PENSANDO

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sexta-feira, 12 de março de 2010

ZERAR OU FIXAR.

No final dos anos 80 uma colega de serviço passou a se aproximar de mim para que eu service de ponte entre ela e um outro colega meu por quem ela mais tarde me diria era apaixonada.
Quando o esquema todo ficou claro eu disse a ela duas coisas: uma, que ela estava disputando com um monte de outras pessoas que também queriam o cara e outra que ela também era alvo de uma outra pessoa que gostava dela e nunca havia se declarado.
Ela ouviu a primeira e me pediu ajuda e esqueceu a segunda parte.
Acabamos com isso ficando mais amigos, ou mais do que colegas e um dia conversamos longamente sobre a questão dos por quês da história toda.
Ele, na opinião dela, era único, bem vestido, firme nas colocações, distante com um ar de mistério, bonito ( não era mesmo ), atrevido, engraçado e um monte de outras coisas que na verdade eram pura fantasia da cabeça dela. O cara era casca quando tinha que ser, as roupas estavam meio fora de tamanho e moda, as piadas eram grosseiras e a tal distância era a mais pura arrogância. Fiz ela ver tudo isso mas ela não viu, apaixonada e cega seguiu firme e forte em seu plano de conqusita-lo.
Passei a cuidar da outra parte, falei para o colega que gostava dela prá atacar porque eu achava que ele teria alguma chance se ocupace o espaço afetivo não correspondido. Deu parcialmente certo, porque saimos todos juntos e depois eles sairam juntos algumas vezes. Mas a coisa não firmou, o cara se desencantou quando a conheceu mais de perto e viu que não era a pessoa que ele queria para ele. Saiu e sentiu que era chata. Ela como não teve uma oportunidade de se tornar mais próxima de seu objeto de desejo continuou com a imagem intacta na cabeça.
Mas eis que surje um outro pretendente para ela e em poucos meses estão casados.
Fiquei meio distante neste período, mas para minha surpresa depois de alguns poucos meses de casada como ela continuasse a trabalhar comigo perguntei como estava a vida nova e ela me disse que estava bem, mas que continuava apaixonada pelo outro.
Quase caindo da cadeira e não escondendo minha indignação para com ela, perguntei como ela tinha coragem de se meter numa situação daquela? Resposta idiota para uma preocupação inconveniente e idiota minha também. Era assim porque era assim foi a resposta dela. E mais agora ela se achava mais a vontade para atirar-se sobre ele e trair o marido. Ela havia ganho uma desenvoltura notável com o casamento. Passei a falar menos com ela e a me policiar para não fazer parte de mais nada já que as regras agora eram outras e bem claras.
Com isso não tenho um final para contar-lhes, mas tenho comentários a fazer.
Não foi o primeiro caso de forte fixação que conheci. Houve um caso muito mais doentio de um colega em outra empresa que não conseguindo conquistar a garota de seus sonhos, também colega de trabalho, achou entre as outras colegas que tinhamos, uma, que por sinal era uma menina linda e de forte personalidade embora muito doce, que tinha algumas semelhanças fisicas e nenhuma outra semelhança de personalidade ou comportamento com a amada original.
Mas ele não viu nada disso e se apaixonou pela clone sem no entanto deixar de ser apaixonado pela outra. Parecia que ele estava aguardando que algo acontecesse e ele poderia então fazer a escolha de seus sonhos, trocar a clone pela original. E aconteceu, a clone botou um tremendo chifre nele com um amigo dele, que sabendo de detalhes demais sobre a clone achou varias brechas e não perdeu a oportunidade. O meu colega acabou sendo avisado e até levado por um grande amigo nosso, um senhor idôneo e de boas intenções, que o levou à cena do crime e ele vendo a clone nos malhos com o seu grande amigo preferiu não ver nada para não ficar sem a duas e casou-se com a clone. Poucos souberam dessa odisséia toda, mas o resultado é que ele aprisionou a clone num apartamento no centro de São Paulo, e tocou a vida com um casamento mediocre e uma paixão não correspondida por outra pessoa para quem mandava flores, bombons e bilhetinhos anonimamente depois de casado.
Fixações de todas as espécies passaram pela minha frente e eu mesmo volta e meia me via enrascado em alguma delas, eu também tinha a facilidade de me apaixonar pelas pessoas e pelas coisas. Mas depois de algum tempo, penso que num determinado momento, me toquei e mudei a regra do jogo, passei a usufruir do que era possível nas pessoas e nas oportunidades. Meio leviano segui flertando com as possibilidades e já não tendo aquele peso e aquele sofrimento próprios da adolecencia. Mas isso não aconteceu exatamente no final da adolescencia, aconteceu com algum retardo, não muito. Mas passei a identificar de forma mais clara os casos patológicos de fixação e posseção. E sempre que pude dei um toque. Mas algumas pessoas como no exemplo do primeiro caso se fecham às novas oportunidades de conhecer alguém e buscar uma felicidade alternativa. Ficam tão fixas na primeira opção que passam a perder todas as outras possibilidades, e mesmo estando diante de alguém melhor não conseguem ver este melhor. E assim ficam sofrendo o amor não correspondido e não correspondendo aos pretendentes.
Acontece também em relação a consumo e outras possibilidades onde transitam sentimentos.
O medo de não conseguir é tão grande que a pessoa concentra toda sua energia naquele objetivo e se fecha para todo o resto. Mesmo sendo o resto muito melhor que o objeto da paixão. A troca é burra.
Na verdade o erro é pensar que só porque a pessoa quer algo, tem direito a ele, e também pensar que tem alguma coisa, quando não tem nada na verdade, pois o desejo é algo abstrato e por mais investimento que se tenha feito no sentimento este sentimento nada mais é do que sonho e se evapora a todo momento. Sonhando então que esta acumulando um patrimônio sentimental e que isso um dia se materializará em um bem físico afetivo que enfim virá, a pessoa passa pela vida, se torna perdedora e um dia a ficha cai.
Todos os despresos e descuidos então se tornam claros e a pessoa se pergunta: - Como foi que eu não vi isso?
Frustração, ódio e porre, consigo, com o objeto do desejo e porre de vida mesmo.
Apaixone-se mas mantenha um pé do lado de fora, entregue-se 99%, deixe um por cento de lucidez para te prender a realidade e se necessário te resgatar da burrada completa, não deixe que ela seja completa, seja parcialmente burro apenas.
Soluções alternativas são menos condenáveis que desperdícios totais.
Minha colega resolveu investir num adultério para sentir o gosto daquilo que tanto queria.
Não saberemos se isso se realizou.
Meu colega resolveu investir numa farsa onde só ele era iludido para sentir não sei que gosto, mas me pareceu ser o gosto do ódio por ele mesmo.
Ambos buscaram alternativas estranhas aos invés de zerar e reiniciar como fazemos com o computador quando tudo parece estar dando errado.
Eu acho que o zerar fere mais, mas é muito mais apropriado quando visto no conjunto da história de uma pessoa.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O FUTURO É O QUE VIRÁ.

Numa comédia chamada "Alguém lá em cima gosta de mim", um funcionário de um supermercado é contemplado com uma visita de Deus, que é interpretado pelo ator George Burns.
O cara então pergunta para Deus se ela sabe o que vai acontecer no futuro e ele responde:
- Sim, no exato momento em que ele se torna o presente, como todos vocês.

FAVOR NÃO MEXER.

Alguns lugares são especiais e devem ficar intocados.
O conforto consome a beleza.
Mudar para melhor na maioria das vezes é destruir o bom. E o sonho de melhor, mal formulado, engana e tira a oportunidade de sentir o especial, o deslumbrante.
Tem coisas que não podem e não devem ser tocadas, mudadas.

sábado, 6 de março de 2010

ANARQUISTAS RUSSOS

Em 1982 fui com duas amigas assistir um filme num Sábado chuvoso no Cine Belas Artes e na saida entramos numa pequena livraria no finalzinho da Av.Paulista e lá me encatei e comprei um livrinho editado na espanha chamado: Os Anarquistas Russos de Paul Avrich. Cheguei em casa e comecei a ler o livro em castelhano e fiquei mais encantado ainda. No dia seguinte fui a casa de uma amigo no Ipiranga e levei o livro dentro de uma bolsa de jeans que tinha.
Quando saimos da casa dele meu carro havia sido aberto e tudo que havia dentro dele tinha sido roubado, e no pacote o livrinho. Que perda.
Depois de alguns meses achei outro exemplar e comprei, tenho até hoje e é delicioso ler os sonhos inatingíveis dos anarquistas. Quando me sinto meio agoniado com o estado opressivo ( que papo mais anos 60 ), leio o livrinho para me lembrar o que é sonhar. Aquele negócio de acreditar que é possivel mudar tudo não deixando nada sobre nada e transformando uma sociedade arruinada numa sociedade perfeita e repleta de boa vontade. Soa ingênuo o tempo todo, mas também você percebe que o cerumano ainda é o mesmo de 150 anos atrás e que uma vida mais humanizada esta sempre potencialmente ligada ao ponto por onde a sociedade deveria escapar deste enrosco que se enredou. Num dado momento no livro tem uma frase deliciosa ( para mim; e adaptando para algo mais global, já que ela trata da Russia do final do século 18 ) : "...oscila entre dos mundos, uno agonizante y el otro sin fuerza suficiente para nacer" ou " ...oscila entre dois mundos, um agonizante e outro sem força suficiente para nascer".
É isso é exato e cabível para o dia de hoje. A sociedade perdeu a capacidade de mover para fora dela as coisas que não lhes são adequadas. Grandes movimentos sociais gritando por mudanças.
Quem sabe dizer hoje o que esta errado e o que deveria ser mudado? Que bandeira assumir? Ao lado de quem se alinhar sem ser enganado e usado?
Falta justamente este conteudo, a clareza que faz com que se saiba onde colocar a energia e criar a força que precisa existir para mudar. Inexiste a força porque ninguém sabe o que precisa ser feito para matar a sociedade que agoniza mas não esta ferida de morte, e vai ficar muitos séculos girando em torno do nada e não proporcionando nada de bom para ninguém.
É chato chegar a um objetivo num instante, êpa... esta frase tem dono e é de um anarquista celebre: Raul Seixas ( mas pode ser de algum parceiro musical dele ). Mas é muito mais chato não ter um objetivo a que chegar.
Hoje os objetivos são todos individuais ou de pequenas comunidades ou grupos familiares.
Não tem nada movendo a sociedade como um todo, tá pobre de sonhos e de objetivos a humanidade. Estamos num vácuo de sonhos e assim não se potencializam possibilidades de mudança.
A história vai nos rotular de culturalmente pobres, e somos.
Nossa cultura social é a de obter satisfação individual e o que é pior, de se satisfazer com pouco, e pior ainda, esse pouco é fútil e banal, não vai além de um bem pouco durável tipo um celular.
Enquanto isso alguns mais espertos, mas não mais felizes, deitam e rolam acumulando e concentrando a grana e tornando a todos nuns sonhadores fracos e ingênuamente felizes.
Um celular serve para bem pouco além de simplesmente tê-lo, é fácil obte-lo e é chato chegar a um objetivo num instante.
Um dia chegara em que os anarquistas derrubarão todas as antenas de celulares do mundo... pô, isso sim é um sonho. E as pessoas deixarão de falar abobrinha no telefone só prá mostrar que tem um e passarão a falar pessoalmente com as pessoas, nem que prá isso tenham que atravessar a cidade, mas só o farão para falar coisas relevantes, até porque ninguém é besta de ficar atravessando uma cidade prá ficar de conversa mole... ou sim?

O QUE É BOM É PRÁ SER MOSTRADO.

Este vaso sanitário é muito bom.
Você lava a roupa e enquanto isso pode largar um barro tranquilamente.
E mais, depois ainda dá a descarga com a água utilizada na lavagem com grande economia para as despesas do lar.
Economiza tempo, água, sabão para lavar o vaso, pedra sanitária e acho que até papel higiênico ( não é possível que não tenha um esguichozinho embutido em algum lugar, com a vantagem de vir com amaciante e odor de flores do campo ).
É bom demais.

O PIOR CEGO É AQUELE QUE É BURRO.

Este local é onde alguns anos depois seria construída a Marginal Tiete. O Rio é o Tiete e a cidade ao fundo é São Paulo em 1960, provavelmente entre Janeiro e Março.
Insistindo no erro foram alargando e afundando a calha do rio, construindo piscinões, instalando bombas dágua e armando uma estrutura cara, infrutífera e burra.
Eu conheço bem a cidade e sei de sua história de 1968 para cá, quando passei a ir muito ao centro e a conhecer a maioria dos bairros. Hoje conheço muito pouco da cidade porque não é possível acompanhar o desenvolvimento e por conta do sistema viário que desenvolveu grandes corredores fazendo com que você não entre mais nos bairros, daí você só conhece mesmo os lugares onde vai e não por onde passa. Mas a TV mostra tudo, e todos dias o SP TV mostra com seus helicópteros os rolos que acontecem por aqui. Um dia é um caminhão que entala numa passagem de viaduto mais baixo, motoqueiro morto todo dia ( são 3 por dia ) interrompendo a normalidade das grandes vias, caminhão derrubando passarela, viaduto desabando, incêndios, passeatas, pontos de alagamento, obras desmoronando, morros desmoronando, cargas espalhada pela pista por caminhoneiros que erraram o cálculo, helicóptero caindo, avião caindo, greves, obras, adutoras estouradas, túneis alagados onde se pescam tilápias de 4 quilos e a cada dia tem uma novidade e uma coisas fora de controle. Ou seja a cidade esta fora de controle.
Mas veja a foto, se em 1960 era assim não teria sido melhor ir construindo ao invés de uma grande metrolpole uma série de pequenas cidades ao longo das ferrovias e estradas?
Em 1973, se não me falha a memória começou a construção do metrô. Dava orgulho ter o metro, mas justamente onde foi construída a linha do metro é onde hoje mora menos gente em São Paulo. O entorno das estações do metro é sempre um bairro fantasma. A Estação Bresser é gigantesca, tem um terminal de onibus rodoviários desativado e lá não desce nem sobe nenhum passageiro, porque lá não tem mais nada funcionando. Onde estão as coisas então?
Estão nas pontas das linhas de onibus que se interligam com o metro. O custo da região onde fica o metro expulsou as pessoas e os negócios para longe, onde o metro propriamente não chega.
Entre o centro e os limites da periferia existem grandes manchas de terra decadentes, vazias, com prédios abandonados e com infra estrutura disponível, já onde estão as pessoas inexistem a infra estrutura, o metro, as construções adequadas e a presença do poder público.
São Paulo é uma cidade burra, cara, grande e mal ocupada.
Hoje 57% dos entrevistados dizem querer mudar daqui. A cidade não é mais o sonho de quem mora aqui, deve ser sonho só de quem não conhece como é a vida por aqui.
O tempo perdido para se ir de um lugar a outro é enorme, você não consegue cumprir horários e ir a uma consulta médica por exemplo pode ocupar mais de meio dia, custar uns R$ 20,00 de combustível e mais uns R$ 12,00 de estacionamento. É muito tempo e dinheiro desperdiçado.
A cidade é insegura, suja, desigual, com obras obsoletas ou inadequadamente construídas e portanto subutilizadas. É o que mais tem aqui.
Jamais deveriam ter construído as marginais, deveriam ter limitado a construção de imóveis no geral, não deveriam ter permitido a urbanização das regiões de mananciais nas serras, não deveriam ter construído o metro e deveriam ter limitado a cidade a uma população de nó máximo 4 milhões de habitantes, hoje já somos 20 milhões.
Não há como atender a todos com qualidade. Mas o erro continua, estão alargando as marginais, ampliando o metro e cobrindo o que resta de terra a céu aberto na cidade, daqui a poucos anos a cidade vai ter uma média de mortes muito grande por dia em função dessas coisas que listei acima, morar aqui vai ser uma arapuca cada vez mais traiçoeira. Morrer aqui vai ser a coisa mais corriqueira e banal.
Num futuro não muito distante a família vai poder levar o morto para o cemitério de metro.

sexta-feira, 5 de março de 2010

LOUCO É POUCO.

Quando o Sr. Jânio Quadros resolveu seguir a carreira política tenham todos a certeza de que nosso cinema e teatro perderam um grande humorista. Além de totalmente maluco, e coloca maluco nisso ele tinha uma cara que ajudava muito, e mais, ele tinha gestos e expressões físicas que dispensavam qualquer texto. Carlitos seria uma formiga perto dele.
Eu o vi pessoalmente umas duas ou três vezes e ele era já bastante idoso. Mas continuava uma cara muito engraçado.
Uma vez conversando com um janista roxo, um colega de trabalho Sr. Agostinho, pude ver o que era um cara ser fanático por alguém, me meti a besta a dizer que o Jânio era cômico e o colega se ofendeu e ficou não só me passando um sermão de horas como mudou completamente o tom comigo dali pra frente, e um dia quando fui demitido da empresa durante minha férias, soube por outros colegas que tinha sido por conta do Sr. Agostinho, vejam o que dá um comentário impróprio. Na verdade impróprio não é a verdade, porque consegui um emprego muito melhor, recebi um indenização que veio em boa hora e fui trabalhar na empresa onde um dia encontraria a mulher com quem me casei, vejam o que dá um comentário impróprio quando a gente tá com sorte.
Mas o Jânio era uma mistura de doido e esperto. Fazia o tipo e dizia frases famosas tais como: " Fi-lo porque qui-lo", "Bebo porque é liquido, se fosse sólido comia".
E fazia coisas engraçadas que ferravam todo mundo, tipo: Fechar o Parque do Ibirapuera quando era prefeito de São Paulo, para os ciclistas e skatistas, e espera-los com um caminhão pipa pra rechaça-los com jatos de água. Também não podia entrar cachorro. A vida do parque era e é os ciclistas, os cães e os skatistas e patinadores. Impensável um parque sem eles. Mas Jânio era londrino, queria um parque para idosos sentarem em seus bancos e refletirem sobre "terríveis forças ocultas", queria um parque tranquilo e seu gabinete de trabalho ficava lá.
Para dar um clima de Londres a São Paulo ele mandou construir onibus de dois andares e pintou-os de vermelho, vejam que original. O nome deles era: "Fofão" e o primeiro que tentou sair da fabrica da CMTC ( Companhia Municipal de Transporte Coletivo - estatal municipal do transporte público na época ) encalhou na saida, pegava no chão e teve que voltar até que reformassem a saida e só então pode ser inaugurado, a imprensa adorava. Tudo o que ele fazia era estrangeirismo, ele próprio um matogrossense não se sentia muito em casa aqui em São Paulo.
Em meu novo emprego eu tinha um amigo o Antonio Carlos que morava na Vila Olimpia e fazia um trajeto que um dia coincidiu com o do prefeito, naquela época o transito em São Paulo andava mais mas era muito indiciplinado, ou seja, todo mundo parava sobre a faixa de pedestres no sinal fechado. o Carlão um dia fez isso e eis que o Jânio viu, desceu do carro oficial e foi interpelar o Carlão já com um bloco para anotar a placa e multa-lo. O Carlão não tolerava o Jânio, que alias não havia meio termo, ou você era Jânista ou odiava ele. Carlão não teve dúvidas, quando viu que já estava multado soltou um sonoro: - Vá tomar em seu ... e foi embora.
Eu via a multa chegar e o Carlão pagar com gosto.
Jânio teve uma passagem triste pela história do Brasil com sua renuncia e com os bastidores de seu governo então. Abriu a história para o Golpe de 64 e seus acontecimentos brutais subsequentes.
Mas ficando com a parte divertida, os olhos esbugalhados, a fala arrastada, os óculos sempre fora do lugar e sua eterna cara de embriagado, foi um personagem único na história do Brasil, bem como seus seguidores que se encantavam com o jogo de cena que dava na prática sempre em nada.
Nem sei porque ele veio a baila neste momento, acho que só para não esquecer a figura.

quinta-feira, 4 de março de 2010

NÃO CUSPA NO CHÃO, A NÃO SER QUE NÃO ESTEJAM TE OLHANDO E NEM TENHA UMA MANEIRA DE DESCOBRIREM QUE FOI VOCÊ, ENTÃO SEGURA OU DISFARÇA DIREITO.

Cada um tem seu jeito de ser.
Com isso, cada um gostando de tocar a vida de uma maneira impar sempre acaba esbarrando no modo impar do outro. Restam as afinidades, que embora ocupem o menor espaço no território individual são por onde nos ligamos aos demais dos grupos que formamos ou eventualmente participamos.
Aqui poderemos falar então sobre tolerância e compaixão. Tolerância não é meu forte, já compaixão sempre tive e reforço a cada dia que mais leio sobre ela nos ensinamentos budistas.
Mas ter compaixão também significa tolerar, só que se você entende o próximo, coloca-se em seu lugar e tolera seus erros pratica de forma geral duas coisas meio chatinhas, uma é aceitar eventuais erros de conduta e outra e contribuir para que o grupo fique estagnado e digamos isolado dos que não agem como a gente. Resumindo: você acaba por formar um grupo de chatos que ninguém aguenta a não ser você.
Mas como cada pessoa tem lá suas caracteristicas e considerando que é muito dificil mudar algo em alguém a coisa é tolerar certaz bizarrices do dia a dia. Temos um grupo de amigos bastante próximos que se encontra todas as semanas e alguns que não fazem parte do mesmo grupo mas que são pessoas fortemente marcadas por suas manias, maneiras e caracteristicas muitos fortes. Não sei como o grupo sobrevive, acredito que somos muito maduros pois vira e mexe arrancamos os rabos mas não guardamos rancores.
Há algo de doente em degladiar e não emburrar, mas vamos considerar que isso seja elevação de alma e não carencia.
Um dia uma amiga disse que eu e minha mulher eramos muito fresquinhos ou chatinhos, dificeis de agradar.
É fato, não gostamos de churrasco, eu não gosto de vinho, só gosto de pizza de mussarela, nosso gosto musical é muito especifico na maioria das vezes ( baladas com sertanojo, pagode e pancadão nem pensar ), não fazemos certos programas e dizemos ao possivel anfitrião que é programa de indio e outros rasgos de sinseridade que aos olhos dos outros é pura grosseria. Mas se todos soubessem a verdade, o quanto engolimos de sapo mas depois no rescesso do lar reclamamos prá cachorro, seriamos canonizados. Com isso seguimos um frequência social que embora não seja 100% do agrado é no entanto o natural da vida de qualquer um. Mas eu não vou mais a festas em buffet, não vou mais a casamentos e eventos que acabaram se tornando reuniões artificiais e repetitivas.
Um festa mais pessoal num barzinho escolhido com um grupo interessante ou na casa de alguém é um programa que ainda me agrada bastante, principalmente se me chamarem para ajudar, não gosto da atividade passiva de convidado, prefiro estar na produção.
Mas assim como me esforço para me tornar um cara tolerante tenho a certeza que muitos são tolerantes comigo e por isso a coisa anda. E por outro caminho eu procuro diminuir meu fogo, não pressionar tanto os outros com minhas exigências e estou procurando saber parar e recuar diante de um potencial embate. Transformo o conflito em uma piada e tiro a pressão do evento, sempre que posso.
Agora, vamos lá, prá você ter 5 minutos de afinidades precisa encarar os 55 restantes de pisadas em ovos?
Acho que não, temos que trocar algumas chateações, esse estado mutuo faz os outros também sentirem que o grupo tem que se respeitar e principalmente se suportar. A perda deste equilibrio é, no entanto, uma constante e tem sempre alguem se incomodando com algo ou com alguém e no final fica lá uma pontinha de chateação pela noite não ter sido tão legal assim.
Mas as regras básicas são:
Prá conviver vocêm tem que demonstrar respeito mas não deve levar a sério a pessoa, por tráz podes cascar o bico.
Tudo que te disserem e que você tiver a certeza que esta furado, fala na cara, desconcerta mas não polemiza, deixa o clima subir só um pouquinho de temperatura ai você vai ao banheiro e fica rindo para o espelho enquanto tira alguma couvezinha do dente ou meleca do nariz, enquanto a contraparte de contorce em cólicas.
Antes de intercarlar-se com outros faça um mapa bem estudado do território e saiba onde poderá pisar prá não atolar em polemicas ou ter que suportar o chato da noite no teu pé querendo a tua concordancia ou cumplicidade.
Não discuta jamais com bebados e loucos, jamais. Estes apenas observas para aprender a como não ser.
Se o assunto for ruim e a comida for boa, foca na comida; se o assunto for ruim e a comida for pior foca nas coxas de alguém, se as coxas inexistirem vai prá casa dormir porque já tá tarde.
Tenha compaixão dos nécios, mas só depois de deixa-los cabreiros.
Se alguém te disser uma besteira sem tamanho, ri na cara e corre.

Bem estas são apenas poucas e aleatórias regras a serem seguidas, a vida é mais ampla que isso e as possibilidades são infinitas. Mas o basico é ser tolerante, ter compaixão e não deixar de se divertir por conta disso.

Nota:
A ilustração desta postagem é do artista norte-americano Norman Rockwell que sempre faço questão de colocar aqui para que todos conheçam seus trabalhos. A imagem acima é provida de uma força e de uma emoção arrasadoras. Me impressiona a sacação dele de retratar um senhora franzina e seu neto num ambiente ostil completamente alheia aos frequentadores e com total dignidade impondo seu modo de ser e sua fé e chocando pacificamente os demais. Aprendi muito com esta imagem e passei a frequentar qualquer lugar que queira sempre agindo com respeito, dignidade e fiel ao meu modo de ser. Esta imagem estava já  a mais de um ano esperando para ser publicada.

terça-feira, 2 de março de 2010

ALICE NÃO VÊ O QUE PRECISA SER VISTO.

MaRy JoE fez uma postagem em seu blog que achei muito impostante comentar.
Mas como não consegui de forma alguma comentar no blog dela, aqui vai o comentário, depois entrem no blog Afinando e leiam a postagem dela por quê vale a pena mergulhar no tema.

Pode haver muitas opiniões mas existe apenas uma verdade.
Alice não vê o que precisa ser visto.
Ela gosta de sua gata mas despreza o fato de que a gata é uma predadora de ratos.
Não é culpa da gata, mas a natureza faz com que ela seja assim, além de ser carinhosa com Alice, por interesse próprio e linda. Com isso Alice releva e não vê que a gata é uma assassina de ratos.
O rato não vê beleza na gata, vê apenas o enorme risco que corre em sua presença.
Alice erra, não que devesse odiar a gata, mas deveria ter a sensibilidade de saber que conversava com um rato. Se Alice fosse uma juiza inocentaria a Suzane Richthofen, porque a Suzane é bonita, jovem, tem um rostinho meigo e certamente é uma pessoa carinhosa, mas é uma pessoa condenada por participar de um assassinato.
Alice julga por seus interesses e despreza a verdade.

James Bond é bonito ( fora o último que é mais feio que brigar com a mãe por causa de mistura ), charmoso, cavalheiro, elegante, parece ser bom de cama mas é um assassino de um dos lados da história, e tem licença pra matar quem esta do lado adversário. Julgando James Bond ele é assassino tanto quanto um cara baixote, carrancudo, com cicatriz no rosto e cara de mau.
Podemos então olhar uma história pela angulo que quisermos mas a verdade só tem um único angulo.

Chegamos agora à educação.
Uma escola é uma memoria afetiva e um tradição, depois disso ela é um prédio e um organização interna que produz saber. O conjunto prédio, ex-alunos e professores ( ex ou não ) formam uma referencia em nossas vidas. Não se passa por cima disso. De nada adianta renovar os metodos de ensino e projetar o futuro do saber, se para isso você destroi a tradição e a memória afetiva das pessoas.
Não existem varios lados aqui também, aqui existe uma verdade única, a que escola é memória e tradição.
Quando o Brasil foi descoberto já existiam universidades na Europa que existem até hoje.
Podem estar certos que ninguém reformulou o ensino lá destruindo o passado coletivo.

segunda-feira, 1 de março de 2010

CAMINHO SUAVE


Vi um documentário a algum tempo que falava sobre o ensino no Japão.
O diretor de uma escola determinava que os alunos fizessem um desenho livre numa folha tipo A4 ( sulfite ) e os desenhos eram identificados com o nome do aluno a turma e o ano de sua execução, não estou certo se no primeiro dia ou no ultimo dia de aula dele na escola.
Os desenhos foram sendo guardados em envelopes fechados por décadas.
Num determinado momento acharam por bem ver os desenhos, eles foram então desenvelopados e colocados lado a lado por ordem cronológica, ocuparam completamente a quadra de esportes da escola. Para o acontecimento todos os ex alunos foram convidados a voltar a escola e rever seus desenhos. Muitos voltaram e muitos não lembravam o que haviam desenhado. Mas havia uma lógica no conjunto, e a história do Japão estava contada na sequência dos desenhos realizados individualmente mas que guardavam grande harmonia entre si.
Épocas tranquilas eram repletas de desenhos de acontecimentos cotidianos, a Segunda Guerra estava descrita passo a passo, as bombas de Hiroshima e Nagasaky estavam la, a rendição e a reconstrução do Japão também.
Alguns alunos já eram idosos quando reviram seus desenhos e já não sabiam mais dizer porque havia desenhado aquilo, a razão de suas escolhas. Mas adoraram e se emocionaram com os vários reencontros que tiveram a oportunidade de fazer naquele dia.
Era uma ideia tão simples e de tão baixo custo de ser realizada que eu na ocasião comentei com a dona da escola onde minha filha estudava que seria muito legal fazermos o mesmo.
- Ah... é... é seria...
Ficou nisso. Faltou-lhe tudo, sensibilidade, grandeza, compromisso e amor.
Minha filha saiu de lá, tem vagas lembranças da escola, passou por outras e hoje estou louco pra tira-la da escola onde esta atualmente porque não gosto de lá e da equipe que a toca.
Uma escola não deveria ter grades, deveria ser proibido. Deveria ser um prédio cheio de janelas grandes no meio de um gramado. Quem ousasse algo contra a escola deveria ser preso por 100 anos. Deveria ser um lugar sagrado, e uma escola deveria ser como uma igreja, você apenas a deixa ficar velha mas nunca derruba uma.
O ensino é outro universo, deve-se modernizar e atualizar mas o conceito escola deveria ser o do sagrado, imutável, permanente. Deveríamos ter a certeza de sempre poder voltar ao prédio onde fizemos o curso primário e encontra-lo lá. Nossa passagem por ele deveria ser respeitada e deveríamos voltar lá a cada tempo pra cuidar do prédio e do jardim mesmo que nenhum filho da gente estivesse lá estudando, e se possível deixar nosso nome numa parede, onde todos os alunos deixariam também seus nomes escritos e ninguém tocaria neste outro sagrado.
Escrevo isso porque quando a Mary Joe disse que na cidade dela vão fechar uma escola que viu 50 anos da história de uma pequena localidade passar por seus corredores e agora ela não tem mais importância, fiquei pensando no quanto é pequena a alma de quem decide que deva ser assim. É no mínimo muita falta de imaginação e afeto fazer isso.
Imagino que se um dia o Grupo Escolar onde estudei for demolido, vou lá e queimo meu diploma no terreno vazio.
Quando vendemos a casa de minha avó senti esse peso de deixar que botassem no chão a casa onde estavam minhas lembranças da infância. Não poder voltar a um lugar importante é um perda irreparável.
Gostaria de saber o nome do diretor de escola japonês que teve a ideia de preservar os desenhos e com eles a alma daquela escola. Uma ideia tão simples e uma reverencia tão grande aos alunos