PENSANDO

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sábado, 30 de julho de 2011

DEVOREI, AMEI E VOU CONTAR UM POUCO.


Ganhei a poucos dias o livro “ENDURANCE A lendária expedição de Shackleton à Antártida” de Caroline Alexander – Companhia das Letras 2010 com as notáveis fotos inéditas de Frank Hurley, membro da expedição ocorrida entre 5 de Dezembro de 1914 e 30 de Agosto de 1916.
Foi um rolo, os ingleses queriam conquistar o pólo sul e falharam, falharam feio com erros básicos que levaram à morte de Scott e sua equipe, Shackleton então como prêmio de consolação resolveu atravessar o continente antártico a pé.
O Endurance, seu navio zarpou quando a Primeira Guerra Mundial havia acabado de extourar, mesmo assim os ingleses mandaram ele seguir em frente. Com 28 homens a bordo e 69 cães de trenó embarcados em Buenos Aires e um gato, o navio ficou preso no gelo, foi esmagado em seguida pela brutal força do gelo empurrado pelos ventos que lá não são de brincadeira e depois naufragou – o que sobrou do navio, alias em cacos, deixando todos sem abrigo, alimentos variados e escassos numa placa de gelo com pouco mais de um metro de espessura à deriva no Mar de Weddell por 22 meses.
Mataram os cães e o gato, comeram pingüins, leões marinhos e focas (e os últimos cães a serem mortos), praticamente ninguém ficou seriamente doente, ninguém nunca usou óculos escuros e nem por isso alguém ficou cego, mas houve num curto período uma piração geral por conta de um certo desespero que bateu numa travessia de botes por um trecho final da tentativa de salvação quando o gelo se partiu e eles tinha que encontrar terra firme – que no caso foi pior hospedagem que o gelo.
Todos se salvaram, o mais jovem do grupo perdeu alguns dedos dó pé que congelaram e precisaram ser amputados e houve um ataque cardíaco não fatal, os caras eram realmente fortes e tinham um vontade imensa de se salvar – acho né.
O maior dos botes serviu para uma travessia final de 1300 km entre a pontinha norte do continente,ali quase no cabo Horn que é um pedaço do inferno no sul do Chile, e as Ilhas Georgia do Sul, alias um lugar onde não se deve navegar nem de navio quanto mais de botezinho, no inverno, faminto, sem água potável por conta de uma perda de parte do suprimento, sem visibilidade para fazer cálculos de navegação e enfrentando ondas de mais de 30 metros de altura – acreditem: é uma puta ondona.
O livro é um edição luxuosa, com capa imitando couro e paginas em cochet ilustrados por fotos muito bonitas e realistas do tal Hurley que era bom na profissão de fotografo oficial.
Meu cão pastor alemão tem o nome de Maar Frank Wild, por conta do Sr. Frank Wild, segundo na hierarquia de comando da expedição e tremendo boa gente, embora chegado numa birita, que conseguiu manter os homens com suas respectivas cabeças no lugar e seus corpos sadios num ambiente tão severo e contrário à vida. Adorava cães mas teve que matá-los –todos- por questões que se tornam óbvias ao ler o livro.
É livro de se ler numa pegada, é empolgante, apaixonante e é uma história que ficou meio perdida por conta da carnificina que foi a Primeira Guerra ocorrida simultaneamente.
Engraçado observar que os sobreviventes de um expedição que se propunha atravessar um continente na Terra onde antes nunca alguém havia estado, se lascaram pela precariedade dos recursos existentes na época, mas dois deles testemunharam a chegada do homem a Lua.
Mas fica claro que embora a Inglaterra estivesse em meio a Primeira Guerra Mundial ela foi um bocado mesquinha e não prestou ajuda aos expedicionários que estavam ali por ordem, conta e glória da coroa britânica, quem na verdade salvou a pele deles foi o Chile que emprestou uma banheira velha que resgatou a todos.
Vejam as fotos no Google imagens pedindo “Endurance” ou “Hurley” ou “Shackleton” e leiam ou o livro ou na Wikipédia, vale a pena.

Um comentário:

Elcio Thenorio disse...

Borella, se vc gostou deste (eu também), talvez vá gostar também deste: "A expedição Kon-Tiki".

Abração
Elcio