PENSANDO

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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

MAIS DO MESMO.


Nas postagens anteriores me referi a coisas não consumadas ou mal consumadas.
Especificamente sobre a morte de Flávia, quero complementar meu pensamento, pois fiquei pensando no que escrevi e muitas outras nuances surgiram.
Primeiro lembrei que quando, no ano passado, perdemos nossa amiga Meg aos oitenta e tantos anos, nem por isso achamos que já era a hora justa de sua partida, porque ela vivia plenamente, desfrutava com intensidade a vida e não fosse um enfermidade de última hora teria viajado a Los Angeles sozinha para visitar algumas amigas aos 82 ou 83 anos de idade.
No caso dela esperávamos sua morte porque seu quadro foi ficando grave. Não houve velório e ela foi cremada. Eu nunca havia ido a uma cerimônia de despedida antes de uma cremação. O caixão não foi aberto, não a vimos morta e ficou algo sereno mas incompleto. Como também queremos ser cremados aqui em casa, apenas pensamos em dar uma personalizada naqueles últimos minutos que os parentes e alguns amigos ficam juntos da gente, embora sem nos ver, tocando uma trilha sonora de rock. Prá Regina vai ser Khasmir do Led Zeppelin e prá mim vai ser algo do Pink Floyd e Aerosmith, melhor eu escolher logo.
Sabemos que ficaremos incompletos, porque aqueles momentos de sofrimento do velório expurgam do interior da pessoa os sentimentos gerados pela certeza do fim da presença daquela pessoa em nossa vida ( no meu caso talvez eu esteja falando de alivio nos outros ).
Resumindo: é preciso vivenciar plenamente o momento da morte de alguém para poder tocar a vida em frente.
Segundo, volto a Flávia, ao Playcenter e ao celular no velório da mãe.
A garotada achou um caminho alternativo ao sofrimento.
Em minha plena maldade acredito que nossas crias apenas encenam.
Desesperam, levam a emossão ao limite, explodem em lágrimas, abraçam e não largam quando se encontram no velório da amiga querida e fazem o mesmo no TurboDroop do Playcenter. Fica difícil de saber se estão sentindo ou se estão dando um realce em suas emoções para mostrar que também sentem, existem e precisam ser notadas.
Calamitosa dúvida, eu deveria ter mais certezas a esta altura de minha vida.
Dúvida, será que é dúvida?
Dê um celular prá garota, não precisa ser necessariamente no velório da mãe dela, ela explode de alegria, uma semana depois já esta de olho em outro modelo. Absolutamente infeliz pela falta de up-grade semanal ela se torna uma pessoa já sem esperanças na vida. De quê vale viver anônima dentre 6 bilhonzes de cerezumanos.
Eis o ponto. O anonimato, nenhum deles aceita o anonimato e na impossibilidade de ser Justin Bierbe ou Lady Gaga precisam ter algo prá mostrar, pode ser um falso pesar, um celular novo, uma nova cor no cabelo ( Mary não é com você ), ou uma nova peça de roupa ( menos a calça; a calça é uma peça de roupa que elas não trocam nunca, elegem uma não sei por qual critério e só tiram, ai sim com profundo e verdadeiro pesar, quando a danada esgarça toda ).
Deus tem um propósito para todos vocês e eu não falei isso, apenas ouvi, achei interessante e repito sempre como castigo aos crentes. Tinha um propósito prá jovem morta, para minha amiga que embora muito idosa deveria ter vivido mais e tem um propósito para as/os adolescentes que acreditam que esta não é a única vida. Portanto a amiga nada mais fez que cumprir uma etapa.
Ora, se temos que cumprir etapas por propósito divino, por que temos que sofrer ao final de cada etapa, vamos juntos ao Playcenter.
Sentimentos não maturados são como pão não fermentado, como conhaque não envelhecido, como queijo não curado, como tinta não seca. Não estão prontos, e assim seguem até desembocar imaturos na maturidade, incompletos sem ter vivenciado com profundidade as coisas, sem ter arrastado uma dor como fazem os lusitanos – por toda uma vida – sem apurar a essência como fazem nossas avós com os doces gostosos. Ao invés de nos tornarmo-nos especiais dentre os 6 bizilhilhões de cerezumanos, tornamo-nos apenas mais um numerozinho ridículo e dispensável. Mais um no balcão da Vivo comprando um celular, mais um a chorar lágrimas oportunistas de sentimentos de duração curta, curtíssima.
Aqui termino com tristeza, incerteza. Constatar que com tudo que oferecemos de bom aos filhos eles preferem, no entanto, não o conteúdo mas apenas a brilhosa e vistosa embalagem.

Um comentário:

Mary Joe disse...

Vitório, adorei a citação para mim... rsrsrs

Mas... seu texto tocou num ponto fundamental: o que sentimos PRA VALER? Se a vida for apenas uma sucessão de momentos, será que o melhor é esgotar intensamente aquela emoção e partir para outra? Só que isso é o bastante? Será que essas emoções não deveriam ser maturadas em nós mesmos por sei lá, mais algum tempo, até que percebamos que elas já não cabem mais?

Sou contemplativa por natureza, e as vzes fico perplexa ao perceber EXATAMENTE o que vc disse: no quanto sou a melhor mãe do mundo ou a pior no exíguo espaço de uma tarde. (basta fazer ou não o que minha tween quer).
As emoções dessa meninada são feito fogo fátuo. Brilham intensamente mas se apagam logo. E será que isso mudará qdo ficarem adultas?

Naõ sei. Mas naõ estou certa amigo Vitório, se essa é a melhor maneira de viver.
Posso estar errada, mas gosto de viver sentindo feito o vinho..., maturando a cada ano, para atingir um sabor melhor.
Cada um é cada um, rsrsrs
Mary Joe