Sempre encontrava com uma moça que corria em horário variados nas estradas que serpenteiam a zona rural onde moro. Algumas vezes nas estradas de terra outras na pista principal, estreita e perigosa. Muitas vezes ela passava diante de minha casa enquanto eu trabalhava na cerca ou lidando com a grama ou o mato. Anos seguidos, ela de cabeça sempre baixa, séria e ritmada, nunca nenhum cumprimento.
Por estes dias fui a Lan House aqui da vila, por sinal muito bem organizada e no meio da floresta, e percebi que conhecia a moça do balcão, quando fui pagar minha conta perguntei se ela era a moça que corria, e a resposta foi afirmativa. Para atrás de um balcão fica difícil reconhecê-la. Fiz algumas perguntas sobre o habito dela de correr e ela respondia tudo com muitos detalhes e satisfação. Pois a moça, para minha completa surpresa, participa todos os finais de semana de alguma prova de corrida de até 25 kms, raramente não sobe ao pódio, na maior parte das vezes é no mínimo 3ª colocada mas é mais comum vê-la no primeiro lugar.
Não são provinhas, são provas importantes por todo o estado de São Paulo, Minas, Paraná e Rio de Janeiro. A Federação Paulista escolhe qual prova ela vai fazer e ela na maior parte das vezes nem sabe para onde vai viajar. Mostrou-me uma série de fotos suas no alto do pódio, mas não mantém nenhum blog, site ou qualquer outra forma organizada de historiografia de sua gloriosa carreira, perguntei por que não faz, e ela simplesmente respondeu que não.
Ela é daqui, e aqui é uma ilustre desconhecida e também não conhece muita gente.
Falou-me de uma prova realizada em plena Serra do Mar em Paranapiacaba – Santo André, morro acima e morro abaixo em trilhas estreitas, cheias de galhos, pedras lisas que conheço muito bem, e mais prova difícil realizada em duas horas e meia a noite, meu pai do céu. Ela venceu.
Impressiona-me a região em que vivo, a alguns anos bem próximo da Lan House da corredora eu fui conhecer uma maquete de ferreomodelismo com uns 30 metros quadrados, um verdadeiro primor de um certo senhor Helmut – alemão – que os vizinhos chamam de Raimundo. Montanhas feitas de cimento absolutamente realistas, dioramas em réplica de localidades que o Sr. Helmut havia estado com sua esposa, uma pequena maravilha oculta na mata, melhor que muitas, alias, que a maioria que já vi em uma revista americana que vez por outra compro chamada Model Raylroad que é uma bíblia do hobby de trenzinhos elétricos.
Na verdade aqui é um lugar onde somente três tipos de pessoas vivem: os excêntricos como eu e meus amigos, os bravos e corajosos e os funkeiros,pagodeiros e pancadeiros para nosso desgosto.
Um comentário:
Ah Vitório... vc é dos artistas e vencedores também. =)
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