PENSANDO

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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

DODÓI



Eu poderia relevar, mas não o farei.
Sacrifico-me para viver de forma honesta no sentido mais importante do termo, honesto com minha consciência.
E para ser assim, perco e assumo. Mas a perda não tira pedaços neste caso e assumir reforça a certeza de ter honra.
Falta honra as pessoas, falta consequentemente aceitar perdas e assumir falhas.
Encontro pessoas no meu dia a dia que embora falhas, não podem ser enquadradas como desonradas, porque são em verdade doentes.
Quando olho essas pessoas, faço olhando nos olhos, de forma profunda, incomoda – para elas – enxergo uma pessoa se debatendo para não morrer afogada naquilo que definirei como sendo a enxurrada da vida. Você nasce e é atirado na enxurrada, e nela vai tentando se manter vivo. Todo o estresse, todo o sofrimento para conseguir se realizar e ser feliz vão adoecendo a pessoa.
Durante a luta o lutador perde o senso. E por viver num mundo de referencias e padrões, tanto transmite referencias mórbidas com ajusta e alimenta suas próprias para se sentir parte, se sentir certo, se sentir ajustado ao mundo. Pronto temos um individuo dodói.
Dê alguns anos para a doença ir fermentando e maturando no fel.
Dê algum motivo banal para que o fel desperte a criatura gerada no turbilhão da enxurrada venha à tona.
Depare com ela e não perceba que ela é isso.
Torne-se igual.
Não perceber-se doente social é a certificação, lavrada, registrada e emoldurada, e, desavergonhadamente pendurada na parede principal com orgulho, de que você também lutou a mesma luta e é produto do mesmo fermento maturador do fel.
Numa colisão de transito o dodói explode em ira porque sabe que errou, sabe que terá que pagar se assumir o erro sabe que os bens materiais vem sempre muito acima da honra, e nega, mente, se contorce e espuma pela boca, pelos olhos, pelo rabo.
Orgulho ferido de não saber controlar um carro, não saber controlar um filho, não saber trepar direito, não saber dizer bom dia para um estranho, não saber pedir, por favor, antes e agradecer depois.
O problema é que quem não tem honra, sabe, por alguma razão que eu desconheço, que não a tem. E não a tendo e não sabendo como conseguir, auto justifica-se comparando-se ao que meu genial primo Arqui alcunharia de: Ninguenzada.
Eu tenho o hábito de carimbar da testa das pessoas um termo para sempre que tratar com a pessoa saber exatamente como proceder.
Ta certo que isso pode parecer preconceituoso, mas não é porque é baseado em experiência anterior com a própria em questão.
Posso esquecer o nome da pessoa, mas não esqueço o termo, é que sou meio rancoroso, não muito, só o suficiente para não perdoar antes da morte; dá minha claro!
Mas ontem fui atender a um funcionário de minha equipe que foi envolvido num acidente de transito por uma senhora incontestavelmente navalha, ninguenzada, dodói e casada com um par perfeito, como eles se encontram não?
Mas o caso foi que a colisão foi contra um micro-onibus que transporta o pessoal do condomínio, e nele estava um senhora que conheço por trabalhar na casa de uma conhecida. Ela estava com um filho que tem problemas emocionais sérios, e é um rapaz bastante dócil e cordial. Ela poderia ter deixado o local do acidente e ter ido para casa. Mas preferiu ir junto com o filho dela até o quartel da policia militar para depor, nem a favor de um lado nem do outro, ela foi depor a verdade. Li o depoimento e vi que não havia nenhuma tendência ali.
Ela me chamou a atenção no inicio deste ano quando passei para o computador varias fotos do aniversário do filho da patroa dela, ela aparecia sorrindo com imensa felicidade ao lado do garoto de quem eventualmente cuida. A avó do menino não esboçava uma fraçãozinha sequer da felicidade que essa senhora simples, fudida na vida, tinha naquele momento importante do menino.
Essa mulher me ensina, me assenta, me faz ver que honra é coisa de poucos, que nasce não sei por que tanto num Dalai Lama, como numa passadeira de roupas, pobre, mal vestida, manca e desprezada pelas pessoas em geral.
Eu poderia relevar, mas o universo é uma infinita Ninguenzada.


PS.: A senhora em questão quando começa a falar não para, não é prudente puxar assunto com ela.

4 comentários:

Mary Joe disse...

Vitorio, que a senhora não saia ainda prejudicada por seu depoimento. Nessas horas, os dódoi são ágeis em se defender.
Beijokas
Mary

Andréa Santana disse...

Muito legal seu blog!

andreaquitues.blogspot.com/

Andréa....

sel disse...

oi meu amigo obrigada pelo carinho sempre...vou atender ao q me pediu pode deixar...um abraço mais do que gigante!!!!bjus!!!

Arquimedes disse...

Esse termo "ninguenzada" não foi cunhado por mim, mas por um professor de história com quem fiz um curso de extensão. Penso no termo não no sentido de exclusao social, de coitados (porque são piores e eu, melhor, nada disso), mas justamente aqueles que "se acham", se julgam superiores, mas, como todo mundo sabe, são tão importantes como qualquer um. São uns Manés...