas alheios, agora tem que ser tragédia devastadora e profunda prá nos fazer sentir a dor na alma e o nó na garganta. Já vimos muito e já vimos muitas formas de se contar uma boa história e com isso aprendemos que  é preciso um talento fenomenal para sensibilizar um público mais escolado e com  uma porrada de anos de estrada. Mas ainda é possível pois só de ouvir contar algumas passagens do filme em cartaz " As aventuras de Pi " do diretor Ang Lee já vi que tem momentos de cortar até o coração mais duro. Mas fato é que perdemos a ingenuidade cinematográfica e agora um filme tem que ter em primeiro lugar um roteiro impecável que conte uma história muito interessante e que o diretor tenha um domínio completo sobre todo o processo, não há mais lugar para experimentos e experimentadores, a coisa agora é completamente profissional ou só vai poder ser visto em reunião de amigos complacentes. As pequenas tragedias já não comovem mais, mesmo para contar uma desgraça é preciso envolve-la em algum humor, o mundo não tem mais público para coisas que só fazem sofrer, o ingresso tá caro, ir ao cinema dá muita despesa e o filme tem que valer muito a pena, e fazer valer a pena é o que conta, tem que divertir completamente o público, nem criancinha se deixa mais enganar por filminhos de fundo de quintal.
O filme é premiado mas o que para alguns pode parecer estilo de direção para mim parece defeito.
Marilyn Monroe
Jack Lemmon
A técnica de direção melhorou muito, os atores bons se multiplicaram - mas é claro que ninguém aqui vai falar que um Jack Lemmon não foi um ator genial, que a Marilyn  não foi absoluta, isso não mudou, não vai mudar, faz parte da história consolidada e pétrea - o que muda é que novos atores conseguem transmitir mais emoções e de forma mais natural e convincente.
Mas por que desconstruímos o filme e que raio é isso?
Desconstruir e ver uma cena em que o diretor concebeu e dirigiu como drama, fazer uma análise relâmpago baseado em sua bagagem como público tarimbado de cinema e sacar que aquela cena não é drama mas sim um excelente piada. Vamos a um exemplo: O personagem teve seu ônibus velho roubado pelo soldados fascistas  já no finalzinho da guerra na Itália, e segue de longe os soldados ladrões que vão arrastando o ônibus puxando-o ( arrasta ou puxa ? ) com dois cavalos, então esse mesmo personagem encontra outras pessoas no caminho e explica que esta seguindo os ladrões  para tentar recuperar seu único bem - até ai temos um drama - e que já bateram nele várias vezes, já fizeram o diabo com ele - isso também é drama - e que ele tem um cesto com 30 ovos e que planeja comer um por dia para sobreviver por 30 dias e conseguir recuperar o ônibus - mantem-se o drama - mas daí ele cobre o rosto com as mãos e diz: - Há cinco dias que não converso com ninguém... daí uma de nossas amigas mais espirituosas presentes na exibição comenta: - Poxa  para um italiano, ficar 5 dias sem falar com ninguém é mesmo uma trajédia... e não há como não rir da piada em que se transforma toda a cena desde o inicio... com isso todas as declarações anteriores viram apenas escada para a piada final e os diretores não viram isso, acharam que o público ia se comover e acho que se comoveu em 1982, mas 1982 esta muito no passado, num passado onde víamos o filme idolatrando o cinema, hoje julgamos o cinema e com muita cátedra.

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