PENSANDO

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sábado, 20 de julho de 2013

UM ESTRANHO NUM LUGAR ESTRANHO.



Andei muito pelas ruas de São Paulo nos anos 70, a cidade era carente e careta. Carente de tudo, mas nós não sabíamos disso, não tínhamos a noção do quanto nos faltava, e faltava muito.
Me ausentei nos anos 90 e voltei a ela somente aos poucos quando já havia mudado de forma bastante radical.
Nos anos 80 rola uma pequena fase de mudança, os primeiros anos do novo milênio já traziam a força das mudanças e  nesta década São Paulo mudou muito, mas não foi para pior e nem muito menos para melhor.
Ficou numa fresta entre as duas coisas, de modos, que pessoas de alma tenra e sensível como a minha podem com muita facilidade notar duas coisas, existem agora simultâneas cidades de São Paulo no mesmo espaço físico, antes havia uma só... e São Paulo não quer mais pessoas como eu andando por suas ruas e frequentando os seus lugares... na verdade São Paulo não tem vontade própria e nem quer ou deixa de querer nada, mas é que entre as várias cidades que coexistem simultaneamente ( será que redundei ?) há uma pressão que na escola chamávamos de linguiça, ou seja: no recreio sentávamos num banco qualquer da escola e sempre tinha mais bunda do que banco querendo frequentar o repousório, então a solução era empurrar para um dos lados de modos a fazer com que alguém em uma das pontas caísse no chão para sobrar mais espaço, não que com isso sobrasse mais lugar no banco, porque quando a coisa ficava animada começava a atrair mais gente para disputar o espaço, era uma aporrinhação... e por que linguiça? Suponho que por ser algo parecido com a máquina de fazer linguiça e seu método de empurrar a carne para dentro da tripa, se você não entendeu, não se preocupe, eu entendi e basta.
Mas São Paulo empurra para fora o tempo todo e tenta ocupar o lugar com algo cada vez mais plástico, sem alma e padronizado com o resto do mundo. Aos poucos aquelas coisas legais que a cidade tinha vão indo pelo ralo, dois exemplos: a casa onde morou Oswald de Andrade na Rua Augusta e depois virou um charmoso e aconchegante restaurante foi para as picas e por detrás dos tapumes deve surgir mais um prédio padronizado no mau gosto arquitetônico de São Paulo, é, e o inexistente padrão paulista, sua falta de personalidade estética se propaga rapidamente, a cada dia a cidade se transforma em algo mais e mais monstrengamente horrível e sem personalidade ( mas para que afinal eu quero que fique eternamente em pé a casa onde morou, por uns tempos, uma autor que eu não tenho saco para ler? )... o outro exemplo é o primeiro shopping da cidade, o Iguatemi, estive lá na quinta feira ( deixa eu registrar a data aqui 18 de Julho de 2013 por volta de 18:30 horas ), e ele que era uma lugar bem bacana nos anos 70, embora longe para cacete do centro e de tudo, ficava na beirada da cidade na época, hoje é a coisa mais monótono e sem vida que se possa imaginar... lojas carésimas, produtos para bilhardários, um super mercado com produtos cotados a peso de ouro, lojas com nomes, ou pseudonomes, pretensiosos de seus próprios donos tentando se perpetuar como icones da vanguarda criativa de algum raio de produto supérfluo de consumo e uma frequência de um tipo de povo ( ô raça! ) que não invejo, parece uma exercito de Robertos Justus ou de Joões Dórias... o povo parece feito de plástico.
Foi-se o encanto, a novidade... todos olham surpresos para as coisas surpreendentes mas fingem não mais se surpreenderem com nada, como se fossem vindos do futuro para uma capital jeca que tenta se igualar ao que há de mais avançado no mundo, mas que é na verdade cenário, tapume e maquiagem para esconder o que realmente é: uma cidade inculta, sem alma, estilo e linguagem onde tudo falha o tempo todo e onde não se encontra solução para nada... e ainda somos invejados - veja que tem uma ninguenzada pior que a gente.
Porra por mais que eu deteste, tenho que me render à letra da música Sampa de Caetano Veloso, me doí publicar isso, mas este encrenqueiro de plantão viu antes da gente, talvez apenas porque tenha vindo de fora... É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
          Da dura poesia concreta de tuas esquinas
          Da deselegância discreta de tuas meninas...
assim como hoje muitos que aqui nasceram se sentem... parece que estamos morando num albergue de indigentes, parece que somos de fora, parece que não pertencemos mais a este lugar, mas é só impressão.

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