PENSANDO

PENSANDO

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

OH!

Ó! Afirmo.
Desventura.
Passa o pai lutando uma vida para dar tudo aos filhos.
Dar exatamente algo que não precisa ser dado.
Constato, não sou o único.
Eu já desconfiava, mas precisava do tempo e de alguns papos para confirmar que isso é mais comum do que possam pensar.
Conta centavos o diligente pai para fornir os filhos do saber e complementos do saber que em breve se transformarão em duas coisas - inevitavelmente.
Uma coisa: Transforma-se a carreira numa guinada na carreira, o engenheiro vira dono de restaurante, a psicologo vira figurinista e o médico vira dono de pousada... querem 1530 exemplos????, me poupem... todo o suor gasto para educar acaba no bolso do dono da faculdade e o diploma no fundo da mais esquecida e remota gaveta, filhos que não sabem escolher a carreira, deviam ir para  a cadeia.
A outra coisa: Aquilo que deveria ser gratidão transforma-se em pé na bunda...
... não direi ingratidão... não chega a ser... apenas um leve asco... um: - Tudo bem, passou, agora mantenha-se longe de mim...
Um velho só, nada mais é que um velho que um dia esqueceu de priorizar o carinho a ser dado.
Quem de alguma forma comprou os filhos vai inevitavelmente ficar só.
Quem não priorizou ouvir e compreender vai ficar sozinho mesmo. 
A regra me parece simples - vamos ver:
- Você procura dar alguma coisa para seus filhos, mas não se esqueça de todos os dias dizer alguns nãos... em seguida dê gratuitamente bastante presença e uma boa dose de contato físico, finja que se importa com eles... acrescente um "se vira" duas ou três vezes ao dia... um bom dia e um beijo de boa noite todos os dias, religiosamente... lembre-se sempre dos aniversários e ignore os amigos deles... procure sempre ter a sua idade e nunca tente ter a idade e as ideias de seus filhos, trate-os sempre de cima para baixo com toda a dignidade, mas mostre que você é você e eles são eles... desinteresse-se por eles sempre que puder, e tenha segredos, coma escondido o ultimo pedaço de pudim que esta na geladeira, minta sempre que possível e esconda os Sonhos de Valsa e chocolates de grife, dê para eles aquelas tranqueiras da Pan. Não aceite presentes deles... afinal, esses safados compram com o seu dinheiro presentes idiotas, coma o rabo deles sempre que fizerem isso... deixe-os errar e sofrer, não construa sua vida inteiramente baseada na relação pai x filhos... eles são legais de ter, mas não são a sua vida, você é a sua vida.

RINGO STAR

Ontem - 29 de Outubro de 2013 - as 19:48 h foi o momento em minha vida que estive mais próximo fisicamente de um Beatle... mas é patético, direi porque...
Eu nasci em 1958 os Beatles começaram a carreira deles em 1960... eu até posso dizer que ouvi uma ou outra música dos Beatles antes de 1970, mas ouvi uma ou duas músicas e no máximo por uma meia duzia de vezes... em casa ouvia-se outro tipo de música, eram boleros e coisas assim, tipo: Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Orlando Silva, Marlene, Linda Batista e sertanejos, nem vou listar, mas predominantemente sertanejos.
Com isso cresci sem um gosto musical, ouvindo compulsoriamente "música de gente mais velha".  Só quando entrei em meu primeiro emprego em 1970 a coisa toda mostrou-se existir. Sai de meu mundo infantil e infantilizado pelos meus familiares e bati de frente com um outro tipo de gente,  e por trás dessa gente havia um outro mundo e um outro tipo de comportamento. Depois me chegou às mãos o álbum Abbey Road  e pela primeira vez na vida eu tive a oportunidade de ouvir inteiro um disco de rock, dei sorte, comecei tarde, aos 12 anos, mas entrei pela porta da frente. Quando consegui comprar o primeiro disco em minha vida escolhi o que tinha a canção Hey Jude... 
... por muitos anos segui gostando de tudo deles e pouco sabendo sobre os integrantes da banda, depois inevitavelmente fui pescando algo aqui e ali e só muito recentemente passei a ler e pesquisar profundamente tudo sobre eles... as vezes cansa, as vezes é um orgasmo, mas cheguei a uma sintese sobre meu gosto pelos Beatles... e escrevendo esta postagem, fui interrompido pelo telefonema de uma amiga me avisando que minha primeira camiseta preta com The Beatles escrito em branco, que eu encomendei, já chegou...  porra, só agora aos 55 anos e meio, tardio né? Ou serão sinais? Uhhhhhh... !
Mas com o passar dos anos fui passando a gostar muito de Paul MacCartney a ter um profundo desprezo por John Lennon e meio que separando uma coisa de outra. Uma coisa são os Beatles, outra coisa é a merda que foi assinarem Lennon/MacCartney uma porrada de músicas, outra é a obra de Paul e uma outra coisa é a obra pequena porem magnifica obra de Harrison... mas e Ringo?
Bem... baterista não é músico, segundo o que penso e pensam muitas outras pessoas... Ringo é um cara legal, simpático, querido por todos... mas, além de ser um tremendo sortudo ( The Beatles mereciam um baterista melhor ), não contribuiu com quase nada na banda... e nas mãos de outro baterista os Beatles poderiam ter avançado muito mais, ter feito coisas melhores... não há como negar, ele fez um arroz com feijão danado...
Mas The Beatles acabaram antes de eu saber que eles existiam, e isso foi foda.
Depois fui juntando cacos e virei um fã fora de hora, sem saber quem eram os caras que eu gostava e descobrindo mais tarde que não gostava de todos e que alguns mais atrapalharam que ajudaram... depois de anos Paul MacCartney veio ao Brasil fazer o celebre show do Maracanã, e passou a ser frequente e democrático como se fosse um Ray Connif, Julio Iglesias ou Laura Pausini, tipo: virou figurinha fácil, mas ai já havia acontecido um fenômeno asqueroso aqui em São Paulo : "A tentativa de exterminar o público pelo assassinato do bolso"... assim uma estacionadinha ao redor do estadio onde iria acontecer um show do Paul passava a custar entre R$ 100 e 150 pixolés... um ingressozinho básico, mal acomodado, bem longe, banheiro sujo e com chuva na cabeça saia por módicos R$ 300 paus... uma coca-cola era facilmente comprada por R$ 15 patacas... e a qualidade de tudo não condizia nem com  o preço cobrado nem com o poder aquisitivo médio do público... ir a um show significava ir à falência... não mudou ainda, mas hoje já sobram ingressos para muitos ilustres que acabam tendo que fazer promoções de última hora... com isso, ver ao vivo, ver de perto um ídolo tornou-se coisa de 19° utilidade, é a coisa menos prioritária na vida de qualquer ser humano que se ponha a pensar os prós e os contras... sem paixão e sem fanatismo algum... mais vale um dinheiro no bolso que um gosto que vira desgosto.
Voltando ao inicio...: não sei qual a importância real teria em minha vida ver um Beatle de perto, ou ao menos de longe ao vivo, mas eu diria que muita... eu sempre dei e dou muita importância à arte deles, mesmo fazendo zilhões de ressalvas... Já pensei em ir ver o Paul mesmo contra minha disposição em não enfrentar o "mundo explorador de bolso"... mas na última hora sempre me faltou aquele segundo de insanidade para ter a iniciativa. Travei.
Mas ha alguns meses minha filha me trás um caderno de um jornal qualquer que anunciava o Ringo Star em São Paulo em 29 de Outubro no Credicard Hall, e me ofereceu o jornal quase que como a querer dizer, nessa você tem que ir...
Pensei: Imagine, queimar um sonho vendo o Ringo?, logo ele, se fosse bom seria no Morumbi, tipo Paul, sem chance... mas ontem voltava para casa como paulistano civilizado que agora patrioticamente anda de trem e deixa o carro em casa, passo, espremido, comprimido, chacoalhante dentro de um trem Osasco x Grajaú as 19 horas e 48 minutos a poucos metros do Credicard Hall, e me lembro e olho o prédio onde lá dentro a poucos metros de mim esta, já no camarim, o Beatle que eu não tenho vontade alguma de ver pessoalmente.
E chegamos à estação Santo Amaro e eu penso que não sonhei forte o suficiente, que não desejei direito, que não mergulhei tão fundo quanto deveria nessa história de ser fã... que afinal Ringo não é Beatles mas Beatles foi a banda que preencheu minha alma por toda uma vida, e que eu deveria me importar e dar mais importância a isso... não dei.
Passei anonimamente, na mais plebe passagem possível perto de alguém que queira eu ou não, simboliza algo que é importante para muitas pessoas... e eu ao invés de gritar: Lindo, mais um, apenas ouvi: - Próxima estação Santo Amaro, desembarque pelo lado esquerdo do trem, cuidado com o vão entre o vagão e a plataforma. Foda, só agora entendi porque foi que o sonho acabou.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

UMA ESCAPADINHA

Li, mas muito rapidamente no Facebook a noticia de que a vovó desaparecida na verdade estava dando um longo passeio pelo litoral de Santa Catarina...
Nem precisei ler mais, nem queria ler mais, minha imaginação se prontificou a completar a história do jeito mais gostoso possível.
Imaginei a senhora, cuja foto vi, e parece alguém conhecida, as senhoras de certa idade sempre se parecem muito umas com as outras...
...mas imaginei a vida dela, certinha, comportada, cheia de rotina e ela olhando para o relógio da parede e pensando: - Se não faço agora, não faço nunca mais... a morte vai chegar, pode chegar de surpresa, se eu ficar aqui ela me pega e morro de forma banal, se eu me aventurar e der algo errado morro de forma gloriosa... em nome dos 80 anos de covardia que já vivi agora vou arrepiar e atravessar a ponte que separa a rotina da vida... vamos lá.
Saiu, não avisou ninguém, até porque se falasse para alguém não iam deixar e foi ver o que é que tinha la do outro lado da rua...
Na verdade lá não tem nada que não tenha cá...
Mas o que faz a diferença é ir até lá pra ter a certeza com seus próprios olhos...

terça-feira, 15 de outubro de 2013

FALHOU!


Vamos pensar...
Não é covarde aquele que não tem o propósito de competir o tempo todo.
Alguns vieram ao mundo para ficar no alto acima de tudo...
Outros vieram para ganhar e sumir, voltar ganhar novamente e sumir de novo, nem levam o troféu para casa, contentam-se com o prazer do jogo.
E a grande maioria esta ocupada demais com fechar as contas do mês e nem tem tempo pra julgar coisa alguma.
A esmagadora maioria que dessa vida leva somente a gota que escorre da caneca ( conforme podemos observar na magnifica ilustração acima )...

Mas para vencer é preciso ter talento e ser esperto.
Para ser esperto é preciso viver do fim para o começo...
E saber viver do fim para o começo demanda pensar, pensar e pensar muito.

Eu hoje olho daqui para lá para trás... supondo que aqui seja o fim e o lá para trás seja o começo.
Vejo uma pessoa se dando mal na vida.
Pego um monte de post it e desenho em cada um deles uma passagem importante da vida da pessoa em questão, vou colando cada um na sequencia e usando o que me ensinou o escritor William Faulkner, que a habilidade do escritor deve ser a de conseguir deter o movimento do personagem para que quando o leitor passe por cada cena faça com que ele reviva eternamente...
...bem, com essa técnica de deter cada passagem da vida da pessoa eu posso então olhar o conjunto da tragédia e brincar de deus - só não faço isso com a minha vida.

O que vejo?
Vejo o mesmo movimento detido sendo repetido em cada quadro.
Uau! Que gênio!
João amou Maria que não amava João...
Então João procurou encontrar Maria em outras pessoas...
João achou outra Maria que também não o amava...
Então João procurou encontrar Maria novamente em outras pessoas...
E João achou outra Maria que não o amava...
Mas não existe o post it do momento em que João não notou que era amado por uma pessoa que não se chamava Maria...
Bem, então deixa eu desenhar uma duzia desses e intercalar...

Agora tenho uma sequencia em que João se deteve em um propósito e não percebeu que seu objetivo estava vindo a ele em sentido oposto, ele buscava mas também era buscado e não via que já tinha o que queria mas que tinha vindo a ele e não buscado por ele... não viu e não deu valor.

João pôs preço nas coisas... João achou que tinha mais valor do que realmente valia, tinha o foco no post it do presente e não procurou saber como seria o último post it da sequência... se tivesse pensado, se tivesse desenhado sua trajetória em post its amarelos, ele teria visto as repetições, se visse de trás pra frente teria visto a vida vindo em sentido contrário...

João esta a chupar o dedo agora.
João não imaginou um final infeliz... se o tivesse feito teria tido tempo de redesenhar os post its ou de mudar alguns de lugar, eliminar outros e de simplificar toda a história. Teria dado mais valor aos sentimentos dos outros e teria achado um caminho melhor.
Competiu e perdeu, faltou clareza para ele perceber que não era tão esperto quanto achava que era... nem seu valor era tão elevado assim.





sábado, 12 de outubro de 2013

FÉ, MAS FÉ ACREDITANDO MESMO.

Bem, hoje estou animadinho...
Vamos dar uma chacoalhada nisto aqui...
Que tal escrever umas coisas pra motivar alguns leitores anônimos a comentarem com um monte de cacetadas ????
Tentemos ó pai.

Primeira pergunta:
U qui qui é melhor di qui ganhar uma Copa do Mundo?
Resposta: Ver decolar um ônibus espacial...
Vejamos as imagens então:
Acima a hora do gol ou da decolagem que no final se equivalem aproximadamente muito de perto uma da outra.
Abaixo, a hora - o momento -  da decolagem, é de tirar o fôlego e fazer pensar...



Perderam o fôlego?
Ainda não... ???
Vejam mais então...


E agora? Já estão sem fôlego ????
Ainda tem... é mesmo? Então vamos mais fundo, ou mais alto...

Bem, então agora vamos ao assunto de verdade e vamos parar com essa palhaçada de ônibus espacial... tchau bumba espacial... tchauuu...

Minhas avós tinham fé.
Elas tinham muita fé em Deus, nos Santos, na igreja Católica Romana, iam à missa e rezavam sempre que a situação pedia.
Rezavam para dormir, rezavam quando estava chegando um temporal, rezavam pelos que estavam doentes, rezavam por tudo quanto julgassem ser possível assistir, ajudar, interceder... era fé que não acabava mais.
Quem eram elas?
Eram mulheres que tinham vidas nada fáceis.
Nasceram humildes, dentro da mais completa pobreza e privação material.
Tinham que fazer de tudo, cuidar da casa e dos filhos, fazer sabão, lavar muita roupa e faze-las durar muito, fazer render a comida pouca, que teria que de uma lado sustentar 4 filhas e um cunhado folgado, do outro 10 filhos e uns outros tipos folgados que viviam na cola... não era pouco, e já na época, eu muito pequeno podia sentir ali na minha cara o que era uma vida dura, o que era uma trabalho fisicamente muito pesado, ensopadas lavando roupas em dia de frio, carregando peso, caminhando longas distâncias, nada era fisicamente fácil.
Nunca diziam: - Não dá mais, chega... nunca. 
Diziam: - Deus vai ajudar, vamos rezar...
E reza após reza viam a vida ir avançando, as coisas se formando, os filhos crescendo e iam acumulando pequenas vitórias cotidianas e não reconhecidas e algumas, muitas, várias derrotas... sempre. A fé não podia tudo.
Nenhum abalo, nenhum retrocesso, nenhum ônibus espacial... 
Ônibus espacial?
Vamos falar de ônibus então:
Veja as fotos acima... sinta a força, a potência, a energia...
Se você não tem fé, dá quase pra acreditar em Deus vendo a explosão de energia necessária para fazer subir um negócio desses... eu adoraria ver uma decolagem dessas, acho que é melhor que ganhar uma Copa do Mundo sim... o estrondo, a luz, a fumaça, a trajetória em curva para o alto... aquela massa enorme de metais subindo e deixando o planeta para trás... quem foi o maledeto que conseguiu invetar uma coisa tão impressionante assim?
Eu adoraria ver... mas não vai mais ter.
Volta para a fé das avós.
Eram ônibus espaciais... a minha paterna quando tinha ataque de fúria era mais forte e violenta que um ônibus desses ai... uma vez vi ela arremessar meio tijolo em direção da nuca de meu Tio Dorival... polta que los pariu... eu não imaginava que: 1) Ela tivesse coragem; 2) Que ela conseguisse arremessar um meio tijolo, que na época eram maiores que os de hoje, tão longe; 3) Que ela fosse tão ruim de pontaria - sorte do Tio Dorival.
Mas tudo nelas tinha a dosagem de um lançamento de ônibus espacial...
Quando hoje vejo essa turminha da Geração Y esparramada no sofá vendo tv, com fones de ouvido e laptop no colo pedindo para alguém ir na geladeira pegar algo para eles... dá vontade de... da vontade de... chorar/mandar a merda/matar afogado na privada/fazer voltar para o útero e não sair mais de lá.

Mas algo deu errado...


A fé das avós não chegou intacta até a gente.
Por várias razões que  constatei ao longo de uma longa e profunda meditação - algo próximo de 20 segundos pensando sozinho enquanto esperava o Google carregar - a coisa não passou para o DNA da gente... e da gente para os filhos da gente, então, passou porra nenhuma.

Em 3 gerações matamos algo que foi vital para nós e para que a Geração Y pudesse só desejar e não contribuir em nada e ainda sair reclamando.

Ainda trabalhamos muito - apenas alguns de nós - mas já não tão combativamente  e sem fazer muxoxo nenhum... reclamamos, deprimimos, surtamos, damos piti, inventamos justificativas para não fazer... assim é, assim somos, vergonhosamente somos.

Minha avó materna era gorda e forte, minha paterna era magra e muito forte.
Hoje todos são - eu graças a Dels não sou - gordos... antes num ônibus que cabiam 36 sentados e 42 em pé, hoje cabem 36 sentados e 42 em pé, mas ficou apertado para cacete e tem gente aos montes que não passa mais pela catraca e precisa descer pela porta da frente.

Enfim, por fim vos digo.
Nossas avós sustentaram na reza a agrura de suas vidas.
Buscaram força na fé em Deus e na compreensão, que nunca chegaremos a ter, de que um obra, por mais singela que seja, é uma obra. Que uma existência humilde e sem fama era tão gloriosa e fundamental aos olhos do Deus delas quanto qualquer outra forma de vida glamourosa e vistosa.
Esse valor não foi aprendido, posso perceber que existiu, podemos perceber mas não sabemos reproduzir mais essa forma de viver em nossas vidas e nem muito menos sabemos transmitir valores assim.
Em apenas 3 gerações tornamo-nos consideravelmente mais selvagens e frágeis.
Um beijo enorme nas avós que nunca puderam fazer nada na vida com um controle remoto... com elas foi no braço mesmo e Deus no coração.

Acabou... tchau vós.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O DOM

...Porque infelizmente tudo pode ser melhorado ou tudo pode ser piorado, constato eu... conversando com um amigo de longo tempo, que é um dos melhores atores que já conheci na vida, embora ele seja de verdade um funileiro de carros de passeio, mas que empresta um colorido maravilhoso a todas as histórias que conta, e vai construindo com palavras sacadas sei lá de onde, mas que avolumam o sentido do que é dito, não bastasse o tom que  empolga e prende o ouvinte, não bastasse as voltas que a história da para produzir o tempo de espera necessário para magnetizar e cativar por mais e mais tempo a atenção e esperar pelo, sempre, divertidíssimo desfecho ele ainda confere uma credibilidade a tudo que fala que é impossível duvidar de uma sílaba sequer. Ele sabe contar e colorir, mas fala de coisas quase sempre dramáticas. Mostra o lado mesquinho e destrutivo de pessoas muito próximas a mim, a nós... ele tem o dom... ele sabe reconhecer quem é que faz parte do grupo dos bandidos e quem é do grupo dos mocinhos.
E como disse, com palavras muito bem sacadas, ele constrói com cores e formas precisas aquelas imagens que eu penso conhecer, mas não sei definir com a perfeição que ele faz. Um papo que é uma cena, algo que poucos tem o privilégio de assistir e viver.

O CAPITÃO CRANE VIRA CANTOR.

Foi nos anos 60 que a série conquistou o público com as aventuras do submarino nuclear, mega moderno, que no princípio era usado em missões bem normais, tipo as de qualquer outro submarino de patrulha e pesquisa, mas depois, no segundo ano da série, começaram a aparecer ets, plantas inteligentes vindas de outros planetas que invadiam o submarino e matavam os tribulantes e coisas assustadoras assim... e tinha um interminável barulho do sonar em todas as cenas em que o submarino aparecia submerso... toimmm, toimmm, toimmm, toimmm... dava no saco.
Eu gostava muito do Capitão Crane que era interpretado pelo ator David Hedison ( quem ? )... pois é... ele mesmo, em carne e osso...
Mas um dia, não é que o Capitão Crane vem ao Brasil como cantor , já na pele de David Hedison, e se apresenta  no Teatro Record de São Paulo, e com transmissão ao vivo pelo canal 7... eu não acreditada naquilo, eu não podia acreditar que a pessoa pudesse existir fora do filme... e ele veio, cantou e eu assisti  pela tv e dormi na segunda música porque o cara era chato pra cacete, nem lembro que músicas cantava mas só podia ser  algo tipo Sinatra ou Tony Bennett... e isso matava qualquer criança de 6 anos de idade acostumada a no máximo ouvir Tonico e Tinoco e, pasmem, Chico Buarque de Holanda cantando A Banda ( nem sei se isso tudo era coisa do mesmo tempo, mas em minha cabeça parece que aconteceu tudo no mesmo dia )...
O fascínio de ver ao vivo um ator americano aqui no Brasil... meu dels ele existe, o Brasil existe, ele fala e ele canta e canta para fazer eu dormir...
Figura importante na formação de minha infância, sem dúvida... ele me mostrava que o mundo tinha um lado real, que as coisas se materializavam, que nem tudo sumia quando se desligava o botão da tv. Puta cara atencioso escolher para vir cantar mal logo aqui no Brasil... mas pô, o cara era meu ídolo e eu fiquei em falta com ele por ter dormido.
Ficam aqui minhas homenagens ao Capitão Crane...

PAI, POR QUE ME ABANDONASTE?

Em geral abandonamos coisas... abandonamos ideias e eventualmente nos abandonamos.
Tenho coisas abandonadas aos montes, e já há muito tempo sei que coisas que tiveram seu valor e seu preço pago por meu trabalho, são a prova de que não valorizo muito o meu próprio sacrifico e meu trabalho. É difícil resistir e não adquirir, em geral temos fases de colecionar e fases de comprar por impulso achando que aquilo se não comprado naquele momento não será mais conseguido, mas isso só faz as coisas irem se juntando, ocupando espaços e tornando-se em uma massa compacta de coisas que vamos evitando de olhar e de lembrar que temos. Com isso vai se indo o dinheiro que podia muito bem ter sido usado para outras  coisas, ou guardado para os momentos de imprevisibilidades e ficamos nós com um atestado de idiotas também com um ativo inútil para resolver e tirar pó.
Já com as ideias, parece que o bom e usa-las por impulso, aproveitar o frescor e a potência do entusiasmo e não deixar que elas mudem de formato ou se percam... arregaça a manga pega e faz.
Já com a gente, quando abandonamos o tesão por fazer coisas novas ou por fazer melhor coisas que já fizemos antes é coisa séria. É hora de procurar ajuda, é hora de aceitar que tá faltando tempero na vida, que a depressão esta avançando e dominando.
Eu, as vezes, no meio de um trabalho qualquer no computador, paro para fazer um capuccino e coloco ele na mesa ao lado do mouse.... e volto a trabalhar e esqueço a pobre caneca lá esfriando o conteúdo... mas ai já é Alzheimer mesmo.