PENSANDO

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sábado, 6 de março de 2010

ANARQUISTAS RUSSOS

Em 1982 fui com duas amigas assistir um filme num Sábado chuvoso no Cine Belas Artes e na saida entramos numa pequena livraria no finalzinho da Av.Paulista e lá me encatei e comprei um livrinho editado na espanha chamado: Os Anarquistas Russos de Paul Avrich. Cheguei em casa e comecei a ler o livro em castelhano e fiquei mais encantado ainda. No dia seguinte fui a casa de uma amigo no Ipiranga e levei o livro dentro de uma bolsa de jeans que tinha.
Quando saimos da casa dele meu carro havia sido aberto e tudo que havia dentro dele tinha sido roubado, e no pacote o livrinho. Que perda.
Depois de alguns meses achei outro exemplar e comprei, tenho até hoje e é delicioso ler os sonhos inatingíveis dos anarquistas. Quando me sinto meio agoniado com o estado opressivo ( que papo mais anos 60 ), leio o livrinho para me lembrar o que é sonhar. Aquele negócio de acreditar que é possivel mudar tudo não deixando nada sobre nada e transformando uma sociedade arruinada numa sociedade perfeita e repleta de boa vontade. Soa ingênuo o tempo todo, mas também você percebe que o cerumano ainda é o mesmo de 150 anos atrás e que uma vida mais humanizada esta sempre potencialmente ligada ao ponto por onde a sociedade deveria escapar deste enrosco que se enredou. Num dado momento no livro tem uma frase deliciosa ( para mim; e adaptando para algo mais global, já que ela trata da Russia do final do século 18 ) : "...oscila entre dos mundos, uno agonizante y el otro sin fuerza suficiente para nacer" ou " ...oscila entre dois mundos, um agonizante e outro sem força suficiente para nascer".
É isso é exato e cabível para o dia de hoje. A sociedade perdeu a capacidade de mover para fora dela as coisas que não lhes são adequadas. Grandes movimentos sociais gritando por mudanças.
Quem sabe dizer hoje o que esta errado e o que deveria ser mudado? Que bandeira assumir? Ao lado de quem se alinhar sem ser enganado e usado?
Falta justamente este conteudo, a clareza que faz com que se saiba onde colocar a energia e criar a força que precisa existir para mudar. Inexiste a força porque ninguém sabe o que precisa ser feito para matar a sociedade que agoniza mas não esta ferida de morte, e vai ficar muitos séculos girando em torno do nada e não proporcionando nada de bom para ninguém.
É chato chegar a um objetivo num instante, êpa... esta frase tem dono e é de um anarquista celebre: Raul Seixas ( mas pode ser de algum parceiro musical dele ). Mas é muito mais chato não ter um objetivo a que chegar.
Hoje os objetivos são todos individuais ou de pequenas comunidades ou grupos familiares.
Não tem nada movendo a sociedade como um todo, tá pobre de sonhos e de objetivos a humanidade. Estamos num vácuo de sonhos e assim não se potencializam possibilidades de mudança.
A história vai nos rotular de culturalmente pobres, e somos.
Nossa cultura social é a de obter satisfação individual e o que é pior, de se satisfazer com pouco, e pior ainda, esse pouco é fútil e banal, não vai além de um bem pouco durável tipo um celular.
Enquanto isso alguns mais espertos, mas não mais felizes, deitam e rolam acumulando e concentrando a grana e tornando a todos nuns sonhadores fracos e ingênuamente felizes.
Um celular serve para bem pouco além de simplesmente tê-lo, é fácil obte-lo e é chato chegar a um objetivo num instante.
Um dia chegara em que os anarquistas derrubarão todas as antenas de celulares do mundo... pô, isso sim é um sonho. E as pessoas deixarão de falar abobrinha no telefone só prá mostrar que tem um e passarão a falar pessoalmente com as pessoas, nem que prá isso tenham que atravessar a cidade, mas só o farão para falar coisas relevantes, até porque ninguém é besta de ficar atravessando uma cidade prá ficar de conversa mole... ou sim?

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