PENSANDO
sábado, 5 de fevereiro de 2011
NUNCA VAI MUDAR
Do livro O Apanhador no campo de centeio tirei este parágrafo: “A característica do homem imaturo é aspirar a morrer nobremente por uma causa, enquanto que a característica do homem maduro é querer viver humildemente por uma causa.”
O livro fala sobre alguém que expulso de um colégio interno fica enrolando para retornar para casa e enfrentar os pais. O personagem principal é um garoto já no finalzinho da adolescência, todo cheio de opiniões, descrente da humanidade, desdenhando a sociedade e totalmente mentiroso. Por outro lado tenta passar o tempo todo por alguém mais velho tentando consumir bebidas alcoólicas nos bares de Nova Iorque mas sempre tendo que se contentar com Coca-cola. Tudo se passa em dois dias, na véspera do natal e o livro foi lançado provavelmente em 1945, fez e faz ainda enorme sucesso na cultura norte-americana e seu autor virou um personagem enigmático por refugiar-se no momento de maior sucesso e de não ter produzido uma sólida sequência de boas obras. Ontem mesmo vi num sebo de Santo André um livro peso pesado sobre uma jovem que namorou o autor – J.D.Salinger – e depois saiu desnudando sua privacidade. O livro consta como sendo o motivador do assassinato do John Lennon, mas não é possível perceber em nenhum momento o que exatamente produziria essa motivação. O livro tem passagens de morrer de rir e é o tempo todo depressivo como são os adolescentes.
Tem aos montes nos sebos e acho que também nas boas livrarias, se você ler vai descobrir o quanto da adolescência você trás em seus comportamentos e julgamentos pós adolescente. Mas vai perceber também que existe uma profunda e clara linha divisória entre a infância, a adolescência e o resto de sua vida. Assim também como deve haver um marco preciso entre a idade madura e a velhice.
Eu e a maioria de vocês, instalados neste momento entre as duas mais importantes fases emocionais da vida, as fases em que precisamos de alguém e de ajuda, temos duas coisas básicas para refletir: uma, que quando era adolescentes julgávamo-nos preparados para viver mais do que estávamos vivendo mas éramos obstruídos pelo excesso de zelo dos pais, pela falta de dinheiro para realizar tudo, pela falta de confiança que tinham pela gente, pelas leis que proíbem o adolescentes de fazer tudo que era interessante de fato e pela merda que é ter que ficar estudando o tempo todo; outra, é que em relação a velhice plena hoje não passamos de adolescentes subestimando a realidade que vivemos e descuidando da realidade que nos espera.
Continuamos achando que nossas vidas estão obstruídas por outros, que a eterna falda de dinheiro nos impede de fazer tudo que sonhamos, que nunca conseguimos a confiança plena dos outros para nossas idéias e que o excesso de leis e impostos inibem nosso desenvolvimento e ainda buzinam na orelha da gente que não estudamos o suficiente, não sabemos tudo o que é possível que nosso pais não tem um nível cultural aceitável e, enfim, que temos que parar de brincar para ir fazer a lição de casa porque já esta tarde.
A causa.
Morrer pela causa, percebi lendo o livro, é o sinal mais gritante mesmo de imaturidade. A vida não é um tudo ou nada constante. Só muito raramente temos que tomar decisões que são absolutamente irreversíveis.
No mais podemos sempre reavaliar e reconduzir as coisas, nada de fazer marolas, melhor conduzir com serenidade, mas com honra, dignidade e opinião.
Porém o alerta aqui é prá perceber que a vida tem etapas, que algumas são extremamente específicas, com prazo de validade e que se não percebidas minimamente causam um transtorno enorme nas fases seguintes.
Dá prá atenuar alguns resquícios de adolescência, dá prá evitar algumas mortes pela causa enquanto você ainda anda, toma banho e se alimenta sozinho.Enquanto ainda lembra e ganha prá comprar remédios, mas num momento que você menos espera você perde uma das capacidades, perdeu, já era prá você, chegou a hora de ser humilde, abandonar as causas e viver pela ajuda dos outros.
Você voltou a adolescência, ganhou de volta a liberdade que tinha e não sabia usar, voltou a ter que pedir para poder fazer as coisas mas, talvez, quem sabe, com a sensação do dever cumprido, como exemplo; finalmente com o direito de morrer por uma causa sem parecer imaturo, porque os outros podem achar que você já sabe de alguma coisa que eles ainda não descobriram.
Leiam o livro, ele é meio frustrante no começo, no meio e no fim, não é bombástico, não tem emoções arrebatadoras e cenas tórridas mas é divertido, crítico e faz parte da história de grandes acontecimentos na vida de pessoas que desviaram levemente os rumos do comportamento humano, da liberdade de expressão e da produção de cultura de massa.
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