PENSANDO

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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

RINGO STAR

Ontem - 29 de Outubro de 2013 - as 19:48 h foi o momento em minha vida que estive mais próximo fisicamente de um Beatle... mas é patético, direi porque...
Eu nasci em 1958 os Beatles começaram a carreira deles em 1960... eu até posso dizer que ouvi uma ou outra música dos Beatles antes de 1970, mas ouvi uma ou duas músicas e no máximo por uma meia duzia de vezes... em casa ouvia-se outro tipo de música, eram boleros e coisas assim, tipo: Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Orlando Silva, Marlene, Linda Batista e sertanejos, nem vou listar, mas predominantemente sertanejos.
Com isso cresci sem um gosto musical, ouvindo compulsoriamente "música de gente mais velha".  Só quando entrei em meu primeiro emprego em 1970 a coisa toda mostrou-se existir. Sai de meu mundo infantil e infantilizado pelos meus familiares e bati de frente com um outro tipo de gente,  e por trás dessa gente havia um outro mundo e um outro tipo de comportamento. Depois me chegou às mãos o álbum Abbey Road  e pela primeira vez na vida eu tive a oportunidade de ouvir inteiro um disco de rock, dei sorte, comecei tarde, aos 12 anos, mas entrei pela porta da frente. Quando consegui comprar o primeiro disco em minha vida escolhi o que tinha a canção Hey Jude... 
... por muitos anos segui gostando de tudo deles e pouco sabendo sobre os integrantes da banda, depois inevitavelmente fui pescando algo aqui e ali e só muito recentemente passei a ler e pesquisar profundamente tudo sobre eles... as vezes cansa, as vezes é um orgasmo, mas cheguei a uma sintese sobre meu gosto pelos Beatles... e escrevendo esta postagem, fui interrompido pelo telefonema de uma amiga me avisando que minha primeira camiseta preta com The Beatles escrito em branco, que eu encomendei, já chegou...  porra, só agora aos 55 anos e meio, tardio né? Ou serão sinais? Uhhhhhh... !
Mas com o passar dos anos fui passando a gostar muito de Paul MacCartney a ter um profundo desprezo por John Lennon e meio que separando uma coisa de outra. Uma coisa são os Beatles, outra coisa é a merda que foi assinarem Lennon/MacCartney uma porrada de músicas, outra é a obra de Paul e uma outra coisa é a obra pequena porem magnifica obra de Harrison... mas e Ringo?
Bem... baterista não é músico, segundo o que penso e pensam muitas outras pessoas... Ringo é um cara legal, simpático, querido por todos... mas, além de ser um tremendo sortudo ( The Beatles mereciam um baterista melhor ), não contribuiu com quase nada na banda... e nas mãos de outro baterista os Beatles poderiam ter avançado muito mais, ter feito coisas melhores... não há como negar, ele fez um arroz com feijão danado...
Mas The Beatles acabaram antes de eu saber que eles existiam, e isso foi foda.
Depois fui juntando cacos e virei um fã fora de hora, sem saber quem eram os caras que eu gostava e descobrindo mais tarde que não gostava de todos e que alguns mais atrapalharam que ajudaram... depois de anos Paul MacCartney veio ao Brasil fazer o celebre show do Maracanã, e passou a ser frequente e democrático como se fosse um Ray Connif, Julio Iglesias ou Laura Pausini, tipo: virou figurinha fácil, mas ai já havia acontecido um fenômeno asqueroso aqui em São Paulo : "A tentativa de exterminar o público pelo assassinato do bolso"... assim uma estacionadinha ao redor do estadio onde iria acontecer um show do Paul passava a custar entre R$ 100 e 150 pixolés... um ingressozinho básico, mal acomodado, bem longe, banheiro sujo e com chuva na cabeça saia por módicos R$ 300 paus... uma coca-cola era facilmente comprada por R$ 15 patacas... e a qualidade de tudo não condizia nem com  o preço cobrado nem com o poder aquisitivo médio do público... ir a um show significava ir à falência... não mudou ainda, mas hoje já sobram ingressos para muitos ilustres que acabam tendo que fazer promoções de última hora... com isso, ver ao vivo, ver de perto um ídolo tornou-se coisa de 19° utilidade, é a coisa menos prioritária na vida de qualquer ser humano que se ponha a pensar os prós e os contras... sem paixão e sem fanatismo algum... mais vale um dinheiro no bolso que um gosto que vira desgosto.
Voltando ao inicio...: não sei qual a importância real teria em minha vida ver um Beatle de perto, ou ao menos de longe ao vivo, mas eu diria que muita... eu sempre dei e dou muita importância à arte deles, mesmo fazendo zilhões de ressalvas... Já pensei em ir ver o Paul mesmo contra minha disposição em não enfrentar o "mundo explorador de bolso"... mas na última hora sempre me faltou aquele segundo de insanidade para ter a iniciativa. Travei.
Mas ha alguns meses minha filha me trás um caderno de um jornal qualquer que anunciava o Ringo Star em São Paulo em 29 de Outubro no Credicard Hall, e me ofereceu o jornal quase que como a querer dizer, nessa você tem que ir...
Pensei: Imagine, queimar um sonho vendo o Ringo?, logo ele, se fosse bom seria no Morumbi, tipo Paul, sem chance... mas ontem voltava para casa como paulistano civilizado que agora patrioticamente anda de trem e deixa o carro em casa, passo, espremido, comprimido, chacoalhante dentro de um trem Osasco x Grajaú as 19 horas e 48 minutos a poucos metros do Credicard Hall, e me lembro e olho o prédio onde lá dentro a poucos metros de mim esta, já no camarim, o Beatle que eu não tenho vontade alguma de ver pessoalmente.
E chegamos à estação Santo Amaro e eu penso que não sonhei forte o suficiente, que não desejei direito, que não mergulhei tão fundo quanto deveria nessa história de ser fã... que afinal Ringo não é Beatles mas Beatles foi a banda que preencheu minha alma por toda uma vida, e que eu deveria me importar e dar mais importância a isso... não dei.
Passei anonimamente, na mais plebe passagem possível perto de alguém que queira eu ou não, simboliza algo que é importante para muitas pessoas... e eu ao invés de gritar: Lindo, mais um, apenas ouvi: - Próxima estação Santo Amaro, desembarque pelo lado esquerdo do trem, cuidado com o vão entre o vagão e a plataforma. Foda, só agora entendi porque foi que o sonho acabou.


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