PENSANDO

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sábado, 18 de setembro de 2010

BATA AQUI


Restaurar um pelourinho seria bom.
Vindo pela manhã para o trabalho, aconteceu o que toda hora acontece, um carrão potente, zerado e brilhoso tentando impacientemente passar por cima de mim com meu pau velho.
Fico imaginando a frustração do motorista que lutou prá chegar num sonho.
Quanto trabalho, quanto suor, quanta energia e quanto sapo engolido prá chegar ao valor necessário para adquirir uma super maquina, um verdadeiro brinquedo de gente grande.
Adquirido o carrão é frustrante sair na rua e ver que um cara que não sonhou igual, não lutou tanto, não tem um carrão com a mesma potência fica na frente impedindo que a maquina desenvolva toda sua potencia e rasgue o chão.
É um absurdo a forma como a sociedade é organizada. Só os bem sucessedidos deveriam ter o direito de sair as ruas, e levantar a poeira que deveria ser comida pelos fracassados, que deveriam, estes sim, estar andando a pé na beira da estrada que é o lugar que lhes cabe.
Ofende não poder correr, não poder mostrar ao mundo que o sucesso esta convertido numa maquina insuperável, fria, desumana mas com um ronco no motor de causar medo e inveja.
Deve ser chato mesmo ter dinheiro sobrando e não ter alma para fazer bom uso dele.
O turbilhão interno que se forma pela revolta em ver que o dinheiro que temos não consegue comprar um mundo ideal, sem as pessoas que nos incomodam tende a vasar para o ambiente da amargura, frustração e revolta, tudo isso junto vira um arroganciazinha dificil de conter.
Dai com o excedente de caixa pensamos: seria bom poder comprar um pelourinhozinho prá poder descarregar minhas frutrações em chibatadas nas costas dos que frustam a completa realização de meus sonhos.
Só que não podendo, porque não pode mesmo, porque dá rolo, cadeia, manchete no jornal, bater em alguém de chicote estando este alguém acorrentado a uma estaca ou haste de pedra especialmente confeccionada para este fim.
Então resta o pelourinho imaginário onde você transforma o chicote em palavras e açoita a primeira vitima que encontra pela frente.
No final não vem alivio mas mais revolta, a coisa rumina, a coisa fermenta e vasa.
E o fel aumenta e o turbilhão transforma o sonho frustrado em amargura, azedume e a pessoa segue achando que ela é normal e vitima e que o resto do mundo é levemente indolente, insolente, preguiçosa, incapaz, incompetente e que porra... como é que Deus pode errar tanto assim?
Por favor, não cruzem os sonhos alheios.
Não andem na estrada no lugar de quem fez mais que você por merecer aquele lugar.

A foto que ilustra esta postagem é do fotografo brasileiro, paulista Gabriel Wickbold, que tem uma obra excepcionalmente bela e merece ser vista.

2 comentários:

Mary Joe disse...

Vitório, que saudades do seu blog!!!!!!!!!!!!!!
Andei meio enrolada por aqui, mas estou voltando a vida.

Adorei suas colocações. Sempre percebo que os mais bem aquinhoados se acham com mais direito ao trânsito. Afinal seus carrões tinham que ter primazia. Humpf!

Gostei particularmente da sua colocação que como não podemos bater em alguém batemos com palavras. Como isso é verdadeiro, né? Quem nunca foi bode expiatorio da frustração alheia?

Beijo grande pra ti
Mary

Arquimedes disse...

Dinheiro não compra educação, né?
Os canalhas também enriquecem...