O passado é uma imagem ou um som gravado.
Mas é também uma parede feita ou uma árvore cortada.
Mas pode ser um carro com o paralama amassado na garagem.
De algumas formas o passado esta materialisado no presente e estará presente no futuro se nada for feito para altera-lo.
Tirando essas provas de que o passado existe, não há mais nada que o comprove.
Mas e nossa memoria?
Nossa memória não conta, porque ela vê o passado da forma como gostaria que ele fosse.
Nossa memória acumula frações e não a história inteira, e essas frações estão impregnadas de mas intenções, mas intenções de contar a história de forma ideal, passando muito longe da realidade vivida.
Se o passado não existe, se só existem algumas frações, estamos muito próximos de desvendar um dos grandes mistérios na natureza, a inexistência do tempo.
Se você acreditar que o tempo não existe, você resolve tudo.
O presente é algo tão infinitesimalmente pequeno que não pode ser percebido.
Então o quê percebemos como o presente?
Talvez apenas uns pequenos resíduos de memória enfileirados prestes a se evaporarem.
Não fosse a louça suja na pia, não saberíamos que havíamos feito uma refeição.
Somos prisioneiros de uma mesma ilusão coletiva.
A ilusão de que existimos no tempo.
Mas não existimos naquilo que na verdade não existe.
O futuro é uma expectativa, não é uma realidade, podemos muda-lo mas não podemos evita-lo.
O passado é uma memória torta, podemos percebe-lo nos artigos materiais mas não pode-mos muda-lo. Podemos parcialmente reconstitui-lo com a ajuda de outras percepções obtidas por outras pessoas que vivenciaram os mesmos fatos, mas ainda assim não será o nosso passado mas o passado de um coletivo sobre o qual somos figurantes as vezes em escala muito diminuta.
O passado é um espelho retrovisor embaçado.
É uma ilusão, uma falta de certeza.
Um comentário:
No ginásio (faz tempo) tive um professor de matemática que dizia que o presente não existe, ou se existisse seria fração de milésimo de segundo, ou seja o que estou escrevendo já está no passado, e o que ainda vou escrever estará no futuro. Na época fiquei encucado, sei lá talvez ele tenha razão.
abçs
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