PENSANDO

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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

VANDA

Conheci a Vanda em 1973.
Somos amigos a 36 anos.
Eu era office-boy e ela caixa do Banco Noroeste.
Depois tornamo-nos colegas de trabalho na mesma empresa para minha total e absoluta felicidade. Mas quando ela veio trabalhar comigo eu não imaginava a revolução que ela iria promover em minha vida. Eu um pré-adolescente, confuso e desorientado tive a oportunidade de te-la diariamente ao meu lado no ônibus e na hora do almoço quando conversávamos e eu ia aprendendo e me fascinando pelo universo que ela me apresentava. Ela dizia que eu me vestia mal, e estava com a razão, mas a minha grana era muito curta, mas eu a partir de suas agulhadas passei a entender que aparência era algo muito importante e eu era um bichinho do mato. Ela lia Herman Hesse e Lobsang Rampa, de quem eu nunca havia ouvido falar, e ela tinha uma poesia interior fascinante. Ela tinha uma amiga chamada Elisa que era aquilo que chamaríamos mais tarde de Bicho-Grilo e que me mostrou também um mundo alternativo, a maneira despojada e um modo muito zen e blase de ser, adotei isso e sou assim até hoje. Mas a Vanda era ( e é ) linda e serena. Tinha dentes ( e ainda tem ) absolutamente perfeitos e brancos. Era impossível não se apaixonar por ela, mas não na forma de desejo homem-mulher mas como uma pessoa clara, definida, com conteúdo e com uma simplicidade tocante. Foram fulminantes 4 anos, em que ela mesmo não sabendo moldou meu gosto por leituras de qualidade, por ter postura e aparência cuidadas, e por buscar alternativas e beleza na vida. Ela me cutucou impiedosamente o tempo todo para as coisas que eu estava deixando passar na vida. Nunca me tratou com pena, sempre me incomodou e me estimulou. Fizemos com mais alguns colegas de trabalho uma viagem para Foz do Iguaçu, onde soube que ela inevitavelmente iria casar-se com um outro amigo delicioso que tínhamos, o Freitas. Que alem de ser um cara muito engraçado era um escritor muito poético e a meu ver um cara muito atrevido. Senti o baque da perda da amiga, mas tenho que reconhecer que numa conversa que tive na viagem com um outro amigo adorado, o Bernal ( só para localizar o Bernal teria uns 35/40 anos e eu uns 16 anos neste episódio ), confessei a ele que sentia que não poderia mais ser amigo dela como tinha sido até então, eu era um pouco apaixonado por ela, mas na minha idade isso era plenamente aceitável embora não fosse viável, mas que saber que ela ia ficar com um cara de quem eu gostava tanto era sem duvida uma tremenda compensação. Ela havia me feito tanto bem nesse anos todos que eu tinha um forte desejo de -la muito feliz. Nós nunca trocamos uma farpa sequer, nunca nos desentendemos, eu a respeitava mais do que qualquer pessoa que possa ter respeitado até hoje. Ela era para mim um monumento do bem, uma imagem limpa, pura e iluminadora de meus caminhos. Guardei dela e da Elisa uma coisa dentro de mim, que todas as vezes que acendo um incenso indiano, fico em silêncio, busco uma resposta, me reporto a elas como verdadeiros oráculos. Agora escrevendo isso me dou conta do quanto elas me influenciaram para o bem.
Ela se casou, saímos da empresa e nos perdemos.
29 anos depois eu resolvi que precisava acha-la. Iniciei a busca pela internet e muito rapidamente a encontrei, alguns minutos depois estava falando com ela pelo telefone, eu em São Paulo e ela a uns 350 kms de distancia no interior do estado. Ela a mesma vóz, o mesmo ton suave.
Eu ia passar o Natal no interior e combinei encontra-la.
Assim aconteceu: num shopping eu e minha família tomando chopp num calor infernal e ela apareceu exatamente como era em 1973, ela disse que tinha umas ruguinhas, eu só via a alma linda e maravilhosa acompanhada de uma filha linda também, muito bem encaminhada na vida.
Um filho lindo, cheio de vida, uma casa muito bonita num bairro excelente e o meu querido amigo Freitas já bem sucedido e todos formando uma família que é a família que a Vanda merecia ter. Mas Vanda tinha mudado, mudou de rumo, não foi a psicologa infantil que dizia seria, formara-se em direito e era dona de seu próprio negócio.
Fechava-se o famoso circulo da vida. Eu sai de lá feliz, saltitante de alegria por -la tão bem, por ver que uma pessoa que me fez a cabeça, sabia eu agora, fora comprovadamente sincera, coerente, fizera prá si tudo que me recomendara fazer, que ela havia agido comigo com muita honestidade e generosidade e que havia sido sim um bênção que passou por minha vida na hora certa.
Vandinha colocou poesia em minha vida, me fez pensar filosoficamente a vida, me fez entender que eu teria sempre que ter princípios e sempre seguir em frente.
Mas eu acho que o melhor de tudo mesmo foi ver depois de tantos anos que ela fora sincera comigo e com ela, que ela não falava dá boca prá fora, mas que fez em sua vida tudo que me falou prá fazer na minha. Isso não tem preço. A Vandinha não tem preço, ela é pura luz.

5 comentários:

sel disse...

Ola meu amigão...nossa tiro o chapéu para vc aqui e agora,neste texto tão gostoso de ler..alias texto soa muito comum trocamos por um fragmento belissimo de sua vida...amei,cheguei a vê-los em cda trecho...será que tdas as Vandas são assim especiais,acabo acreditando que sim...minha mãe é Vanda tbém e olha é minha melhor amiga..é uma mãezona em que nada,absolutamente nada deixo de contar para ela..caramba isso é magico...bjosbjos!!!

Família Meneghel disse...

Sel.
Sempre um prazer enorme escrever para vc.
Eu fui um privilegiado em ter a Vandinha em meu caminho, acho que vc também.
Valoroza afinidade essa nossa, não?
Carinhoso abraço prá vc.

Francisco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Francisco disse...

Muito bonito esta texto, tanto pela história singela, quanto pela sinceridade, e quem sabe até um possível amor platônico de adolescente.
Você está de parabéns, pois o que você escreve, me prende a atenção.
Virei teu fã.
abçs

Francisco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.