PENSANDO

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

INOCENTANDO OS HOMENS MAUS.

Ninguém faz nada sozinho.
Quando você prega um grampo num morão de cerca no meio do pasto, longe de tudo, longe de todos, pode estar certo que junto com você esta o grampo feito por alguém que pegou um fio de aço feito por outro alguém que usou um minério cavado por outro alguém, e assim é com o morão e com o martelo e o arame.
Ninguém governa sozinho, ninguém erra sozinho.
Assisti a um filme sobre um momento específico da vida de um ex presidente dos Estados Unidos.
Não se espera que um homem que não seja uma verdadeira raposa consiga chegar a um cargo tão elevado e invejado. Não se fala de gente normal quando se trata desse tipo de conquista.
Uma vez no cargo o indivíduo tem algumas frentes de perturbação... a do próprio cargo em si  a dos adversários, a dos puxa sacos, a justiça, a opinião pública e a pior de todas que é enfrentar a si mesmo todos os dias.
Assim, a cada decisão, uma série de decisões menores interferem na decisão maior, principal e definitiva.
É a solidão mais exposta que um ser pode ter. Você é o responsável final por tudo mas todos  tem o direito de opinar e julgar todos os seus atos solitários.
O único atrativo é o poder pelo poder, nem sempre há uma recompensa material e na maioria das vezes a história não faz justiça.
Aqui no Brasil achamos que todos os que ocupam cargos públicos em qualquer parte do mundo o fazem para enriquecer, e isso é uma deturpação causada por 500 anos de corrupção e aceitação da corrupção.
Somos assim e acreditamos que o mundo inteiro seja assim. Não é verdade. Tem lugares onde a corrupção existe em níveis bastante aceitáveis e outros onde é intolerável e vem destruindo a nações. Ela é tão corrosiva que desagrega e faz com que um coletivo se torne cada vez mais tribal.
Então eu acredito que os políticos mais capazes muitas vezes não usam toda a sua capacidade em proveito próprio como acreditamos. Muitas vezes deslumbrados com o poder, a fama, a possibilidade de dar a palavra final sobre a vida de multidões eles aceitam como recompensa apenas a satisfação do ego.
Capacitadíssimos para articular ideias e planos, para fazer avaliações muito complexas de conjunturas muito mais complexas ainda, hábeis aos extremo na arte do convencimento e muito estudiosos dos detalhes e das possibilidades a que esses detalhes podem levar, passam como um rolo compressor sobre todos e isso é um outro grande prazer,  a capacidade de vencer intelectualmente.
Mas sempre se cercam de conselheiros e esses mais cedo ou mais tarde caem em desgraça num território ou em outro, ou no campo inimigo ou por fogo amigo, nunca saem ilesos, nunca vi ninguém que não é o número um sair sem machucados de suas gestões. Mas essa é a função deles, se por um lado podem estar colados ao poder sem terem sido eleitos por outro estão lá por um preço caro que será cobrado na hora que isso for possível. Tombam, fatalmente tombam e levam a fama pelos erros nem sempre cometidos.
O volume e a qualidade de  informações que um mandatário tem dá a ele o poder de decidir sem ser entendido. Como o grosso da sociedade só dispõe de parte da informação e pouco da experiencia de tomada de decisão, então fatalmente o significado da decisão se perde quando chega aos extratos mais baixos. Decorre então o julgamento com base em matéria parcial que fatalmente leva a injustiça.
Quem esta lá encima sabe disso tudo e já não dá importância maior a isso, sabe também que no macro a coisa tem que andar e que se a cachorrada late ou não late não faz a menor diferença, em tempo algum.
A experiência de ser o número um no país mais poderoso do mundo é tão única que apenas 44 homens ocuparam esse cargo entre 30 de Abril de 1789 e o dia 20 de Janeiro de 2013, ou 224 anos.
A visão deles é uma antes de entrar e outra completamente diferente depois que saem. Mas nenhum outro simples mortal tem a menor ideia da complexidade que é essa visão. Alguns inciaram guerras e levaram milhares a morte, outros terminaram essas guerras, e alguns não passaram por guerra alguma que tenha sido relevante ( sem querer aqui dizer que há irrelevância em qualquer guerra que seja ).
Li algumas biografias e me interesso permanentemente pelo assunto: o homem no poder, dada a distância que o poder impõe a esse homem... é a tal solidão exposta.
Solitário nesse mundo de força disponível e no centro de todas as informações que nunca teremos e podendo, dispondo delas fazer aquilo que julgam o melhor, não fica claro para quem seria esse melhor, mas acredito na necessidade de continuidade no poder e eles hora pendem para o melhor para suas próprias imagens, hora para o melhor para o coletivo que representam, hora para o melhor para seus egos, e isso é assim, já que não terei o reconhecimento pleno vou fazer algo que só será percebido no futuro, vou aceitar o julgamento da história, e isso é pender para o lado do ego em detrimento a todos os outros lados.
Acumula-se um bocado de experiências com uma vivência que em verdade é rápida no poder, no máximo  8 anos numa vida media de 80 anos, e levasse uns 50 anos para conseguir chegar lá, até mais. Mas são anos muito intensos, carregados de jogadas, rasteiras, pressões e surpresas. Nada é obvio e anunciado previamente, tudo chega camuflado e a arte de governar é a arte de desvendar qual a verdade por trás de tudo que chega ao seu conhecimento.
O erro é sempre embarcar na necessidade de governabilidade. Esse erro é fatal e derruba e derrubou a todos. Melhor passar por incompetente que por ladrão ou desonesto. Alguém incompetente conseguiria chegar lá? Alguém honesto conseguiria chegar lá? Claro que não, tratamos aqui de pessoas que conseguem juntar as pontas de várias coisas, criar os fatos e deles de valer para subir cada degrau e se manter nele.
Assim chego ao ponto básico que quero chegar com essa conversa toda.
Imagino ir pescar com um  ex presidente americano, estar só com ele num barco no meio de um lago com o tempo todo a disposição, nada para interromper e poder sondar entre um lance e outro da pescaria cada mínimo detalhe do que é estar no cargo e ser uns dos 44, entender os fatos pela ótica de quem pode declarar a verdade totalmente. Imagino poder descobrir coisas tão absurdamente complexas que levaram a tais e tais decisões, como descobrir também as coisas tão absurdamente simples que levaram a complexas decisões. Coisas como 1 + 1 = 2 ou fórmulas que ocupam um pagina inteira de caderno. Nas coisas simples evidentemente vão prevalecer a alma do homem, suas convicções e suas possibilidades de articulação. Nas bem complexas veria apenas como ele se virou na enxurrada  como conseguiu manter a cabeça de fora para respirar e como conseguiu nadar até a margem ou se conseguiu apenas se agarrar a algo e esperar a força da água diminuir. Deve ser maravilhoso ouvir uma explicação completa e convincente dada a mim que não propagarei nem sairei contando nada para ninguém. Mais, poder mergulhar fundo e entender o processo e o homem envolvido no processo. Foi fácil? Tirou de letra? Perdeu o sono? Deu dor de barriga? Assinou a autorização para bombardear e não tremeu a mão sabendo que de uma certa forma matava naquele ato?
Fascina, instiga... acho que deixaria o anzol sem minhoca só prá não perder a concentração nas respostas.
Sentiria vontade eu também de ser um 45°... claro que sim, é fascinante o poder até para um anarquista como eu. Desconstruir um fato partindo da base da informação, fazendo do fim para o começo e do verso para o anverso, saber primeiro o nome do assassino, depois a história do filme e só por último o nome do filme e quem trabalhou nele. Tem gente que não gosta de saber o final antes, prefere a ilusão. Falo de um mundo sem sonhos e sem ilusões de homens sem isso. De pessoas que se ocupam de fatos, não especulam, que lidam só com verdades e que erram até por não se usarem de suposições ou verdades vagas.
A matéria que lidam é imaterial. Tratam de um jogo jogado entre iguais. Tudo é abstrato e se transformara em verdade material num futuro, onde só então poderá ser avaliado com certeza, só no futuro está a configuração final de seu estilo de propor um ideia, consolida-la e descobrir se acertou ou errou. E isso considerando que jogar com  iguais é muito mais difícil. Num cenário onde outros dispões de vontades diversas, informações diversas e éticas relativas o punhal paira sobre suas costas o tempo inteiro.
Saber como lidou com a ingratidão, com a mentira, com as más intensões e com os que sendo honestos não sabiam se expressar... como soube tirar de cada um a verdade, ou não soube e perdeu por isso.
Houve um universo em cada mandato, alguns foram presidentes quando o país tinha lá sua desimportância.
Na verdade a relevância de decisões ocorreu no mandato Lincoln por conta da guerra sangrenta interna que quase detonou o país e para todos depois de Roosevelt ( Franklin 1933/1945), quando então o país despontou e se manteve no topo.
Esta postagem terá continuação...


domingo, 27 de janeiro de 2013

GENTE INTERESSANTE

Até os meus vinte e poucos anos  não conheci ninguém muito diferente, interessante.
Pessoas leigas e agradáveis conheci aos montes e trago hoje amizades de 40 anos, muitas.
Mas aquelas pessoas diferentes, exóticas, capazes de assumir um perfil diferenciado foram me aparecendo aos poucos a partir de então.
Eram pessoas que tinham profissões diferentes das convencionais  ou negócios anti convencionais ou moravam de forma bastante alternativa. E tinham histórias interessantes, atitudes diferentes, cardápios diferentes, tinham ido a lugares que eu nem imaginava que pudessem ser visitados, meu horizonte máximo é Aparecida do Norte e Praia Grande.
Mas com tudo se acostuma, e coisas boas a gente assimila rápido e com isso o anti convencional vira rotina.
A tendência é buscar então gente cada vez mais diferente e elas vão brotando você não sabe de onde e descobre que a aventura da vida para algumas pessoas tem limite algum.


DESCOMPLICANDO-SE

Buscando sempre algo que seja o desejo de outros não se chega a lugar nenhum que nos agrade.
Desde muito a cultura geralzona do ocidente idolatra a competição pela competição e o sucesso pelo sucesso.
Nadando contra a corrente alguns hipongos viram, e viram muito cedo, que isso afastava o homem do bem estar. Por conta disso essa geração dos anos 60 e 70 que se libertou da obrigação de vencer ou perder se deu muito bem hoje. Não há o sucesso nem o fracasso, há sim é uma qualidade de vida baseada na verdade individual.
A vida não tem esse ciclo natural, não tem um começo na iniciativa de buscar o sucesso e um fim, um terminar se  ele não vem, e não fecha ciclo algum na hora do fracasso. Nada disso. A coisa sempre continua tenha você vencido ou fracassado.
Livre-se de querer conseguir as coisas que não são básicas e realmente necessárias para você neste momento.
Se a luta é por uma casa própria, ai sim, você tem um motivo seu. Se é para um carro ou um carro melhor que te permita se movimentar com mais segurança e tranquilidade, ai sim também, é um motivo seu.
Agora, ficar ralando prá conseguir aquilo que esta todo mundo querendo só porque é uma novidade ou simbolo de status... abomine, chuta de bico, esqueça.
Ocupe seu tempo e sua energia aproveitando que você já tem, ouça o disco até furar, leia novamente o livro e faça novamente o bolo, até ficar cada vez melhor, aproveite mais o cheio do pão de queijo.
Nada de ficar acreditando que cada tombo é uma lição para recomeçar a luta. Um tombo é tão somente uma dica prá você perceber que estava batalhando a coisa errada. Não entre na dos guros biliardários que dizem que você deve tentar, tentar novamente e tentar até conseguir superar os outros com sua inventividade. Poucos, muito poucos chegam lá e quando chegam não contam que o que eles realmente descobriram foi que consumiram toda uma vida criando algo grande demais, algo do qual eles nunca vão dar conta, algo que será um peso pelo resto da vida.
Quando você se casa e tem ai uns 4 filhos, resolve construir uma casa para caber todo mundo dentro. Certo? Você quando faz o projeto esta acreditando que aquela família vai durar para sempre, coloca os seus sonhos como sendo o sonho dos outros, e projeta uma casa com 5 quartos, uma coisa enorme.
Passa alguns anos ralando prá casa ficar pronta e quando ela fica os filhos mais velhos já estão passado noites fora de casa, um outro vai estudar fora, algum casa e daí você se descobre velho, passado, sozinho e com uma casa enorme prá ter que dar manutenção, dai vende ela pelo preço que te pagam e junto com ela entrega os melhores anos de sua vida e um bocado de sonhos não realizados.
Compra beliche, empilha a filharada, mas enquanto forem seus saia com eles prá tomar muito sorvete e prá fazer nada na rua o tempo todo.
Esqueça o orgulho, a vitória, o sucesso, o triunfo sobre todas as adversidades.
Sente-se com seus melhores amigos e tome uma gostosa cerveja e fale sobre coisas banais, não sobre grandes planos, grandes coisas que deveríamos realizar e que nos vai consumir.
Deixe as grandes batalhas para aqueles que não se importam em perder a vida.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

ACHANDO UMA PONTA

Vamos começar por um lado qualquer do assunto, tanto faz.
Vovô e vovó fazem sexo.
É uma pouca vergonha alguém na idade deles fazer sexo mas fazem.
Voltamos a isso depois.
O netinho querido, favorito da vovó, rouba.
Ele disfarça muito bem e engana a vovó mas rouba.
A adolescente esta olhando coisas impróprias para sua idade na internet.
Ela esta postando sobre assuntos adultos que nem domina direito, mas se acha.
Papai esconde um dívida e enrola todo mundo para que não descubram.
Lógico que todo mundo vai querer saber para onde foi o dinheiro.
O vizinho bate na mulher, as vezes apanha, mas já virou rotina.
E ninguém mais liga se um dia eles se matarem.
Depois tocaremos neste assunto.
A prima viciou em livro de auto-ajuda e gasta toda a grana dela com orientações desse gurus.
Mas a tia colocou a casa a venda prá doar o dinheiro para o pastor da igreja.
Esse assunto vai esquentar muito em seguida.
A psicologa disse que o maior erro é deixar as crianças mergulharem no consumo.
A ONG ambientalista endossa a psicologa e diz que as crianças vão destruir o planeta.
E a gente tentando salvar o planeta para elas, que otários somos.
Aquele velho solitário do 7º andar tem hábitos muito estranhos e suspeitos.
Pensamos em ligar para o disc-denúncia, mas deu preguiça.
Porra, o açougue maravilhoso onde sempre comprávamos carne roubava 170g por quilo.
Esquecemos de regar as violetas por 4 semanas.
Passei a mão sem querer na bunda da minha amiga, mas gostei.
Não devolvi o livro mas na maior cara de pau disse que já.
Ela foi dormir sem escovar os dentes porque estava meio altinha.
Voltando, é claro que o vovô transa com a vovó mas na cabeça dos idiotas só gente bonita tem o direito de fazer sexo, isso é uma pequena confusão que a religião coloca na cabeça das pessoas, porque para a religião quanto mais culpa alguém tiver mas vai precisar de perdão e perdão quem dá é deus, mas as vezes o pecado é tão grande que o pastor pede uma tremenda doação, uma casa por exemplo, daí você vende a casa crente de que deus vai te dar em dobro, isso é o método da auto ajuda que te estimula a pular de cabeça e agradecer a deus, pula de cabeça e se fode, mas agradece a deus e pula novamente e se fode mais ainda e fica cada vez mais grato a deus porque ele esta te ensinado a cada vez que você se fode que é de fodendo que você cresce na vida, mas se você desanimar e passara roubar, e for esperto para esconder as pistas e as provas pode roubar a vida toda, só não pode ser pego, assim como o cara que bate todos os dias na mulher e tem um direito adquirido, se ele batesse só de vez em quando dava problema mas  como ele bate todos os dias então todo mundo acha que é normal e que ela gosta então pode continuar batendo, assim como a açougueiro limpinho que cobra 170g por quilo prá incorporar a limpeza ao preço do produto, enquanto não é pego ele vai levando e todo mundo se acostuma com o rendimento da carne comprada e só se um dia mudar de açougue é que vai notar que passou a vida comendo menos carne do que pagava, enquanto isso o vovô come a vovó, as violetas morrem de cede porque a gente comprou com os olhos e não com o coração e fodam-se as violetas em sua sede, o importante é vigiar a adolescente prá ela não dar pela internet, nem falar na internet que é e sabe quem não é e não sabe e com isso se encrencar com algum marmanjo perigoso feito o primo que rouba mas engana a vovó, mas a vovó não tá nem ai porque o vovô faz tudo que ela gosta e ela gosta muito, enquanto isso o livro de auto-ajuda da prima ganha poeira ao lado da violeta, e você jura que devolveu e que regou, mas foda-se o importante é não descobrirem e não vão porque tá todo mundo ligado nas atitudes suspeitas do velho solitário que enquanto isso serve oportunamente de cortina para as besteiras que o papai faz com o dinheiro, fica fácil assim, mas em compensação ele não faz ondinha, não reclama de quem toma umas a mais e dorme sem escovar os dentes, antes não podia agora pode, mas isso não é de todo ruim porque economiza água e ajuda a salvar o planeta para essas pestinhas de merda que consomem tudo que veem pela frente, cada puta saco de pipoca, e mais discos de guitar-hero e mais rodinha de skate e consome e fode o planeta e a psicologa diz que é errado mas enquanto todo mundo erra e sente culpa ela como se fosse uma igreja também garante o emprego e vai dando um conselhinho aqui e outro ali e a ONG adora ver a coisa ficar feia prá anunciar o fim do mundo prá depois de amanhã e levantar com isso mais grana que o pastor salvador que quer grana prá perdoar e salvar e se aliar aos autores de auto-ajuda que ensinam a gente a se foder e também eu duvido que eles se preocupem em regar as violetas, enquanto isso só me resta passa a mão na bunda da amiga mais uma vez.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O FUTURO, ONDE JAMAIS ESTAREMOS.

Pensem nas pessoas que filmaram, escreveram sobre, musicaram, pintaram,  poetizaram, encenaram e fotografaram sobre o tempo em que viveram.
Alguns fizeram brilhantemente a transposição de suas impressões para os meios de preservação  que dispunham. Com isso obras maravilhosas passaram a existir.
Essas pessoas se distinguiram ao longo da história como mais sensíveis e estimulados a converter essa sensibilidade em algo permanente.
Mas muitas já morreram, se foram ao longo de seu curso natural de vida ou de alguma forma abreviaram a coisa por dar excesso de uso à vida.
Se fossem permanentes como se tornaram suas obras, sem duvida entrariam em conflito e destruiriam muitas das coisas que produziram, elas mesmas vendo como imperfeitas suas noções das coisas e acabariam mais cedo ou mais tarde aderindo ao senso comum.
O futuro é um lugar onde nunca estaremos.
Presos ao presente, cientes do passado, mas não certos de terem percebido as coisas como elas realmente aconteceram.
O futuro foi uma aposta, os que se foram não sabem se acertaram, e não podem mais mudar a aposta.

HEMINGWAY

As Ilhas da corrente foi o primeiro romance dele que me caiu nas mãos.
Achado por acaso numa caixa de ferro, biblioteca ambulante do SESI, lá estava o livro com o nome sonoro de um autor totalmente desconhecido.
Escolhi porque achei que Ernest Hemingway era um nome e tanto para um escritor e merecia ser lido. Me faltava critério, me faltava conhecimento e cultura para escolher de outra maneira.
O romance é maravilhoso, acontece no Caribe e é envolvente.  Autobiográfico e com todos os cheiros e sabores do mar, das bebidas, das pescarias e de cuba.

Daí as coisas me foram sendo entregues rapidamente. Os nomes não menos atraentes de outras obras dele ( recebeu o Nobel de literatura em 1954 ),  me faziam desejar ler tudo de uma só vez. Por quem os sinos dobram; Paris é uma festa; O velho e o mar ( premio Pulitzer  de 1953);
O sol também se levanta; Adeus as  armas; O jardim do Eden; As neves do Kilimanjaro e muitos outros foram se tornando acessíveis e eu os fui lendo e relendo.
Sempre muita ação, violência, mortes brutais, perdas irreparáveis e bebidas, sabores, amores, paixões... tudo que de fato aconteceu de verdade na vida dele.
Não há nada igual na literatura por conta da mistureba que ele faz da ficção com a realidade da vida vivida por ele.
Uma figura muito forte e assustadora as vezes, um cara que gostava de confusão e de estar no meio da confusão. Como era jornalista, estava sempre no meio de alguns importantes acontecimentos como a Guerra Civil Espanhola ( 1937 ) de onde saiu Por quem os sinos dobram... mas foi meio que voluntário para a sangrenta e cara a cara primeira guerra mundial, onde na Itália foi ser motorista de ambulância já que não o aceitaram armado  no front.
É tudo muito denso e sensual na obra dele, passagens arrepiantes como o corredor polonês em  Por quem os sinos dobram, tornam-se inesquecíveis leia você quantos livros ler depois dele.
Por mais de vinte anos viveu em Cuba e arredores, pescando, escrevendo e bebendo.
Difícil imaginar um homem tão grandalhão, cheio de certezas e vivências, pescador, beberão sentado disciplinadamente diante de uma máquina de escrever compondo uma obra tão bem medida e elaborada, são coisas que não casam, não imagino onde ele regulava adrenalina para baixa-la e poder se acalmar para então sentar-se, escrever e faze-la escorrer para as palavras.
Filho de um suicida, suicidou-se em 1961, dia 2 do mês de Julho, de forma brutal, com um tiro de um  fuzil, algo desproporcional para se terminar uma vida tão única. Corajoso na atitude mas convenhamos, matou covardemente seu melhor personagem.


UNIDOS, MEIO UNIDOS, DESUNIDOS JUNTOS

Um mergulho em pé, em águas escuras.
1 - Eles ficaram juntos até a morte. Ela infernizando a todos com a eterna história de que ele tinha outra família, de que tinha uma moça que um dia veio na casa dela prá fazer sondagens mas que na realidade era filha dele. Ele dava de ombros, resmungava mas no final mesmo nem ligava, ia para o quintal, sentava numa cadeira velha e passava o dia vendo aquele monte de tranqueiras acumuladas por anos no meio das árvores, de um galinheiro desabitado e de um horta sem culturas. Morreu primeiro ele e não apareceu ninguém nem prá chorar nem prá reclamar nenhum direito, morreu ela reclamando, e reclamando e importunando a todos com a mesma história, nem a memória dele ela preservou de acusações. O que os uniu até a morte foi o desejo de ficar próximo para infernizar um ao outro e a covardia em tomar uma atitude de separação.
2 - Eles construíram casas a vida toda e viajaram muito. Nem notaram que tiveram seis filhos, três casais.
Cada vez que uma casa estava pronta e ajeitada eles fazia um grande viagem e quando voltavam a casa já não era mais a ideal, o lugar não era mais o mais conveniente. E foram construindo e mudando assim que dava e acabavam a casa morando nela, eram tão variadas as casas e a localizações que ficou impossível estabelecer qual era o critério que usavam. Os filhos foram casando e indo para longe, uma eles perderam.
E ainda estão vivos e a qualquer momento devem ou viajar ou iniciar uma nova casa. O que os uni é a eterna     necessidade de fazer planos em comum. Não que concordem com tudo, mas sempre chegam juntos a algum lugar.
3 - Eles viajaram muito, arriscaram muito, subiram e desceram na vida muitas vezes. Criaram filhos mimados. Desenvolveram um tipo de cumplicidade meio criminosa e não tinham muitos escrúpulos em dar uma forçada nas coisas em favor do casal. Abriram o casamento de forma escandalosa e passaram a dividir a cama com outros casais ou outros parceiros e isso de uma forma muito aberta. Envelheceram juntos e a cada rodada da vida eles ficam mais unidos. É um caso raro de casal que nunca cogitou publicamente de se separar, nenhuma crise visível, sempre extremamente unidos e solidários. O que os uni é a cumplicidade no crime e na marginalidade social. Adoram tirar vantagens, cometer pequenas desonestidades e se sentirem vítimas, mas até na suruba são extremamente fiéis um ao outro.
4 - Eles seguiram as formulas mais comuns de união. Desejo de sair de casa, ter uma casa, ter filhos, ter casais amigos, ter rotinas, empregos e tédio. Muito tédio numa vida sem colorido algum. Até o dia em que a beira de uma crise ela reencontrou um antigo namorado e pimba sua vida coloriu e a pressão doméstica subitamente baixou. Ele aproveitou a oportunidade e o tempo disponível e arranjou prazeres em outras camas. Um pacto inexistente os faz levar uma vida normal e feliz. O que os uni é a vida secreta que construíram  a segurança de ter um lugar para voltar, e um cegueira - consentida - que é muito oportuna.
5 - Eles nem sabem porque se casaram, mal lembram a data e a quanto tempo estão juntos. Cada qual tem seu trabalho e mergulham nele. Muitas viagens a trabalho, promoções, vida corrida e sucessos não compartilhados, só na parte material compartilham, o orgulho pessoal compartilham com os colegas de trabalho e com os rivais. Não lembraram de ter filhos ainda, talvez entre os 45 e os 50 anos role alguma "coisa". Não tem planos em comum, as vezes compram um apartamento ou uma casa na melhor praia do litoral norte. O que os uni é uma coisa que nem o mais profundo estudioso do assunto se arrisca a dizer. Nada em comum a não ser o endereço para onde são enviadas as correspondências.
6 - Eles competem em tudo. Discordam de tudo, infernizam um ao outro. Cada milimetro doméstico e disputado com lutas brutais, cada segundo é exigido e se não correspondido viram motivos de ruidosas DRs. Uma vida sem conexão alguma pelo lado da cordialidade, só se conectam para disputar, até no número de posições sexuais mais favoráveis a um do que ao outro durante a transa, no número de orgasmos e no número de M&M que cada um comeu do pacotinho. Nem pensam em se separar, não se sentem seguros para viver outra vida que não seja a de disputar e medir o outro o tempo todo. O que os uni é o amor. As vezes o ódio, na maior parte do tempo o cinismo e o sadismo.
7 - Eles bebem todas juntos, fumam os caretas e os não caretas juntos, viajam em festas depressivas juntos e transam feito coelhos. Sempre com cara de sono e um sorriso babaca no rosto não se imaginam separados. Pouco ambiciosos acreditam já ter chegado ao topo do melhor da vida. Planos de passar o carnaval com uns amigos numa praia deserta onde só vão  malucos, nunca projetam a vida para além de umas 3 semanas. Ainda morando na casa dos sogros, não se importam com a forma como exploram a boa vontade dos velhos. Todos estão acompanhados e felizes. De vezes em quando alguém trabalha e ganha algum, daí dão um alivio na aposentadoria dos velhos. Eternas crianças, nunca brigam, se amassam o tempo inteiro pelos cantos, são a felicidade conjugal emoldurada. O que os uni é a cara de pau e a vontade de não crescer e não fazer ondinha.
Poderia lembrar aqui de mais uma centena de casais unidos e felizes e de como fazem para dar manutenção a união. Descreveria milhares de maneiras de dar jeito às coisas e de como fazer para não derrapar feio no casamento, criando suas próprias normalidades. A vida tem parâmetros mas não tem fórmulas. Dá prá fazer a mesma coisa que outros fazem e obter os mesmo resultados fazendo tudo diferente.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A OUTRA PESSOA

Eu gosto de beber sozinho.
Até porque gosto de bebidas que ninguém gosta.
Gin e Campari.
Na maioria da vezes bebo acompanhado enquanto converso, sobre tudo, com os amigos de sempre, amigos muito fiéis. Gosto, mas na escala do quanto o número é menor, tanto menor quanto menos apreciável for o assunto.
Beber sozinho é pensar sem preocupar-se com contradições.
Argumentar enquanto bebe estraga o gosto da bebida.
Um coisa é pensar, outra e conversar e uma muito diferente é namorar uma bebida gostosa.
Mas tenho consideração pelos outros e abro mão da solidão, meu verdadeiro estado de espírito.
Por que consideramos tanto os outros? Não bastava respeitar, tem que sentir culpa?
Alguns consideram por medo de perder, outros por gostar da companhia, outros por possuir uma elevada dose de humanidade e amor ao próximo, alguns por curiosidade, por querer desvendar a alma alheia.
Deve haver muitas outras razões.
Mas verdade é que pessoas vão se tornando importantes para a gente, e quem é não se dá conta do quanto é. Mas ai, me parece, esta a graça da coisa, tipo aquele jogo em que se escreve o nome de um personagem e se cola o papel na testa da pessoa, e esta tem que adivinhar quem ela é. E é bem assim, cada um deveria tentar adivinhar quem ela é para as outras pessoas.
Eu descobri tardiamente muitas vezes que era muito mais importante para algumas pessoas do que julgava ser. Ocorreu muitas vezes porque eu sempre fui muito reservado e com isso não completava as trocas afetivas de modo completo ou correto.
Mas deixei impressões mais fortes em algumas pessoas do que julgava ter deixado.
E assim também de forma inversa algumas pessoas que foram muito importantes para mim não perceberam meus olhos brilhando diante delas.
Eu covardemente diante da vida, ou do lado afetivo da vida prefiro beber só a ter que ficar sondando  as profundidades da alma humana.

SÓ QUEM FOI PARA A GUERRA ME ENTENDERÁ

Certa vez eu trocava correspondência com uma pessoa que eu não conhecia pessoalmente.
Abrimos contato por intermédio de uma revista que publicava o endereço de pessoas interessadas em conhecer outras pessoas somente pelo correio, quase todas da mesma idade - adolescentes.
Era legal, mas aconteceu algo que me desencantou.
Um dia recebi uma carta toda ressentida sobre algo que eu não lembrava ter escrito.
Pensei: °°°°°Ou coloquei a carta no envelope errado, ou respondi para um a carta de outro, ou elaborei muito mal alguma frase, ou algum termo daqui é palavrão acolá, ou me responderam a carta de outrem, ou a pessoa surtou mesmo, simples assim...°°°°°°
Fato é que eu embora não soubesse estava pisando pela primeira vez no campo de batalha que é a interação com outras pessoas, mas não qualquer interação, mas a interação dos anônimos.
Um anônimo pode tudo, e isso proliferou na internet.
Quando entrei no Orkut senti a força da palavra impuni. Aquela palavra que você pode escrever, postar, enviar quase com 100% de chance de ficar impuni.
Era uma saraivada de balas zunindo sobre a cabeça de todo mundo, um mundo de ofensas, acho até que por isso o Orkut naufragou duas vezes, a primeira quando os brasileiros tomaram prá si o Orkut e a outra quando então os novos donos, os brasileiros, oficializaram o português como língua e a baixaria e agressividade como método de comunicação.
No começo achei uma coisa muito chata, você entrava numa comunidade que tinha um título atraente, algo com o qual você se afina, achava umas pessoas legais mas ganhava junto com isso um monte de gente que atravessava o caminho e dava rasteiras e chutes nas canelas. Fui me vacinando e me acostumando.
Com o tempo uma coisa ficou clara, a internet é um campo de batalha e a guerra não tira férias.
Depois de algum tempo descobri os blogs, primeiro como leitor, depois passei a ter alguns.
Sempre assediado para ampliar o público nunca me deixei levar pela ideia e nunca me senti tentado.
Escrevo, poucos leem, mas penso e escrevo impunemente ou impunimente.
Mas ainda assim cada coisa escrita mais desagrada que agrada.
A mim mais agrada que desagrada.
Não priorizo os comentários e alguns somente tardiamente descubro existirem.
Poderia escrever num caderno e guardar na gaveta, mas não teria as imagens nem os recursos que tenho aqui no blog.
Com o tempo vai se desenvolvendo a atitude de escrever sem medo algum.
Escrever tudo o que vem a cabeça, tudo que você acha que tem que ser escrito e não há previa preocupação com consequência alguma, ai estamos muito perto do ideal.
Nunca escrevo para agradar a outro que não seja eu.
Prendo aqui memórias e memórias das impressões que tive da vida.
Em outro blog comento como observo pateticamente a arte.
Num outro blog viajo pelas histórias absurdas e surreais e num outro tenho ideia livres de qualquer lógica ou preconceitos para solucionar questões do cotidiano.
É um imenso campo de batalha com várias frentes. Divertidas e aconchegantes.
Se é incômodo, certo é que o é apenas para quem lê.
E ninguém lê obrigado.
Obrigado.



sábado, 12 de janeiro de 2013

É PARTIR, SIM, É PARTIR...

... o momento mais difícil de uma viagem.
Por isso o melhor é sair pela madrugada sem dizer adeus.
Deixar tudo arrumado e ninguém avisado.
Se a viagem for longa, o grande objetivo é voltar.
E quando você esta partindo não pare para pensar que você esta muito próximo do lugar onde quer chegar final, mas muito longe, no tempo,  de alcança-lo.
Por fim vá para conhecer, descobrir e aprender.
Vá para voltar e construa sempre um bom lugar para voltar.
Viaja melhor quem tem um bom lugar para voltar,  mas não se ocupa dele na viagem.

PARATY, NUNCA MAIS.

Durante mais de um ano pensamos em fazer camisetas estampadas com uma bela imagem de Paraty-RJ, com a frase "PARATY NUNCA MAIS" e vende-las como água em dia de chuva. Os turistas simplesmente odiavam a cidade quando chovia e tinham muitas razões para isso.
As ruas calçadas com enormes pedras arredondas nas bordas, assentadas de forma a canalizar a água para o meio da rua e assim conduzi-las ao mar eram um tormento para se caminhar. Em uma parte mais para as bandas do mangue e do cais alagava, eu cheguei a ver algo próximo a uns 70 centímetros de água em pleno sol de verão. O odor era horrível, cheiro de mangue - uma mistura de água salgada, lodo e peixe podre - característica do mangue, gostemos ou não.
Calor insuportável, chuva sem tréguas, ruas alagadas e nada para fazer, nada... só havia a opção gastronômica, mas ninguém fica o dia todo comendo.
Assim, Paraty com chuva era o maior programa de índio que uma pessoa podia imaginar fazer, e programa caro, caro de tirar o couro... se tinha uma coisa que a cidade sabia fazer era tirar a grana do turista em volumes elevados sem oferecer nada de especial em troca.
Lembro de um rapaz que trabalhava no Café Paraty e que atendia aos pedidos de sanduíches dos clientes lendo no cardápio quais ingredientes deveria usar e a toda hora perguntava: - Que treco é esse tal de peito de peru, o quê é mostarda holandesa? Improvisação total a preço de ouro para o cliente.
Justiça seja feita, dizem que o serviço melhorou, mas em minha época tudo lá era selvagem.
Falo de um  período intermediário entre a barbárie total do século XX e os dias atuais.
Os nativos eram rústicos e sem honra e os gringos eram safados demais.
A história da cidade era uma imensa página policial, com crimes de morte banais, atentados, corpos semi carbonizados na estrada da Ponte Branca, roubos, vandalismo... uma cidade violenta, muito violenta.
Um cidade de coronéis, gente sem capacidade de repartir, gente sem brilho, gananciosos e cruéis.
Mulheres eram objetos sexuais ou mercadoria, animais eram rotineiramente maltratados, não havia o mínimo respeito a sentimentos e à vida de nada.
Não havia palavra nem honra. Um acordo, um contrato não tinham valor algum. Tudo era desfeito ao menor indicio de lucro alheio. Ninguém aceitava repartir, e morriam, se contorciam com o sucesso alheio. Não bastava ganhar, o outro tinha que perder para uma negociação  ser satisfatória.
Cobra comendo cobra, ninguém piscava, piscou dançou.
Inveja, muita inveja... segredos, calúnias, mentiras e armações.
Eu nunca vi um covil como aquele em qualquer outro lugar em que estive.
Vi coisas banais como uma pessoa dar um informação errada a uma família de turistas que buscava localizar um determinada pousada onde tinham reserva para simplesmente dificulta-los já que não tinham escolhido a pousada de um primo do informante. Como vi também cartas anônimas enfiadas debaixo da porta de todas as casas do centro histórico durante a madrugada chamando determinado morador de cornudo, dizendo quem é que estava comendo a mulher dele e uma outra anunciando ser o morador tal um traficante de drogas, tudo era muito baixo. Vi a população da cidade tentar jogar a única viatura da policia no rio em frente à delegacia num Sábado a tarde, assim como vi os filhos da elite drogando, a beira da overdose, as filhas dos moradores da Ilha das Cobras em plena luz do dia na prainha do Forte.
Por ali passaram imensas cargas de ouro e pedras preciosas a caminho de Portugal, esse mesmo falido Portugal que hoje pede penico ao mundo. Ali desembarcaram escravos, ali se matou muito e se morreu muito pelo dinheiro. Ali mataram um certo poeta Zé Kleber, companheiro de cela de Graciliano Ramos, figura conhecida de toda a população, pessoa amigável e barbaramente assassinada num carnaval.

O poeta Zé Kleber

Mas não havia nada de bom lá?
Havia, e muito, o lado ruim, o lado negro da alma daquele povo, que era de assustar, pasmar e entristecer qualquer um.
A paisagem era maravilhosa, eu morava no sobrado da foto acima - num apartamento no andar de cima dele, bem no centro da cidade. As praias distantes eram lindas, o  mar transparente, a serra e suas cachoeiras um deslumbramento só. Mas não conheci lá nenhuma pessoa que não tivesse o pé atrás com quem era de fora, que não tivesse rancor por alguém da cidade, que não tivesse uma história de como havia sido enganado e roubado por outra pessoa da cidade. Todos se diziam herdeiros disso e daquilo e em um golpe de cartório haviam sido passados para trás por fulano de tal, que depois perdeu para o fulano que no final perdeu na bala por beltrano. Não havia lá o respeito a propriedade. A cidade foi esquecida por longos anos e um dia renasceu, uns dizem que por conta do capital e iniciativa dos gringos, outros por conta da raça dos herdeiros, fato é que a cidade se ergueu e criou fama, daí a todo mundo querer rever o passado e reivindicar para si tudo que havia sido restaurado foi um pulo.
Mas veio um tragédia, a cidade foi levada pelas águas de uma sequência de chuvas e toda a iniciante indústria do turismo se ressentiu. Seguiram-se anos de vacas magras e cidade vazia. Naquela época eu cheguei a cidade para morar nela por um ano e meio. Amargas lembranças, escolha infeliz. No começo não havia uma única brecha, mas depois acertei a mão e ganhava dinheiro, quanto mais ganhava mais ódio eu atraia também, lá não há compaixão nem reconhecimento de mérito. Quem consegue ganhar algum dinheiro é inimigo.
Eramos os primeiros a perder o direito a comprar leite quando entrava a entressafra.
Não podíamos comprar pão quando chegava a temporada, o pão estava na vitrine mas não podia ser vendido porque estava reservado para algum morador nativo ou para alguma pousada, mas estava na vitrine, o mesmo se dava com a carne e com o peixe. Era medieval demais o modo de tratar.
No banco não havia o mínimo respeito a fila, atendido primeiro era o amigo ou parente do caixa, o Banerj era escroto, você ficava horas lá esperando e vendo o atendimento sendo feito pelo fundo do balcão.
No supermercado era assim, você passando as compras no caixa e o caixa abandonava você para ir a outro caixa atender um amigo, parente ou um ilustre e nem falava nada, só interrompia e fim. Numa marcenaria onde fui pedir um orçamento de um trabalho ouvi: - Meu trabalho é caro demais para você pagar... e deu-me as costas sem nem saber quem eu era e se eu tinha ou não meios, uma situação de te fazer pensar em matar.
Não deixei um amigo sequer naquela cidade, vivemos lá acompanhados as vezes de algumas pessoas vindas de fora que moravam lá e de turistas com quem fizemos amizade, nativos não conquistamos nenhum.
Terra amarga, terra de pessoas sem alma, terra de pouca alegria.
Terra de gente hipnotizada e deslumbrada pela fama, pelo luxo e pelas coisas obtidas nas relações, não no trabalho.
Desisti quando senti que o fel me contaminava.

"A defesa é natural;
Cada qual para o que nasce;
Cada qual com a sua classe;
Seus estilos de agradar.

Um nasce para trabalhar;
Outro nasce para brigar;
Outro vive de intriga;
E outro de negociar.

Outro vide de enganar;
O mundo só presta assim;
É um bom, outro ruim;
E eu não tenho jeito para dar.

Para acabar de completar;
Quem tem o mel, dá o mel;
Quem tem o fel, dá o fel;
Quem nada tem, nada dá.





quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O FIO DE CABELO BRANCO

Li hoje no Facebook, postado por uma amiga arquiteta de seus 26 ou 27 anos que descobriu um fio de cabelo branco e comentou sobre a velhice que esta chegando.
Uau!... Uau! novamente... velhice aos 27 anos?
A velhice se instala nos desprevenidos, só neles.
Se você pensa em como será sua velhice já a partir de sempre, nunca fica realmente velho.
Razão simples: com a prática de pensar em como será ela em verdade nunca se torna, estará sempre lá na frente no hemisfério de tempo do "como será", e quando você vai chegando perto do ponto marcado chega junto com você a experiência para entender que a maior parte do tempo de que dispomos será útil, bem ocupado. Com isso, sem aquele ócio angustiante de domingo a tarde que maltrata a vida dos adolescentes, os mais maduros, a caminho dos plenos cabelos brancos, tem só que se preocupar com o que fazer primeiro já que em geral não lhes faltam coisas prazerosas para fazer.
27 anos não é cedo para se pensar na velhice, é cedo apenas para se achar velho, tem coisa errada ai.

A LEMBRANÇA MAIS REMOTA

A minha é de uma visita pós natal ( óbvio ) ao posto de puericultura no bairro onde nasci.
Lembro da madrugada de frio e neblina, era primavera de 1958, de uma carteira de plástico rígido verde escuro que servia  como senha, da luz fluorecente forte das salas do Clube das Abelhas e da balança curva onde eram pesados os bebês.
Será que é isso mesmo?
Vejamos, com seis meses eu já dominava o conceito de senha e fila de espera?... uau que cara adiantado.
Já enxergava névoa quando se sabe que os bebês enxergam como se portassem cataratas?
Já distinguia materiais como plástico e definia cores como: verde escuro?
Nem eu mesmo sei explicar  essas contradições em que caio, mas tenho uma fé de que isso tudo seja verdade, mas a única verdade é que a mente nos engana o tempo todo.
Eu lembro de outras coisas mais que não sei definir, lembro de que estava vivo mas tinha sono, de que percebia mas não compreendia e isso sim é tudo verdade e não tapeação de minha mente. E por essas lembranças e impressões eu boto a mão no fogo.
Já que não acredito em reencarnação, não posso me apoiar então na consciência universal ou algo parecido, tipo uma bagagem de conhecimento acumulada pelas vidas passadas ou pelas quais teria passado enates desta. Resta-me então acreditar que a memória arquiva algumas fichas nas pastas erradas e forma uma cena que compromete a verdade, ou seja: a mente mente prá gente.
Mas não mente o tempo todo e por alguma razão algumas lembranças ficam fortemente impressionadas na memória, e uma delas aos meus dois ou três anos de idade no colo de meu pai tentando chamar a atenção dele para alguma coisa sem sucesso é forte e cristalina... mas... pode ser mais uma mentira da minha mente, ela apenas sintetiza a forma distante como meu pai lidava com os filhos, sempre entretido na conversa dos outros e com os filhos grudados nele mas sem ligação verbal, não verbal, afetiva ou que raios seja. Era ele lá nós cá. Então como isso também é um impressão muito forte pode ser apenas o registro de um conjunto de atitudes dele em relação aos filhos.
Poxa, mas eu queria tanto saber com certeza qual é minha lembrança mais remota, mas lembrança verdadeira.
É uma certeza que nunca terei, nem sei por que quero saber isso... acho que é apenas mais uma das minhas banalidades.
No final mesmo o que quero e conseguir juntar as peças, as partes de minha vida, formar um todo, poder me olhar,  ver se formo uma trajetória ascendente, se fui melhorando ou só envelhecendo. E quanto mais me afasto do ponto de partida mais sinto vontade de formar esse conjunto.

UM CERTO TIPO DE CAMINHO

O budismo foi surgindo 600 anos antes de Cristo num processo, suponho, lento e acumulativo.
Mas para se tornar mais facilmente compreendido acharam de criar um certo Siddhartha Gautama que teria sido iluminado após meditar debaixo de uma árvore. Assim como o livro do Gênesis descreve ingenuamente a criação do planeta  Terra e do universo em ordem inversa, só cabível na ingenuidade e no desconhecimento do autor, o Budismo seguiu pelo mesmo caminho e criou aquilo que não precisava ser criado. Bastava o conteúdo sem ter que ter uma embalagem dourada. A síntese do budismo já é suficiente para melhor a existência, não precisava dessa pataquada toda.

As quatro nobres verdades ( leia, medite e decore )são:
1 - Viver leva ao sofrimento e sofrer dói;
2 - O desejo é que faz você sofrer;
3 - O sofrimento acaba quanto você deixa de desejar, desapegue-se;
4 - Para se desapegar siga os ensinamentos do Buda.
Mole, mole.
Então ninguém deveria ter desejado construir um templo tão grande...

Dá uma olhada no tamanho do desapego... será que precisa de tantas imagens de buda assim?... o templo Zu Lai em São Paulo tem apenas algumas milhares de imagens do Buda.

Dá uma olhadinha no templo de Cotia em São Paulo, olha que imenso desapego material, que falta de desejo.

Este fica na China onde tudo que é feito tem que compensar alguma descompensação que aquele povo tem.
Mas o budismo é sem dúvida a forma mais perfeita e inteligente de levar a vida, tanto física como emocional, mas o budismo como é conhecido por ai a fora é tão canastrão quanto qualquer outra religião que se situa na atividade de explorar a fé, o medo, a dor e a fraqueza humana.
Existem verdades e coisas maravilhosas no budismo, mas não em seus seguidores confusos e pouco críticos.
Dá prá passar as linhas básicas numa frase: Coloque-se no lugar dos outros e sinta como eles provavelmente estão sentindo, só então tire suas conclusões sobre seus relacionamentos e conflitos, não deseje demais, não queira muito além daquilo que você precisa para viver bem, saiba perder e saiba libertar as coisas e as pessoas.
É só. Não precisa ficar construindo templo, nem inventando personagens para serem adorados.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

NÃO EXISTE... FIQUE TRANQUILO.

Eu converso muito com  muitas pessoas diferentes sobre vários assuntos.
Para alguns assuntos que gostaria de conversar mais não encontro pessoas.
Basicamente sobre livros, música e filmes sou meio órfão.
O assunto mais comum é trabalho e família.
Sobre trabalho a maioria das pessoas diz que gostaria de mudar radicalmente de trabalho, poder ganhar a vida de outra maneira, acho que já falei sobre isso aqui no blog, não tenho certeza.
Sobre família a maioria se acha em erro, divida, andando por caminhos tortos.
Eu me incluo.
Fato é que não existe, fique tranquilo, uma família de comercial de margarina.
Todos os dias ouço as queixas e as queixas são exatamente as mesmas não importa o perfil familiar que a origina.
Nada esta certo, mas ninguém esta errado.
Vamos continuar caminhando em círculos no assunto família, tendo as mesmas atitudes de erro, omissão e escapadas do dever.
Filhos continuarão a ser sempre filhos e pais continuarão a se descabelar como sempre se descabelam os pais.
Cada vez menos afetivos, cada vez menos unidos, cada vez menos fazendo parte do grupo, sempre não se identificando, nunca se aceitando como parte da base.
A maneira atual como existem é tão somente uma das realidades, e depois dessa realidade haverá uma outra forma de realidade e uma outra forma de união familiar. Mas isso mudando muito lentamente aos nosso olhos, nunca perceberemos que o modo de fazer parte de uma família muda, perceberemos apenas os conflitos e os isolamentos e basicamente tudo aquilo que nos desagrada por não estar dando certo.
Perceberemos sempre a mesmice, a rotina, o artificialismos e a falta de sentido de tudo.
Não estamos incorrendo em erro algum, somos parte de um processo gigantesco que sofre influências de tudo e de todas as manifestações, algo que contudo resiste a deixar de existir, e transforma em caos a vida de quase todos.
É uma forma estranha de existir, é uma luz que não ilumina, uma coisa esperada que não acontece, é uma prisão de inocentes, é cumprir uma pena sem ter cometido crime algum.
Converso muito com muitas pessoas que me transmitem uma angústia, mas que não sinalizam com a coragem de abandonar a fórmula batida e se rebelar em favor próprio. Optam por cobrar aos outras a vida que lhes é roubada, satisfazem-se em punir.
Não existe margarina, não existe comercial, não existe a família do comercial de margarina sentada numa mesa, feliz, numa manhã de Sábado de sol comendo pão com margarina... fique tranquilo.

UMA FRASE INFELIZ...

...marcou a vida de uma pessoa de minha família para sempre.
Foi dita a ela quando tinha uns 19 anos, num momento importantíssimo para uma mulher, na frente dos principais membros da família e tratava preventivamente de moral e bons costumes.
Falava sobre um imposição moral, não poder beijar.
Quem pronunciou tinha seu universo pessoal, sua visão estranha e míope do mundo e não era algo pessoal, julgamento ou acusação. Era uma colocação no calor do momento, uma maneira de tentar se mostrar cumpridora de códigos respeitosos, talvez uma forma de se auto proclamar guardiã dos bons comportamentos dentro de sua família, uma forma talvez de dar garantias da idoneidade moral de seu filho.
Quem ouviu, era uma pessoa incapacitada para avaliar com precisão a carga que frase continha de verdade e as cargas que não continha de verdade. Achou uma maneira de entender a seu modo e não foi a melhor maneira. Seu universo era outro, seus sonhos estavam começando e aquela colocação parecia querer culpa-la de algo que certamente não havia feito e que se feito não lhe parecia algo tão errado assim, afinal: um beijo.
Gerou o ódio, e ódio é percebido a quilômetros de distância.
Para essa frase infeliz nunca houve perdão.
Consumiu uma possibilidade de ligação que nunca se desenvolveu.
Com o passar dos anos odiaram-se mutuamente, até a morte da autora da frase, e sua memória permanece odiada.
Um vida jogada fora, uma total incapacidade em transitar para além da agressão recebida, um remoer eterno, tanta energia aplicada no remoer que coisas muito boas da vida foram esquecidas completamente.
Com isso criou-se um personagem vazio, que parou sua vida aos 19 anos ao ser intimada, intimidada, emparedada, proibida de beijar.
Uma alma dura e seca pronunciando um despropósito sem nenhuma intenção verdadeira e uma alma fraca assumindo uma culpa que nunca teve.
Uma pequena fatalidade que roubou de ambas a possibilidade de uma amizade, a possibilidade de ensinar e aprender lições, a possibilidade de desfrutar uma vida normal em família.
Uma coisa triste.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

JAMAIS

Jamais diga: Pois não.
Era a ordem, o ano era 1977, Outubro.
Eu estreava como vendedor de balcão num departamento maravilhoso: Cine, foto e som.
A ordem é nunca dizer não ao cliente... cliente que ouve a palavra não acaba não comprando.
Rolava uns mitos meio idiotas, a gente vendia coisa boa como água e as porcarias encalhavam mesmo.
Podia dizer: sim, não, é, nunca, vai se fuder que se o cara tava a fim de comprar o som de fazer tremer o quarteirão comprava mesmo e é lógico que nem ouvia o que o vendedor dizia e 99% do que o vendedor dizia não tinha proveito nenhum mesmo.
Mas reinava o mito de que não se podia dizer: Pois não, e porra, a gente falava a toda hora o maldito Pois não.
Qualquer vendedor de sapatos já falava de cara quando você passava na calçada: Pois não, e olha que vendedor de sapato é a criatura mais chata que existe no universo conhecido. Mas para o nosso chefe o Pois não, não deveria existir.
Daí eu resolvi implicar com o "Jamais".
Jamais quer dizer, segundo o Houaiss: 1.nunca 2.de modo algum... e eu implicava com a falta de sentido de uma frase: Jamais aconteceu enchente assim na cidade de São Paulo. Então não aconteceu nem essa que esta sendo noticiada, se aconteceu não é jamais porque jamais é nunca... teria que ser: Jamais até então...
mas ninguém dizia assim.
Já Pois quer dizer: 1.porque 2. visto que 3. Já que 4. nesse caso 5. então 6. por conseguinte 7. portanto.
E Não quer dizer: 1. negação 2. negativa enfática 3. recusa.
Logo: Pois não quer dizer: não quer dizer coisa alguma que se possa traduzir juntando qualquer significado que se escolha prá conjugar com uma ou outra escolha. É um infinito vazio de sentido que sabe-se lá de onde se originou... tenho cá minhas cismas que é de portugal, como tudo que nos atrapalha a vida.

SOMENTE A VERDADE

A verdade é o caminho mais curto.
Eu procuro falar sempre a verdade e isso não é difícil... acho mais fácil que ficar pensando em uma justificativa fantasiosa e potencialmente envolvida no risco de ser desmontada.
Dá uma sensação de bem estar danado dizer a verdade de ponta a ponta, mostrar-se por inteiro e  sentir que sua imagem fica mais forte ao invés de pensar que feriu alguém, mas veremos que tudo nesta vida é relativo.
Livrei-me ao longo dos anos de algumas carências e com isso não preciso da meia verdade para seduzir, conquistar ou manter a conquista... mas nem toda verdade deve ser dita. Pessoa excessivamente sinceras são muito incômodas, e nem sempre a verdade é a coisa mais conveniente.
Sem querer pesar na mão, até porque o riso esta liberado no final desta histórinha real,  mas a noticia da morte de meu pai me foi dada oficialmente por uma vizinha portuguesa de quem ainda hoje tenho uma elevada estima da memória. Mas a lusitana levou-nos à sua casa ( eu e meu irmão ) para nos dar a noticia de uma forma mais tranquila e suave, só que antes disso pegou o telefone e avisou ao Edson - um farmacêutico amigo que cuidava de nosso pai - que ele havia morrido.
Uma verdade dita por um português é sempre uma coisa perigosa. E ficamos nós lá chocados com a notícia dada a terceiro em nossa frente e  depois ela carinhosamente procurou as melhores palavras para nos dar a mesma notícia, o conforto e alguma orientação de como nos deveríamos comportar em seguida.
A verdade é uma coisa relativa, hoje tornou-se relativa, não era.
As relações humanas tornaram-se complexas e isso mudou o valor e o peso da verdade.
É mais nobre omitir que destruir o momento de alguém com uma verdade incômoda.
Você diria a uma garota em sua festa de 15 anos que ela esta linda mas que estaria muito mais se não fosse tão gorda? Isso seria grosseiro, intromissão na vida pessoal e um despropósito, mas em muitas situações as relatividades serão as mesmas.
Você diria que alguém vai se casar com uma péssima escolha? Ou vai na festa, come, bebe e ainda leva uns brigadeiros no bolso?
Você perguntaria se alguém quer comprar o seu carro que só esta te trazendo problemas? Ou deixaria alguém mais interessado em carros e mecânica mostrar que você é que não sabe lidar com ele?
A verdade é o caminho mais curto para ser expulso da festa de quinze anos da gordinha, para ser amaldiçoado pela noiva que vai casar com o putanheiro que perde todo o dinheiro na zona e para ficar na garagem com um carro que ninguém consegue fazer pegar.
- Jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade?
- Nem fudendo.



O LUGAR DEFINITIVO

Num livro do Gabriel Garcia Marques ele diz: Você não é de um lugar enquanto não tem um morto enterrado nele. Achei o máximo quando li isso. Depois amadureci emocionalmente e não só passei a não achar mais isso como passei a entender que o autor, no que pese o prêmio Nobel de literatura que ganhou, tem que ser lido com cautela.
Você é de um lugar quando sente que a casa que você tem nele é a última casa que terá na vida.
Ela supera as escolhas anteriores, e merece toda sua atenção e cuidados.
Sempre que você vai fazer alguma coisa nova nela, ou reparar algo faz com o maior capricho e usa o melhor material. Não tem dó em ocupar muito tempo e dinheiro fazendo o melhor. Será sua obra prima, será a casa que você vai deixar de herança para a filha.
Morei muitos anos numa casa simples que sempre tratei de colorir de forma especial, nada do que fiz restou, embora ainda seja minha, mas 20 e tantos anos longe dela tiraram-lhe todo o encanto e hoje quando converso com amigos de longa data, todos se lembram com carinho e saudades de minha casa. Era realmente um lugar muito legal para beber, ouvir música e conversar.
Depois fui morar numa cidade histórica - Paraty - e o lugar era um cenário. Minha casa ficava no centro histórico e era uma gracinha com uma vista maravilhosa... não fui feliz naquela casa, por várias razões e em suas paredes nunca pendurei um mísero quadro, mesmo vivendo eu lá de pintar quadros, aquilo nunca foi um lugar que eu tenha achado como sendo definitivo, foi o lugar mais provisório que já vivi na vida.
Hoje tenho uma outra casa. Esta, difícil de lidar mas com uma cara de "é o meu lugar"... nela faço as coisas de forma mais sólida, mais bem arranjada e não era assim até a algum tempo atrás.
O sentimento esta chegando devagarinho e se implantando de forma permanente  em mim.
Acho que você passa a pensar diferente na vida quando esta morando em sua casa definitiva.
Penso em viajar, penso em viajar muito ainda, mas penso em voltar, voltar sempre...