PENSANDO

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

INOCENTANDO OS HOMENS MAUS.

Ninguém faz nada sozinho.
Quando você prega um grampo num morão de cerca no meio do pasto, longe de tudo, longe de todos, pode estar certo que junto com você esta o grampo feito por alguém que pegou um fio de aço feito por outro alguém que usou um minério cavado por outro alguém, e assim é com o morão e com o martelo e o arame.
Ninguém governa sozinho, ninguém erra sozinho.
Assisti a um filme sobre um momento específico da vida de um ex presidente dos Estados Unidos.
Não se espera que um homem que não seja uma verdadeira raposa consiga chegar a um cargo tão elevado e invejado. Não se fala de gente normal quando se trata desse tipo de conquista.
Uma vez no cargo o indivíduo tem algumas frentes de perturbação... a do próprio cargo em si  a dos adversários, a dos puxa sacos, a justiça, a opinião pública e a pior de todas que é enfrentar a si mesmo todos os dias.
Assim, a cada decisão, uma série de decisões menores interferem na decisão maior, principal e definitiva.
É a solidão mais exposta que um ser pode ter. Você é o responsável final por tudo mas todos  tem o direito de opinar e julgar todos os seus atos solitários.
O único atrativo é o poder pelo poder, nem sempre há uma recompensa material e na maioria das vezes a história não faz justiça.
Aqui no Brasil achamos que todos os que ocupam cargos públicos em qualquer parte do mundo o fazem para enriquecer, e isso é uma deturpação causada por 500 anos de corrupção e aceitação da corrupção.
Somos assim e acreditamos que o mundo inteiro seja assim. Não é verdade. Tem lugares onde a corrupção existe em níveis bastante aceitáveis e outros onde é intolerável e vem destruindo a nações. Ela é tão corrosiva que desagrega e faz com que um coletivo se torne cada vez mais tribal.
Então eu acredito que os políticos mais capazes muitas vezes não usam toda a sua capacidade em proveito próprio como acreditamos. Muitas vezes deslumbrados com o poder, a fama, a possibilidade de dar a palavra final sobre a vida de multidões eles aceitam como recompensa apenas a satisfação do ego.
Capacitadíssimos para articular ideias e planos, para fazer avaliações muito complexas de conjunturas muito mais complexas ainda, hábeis aos extremo na arte do convencimento e muito estudiosos dos detalhes e das possibilidades a que esses detalhes podem levar, passam como um rolo compressor sobre todos e isso é um outro grande prazer,  a capacidade de vencer intelectualmente.
Mas sempre se cercam de conselheiros e esses mais cedo ou mais tarde caem em desgraça num território ou em outro, ou no campo inimigo ou por fogo amigo, nunca saem ilesos, nunca vi ninguém que não é o número um sair sem machucados de suas gestões. Mas essa é a função deles, se por um lado podem estar colados ao poder sem terem sido eleitos por outro estão lá por um preço caro que será cobrado na hora que isso for possível. Tombam, fatalmente tombam e levam a fama pelos erros nem sempre cometidos.
O volume e a qualidade de  informações que um mandatário tem dá a ele o poder de decidir sem ser entendido. Como o grosso da sociedade só dispõe de parte da informação e pouco da experiencia de tomada de decisão, então fatalmente o significado da decisão se perde quando chega aos extratos mais baixos. Decorre então o julgamento com base em matéria parcial que fatalmente leva a injustiça.
Quem esta lá encima sabe disso tudo e já não dá importância maior a isso, sabe também que no macro a coisa tem que andar e que se a cachorrada late ou não late não faz a menor diferença, em tempo algum.
A experiência de ser o número um no país mais poderoso do mundo é tão única que apenas 44 homens ocuparam esse cargo entre 30 de Abril de 1789 e o dia 20 de Janeiro de 2013, ou 224 anos.
A visão deles é uma antes de entrar e outra completamente diferente depois que saem. Mas nenhum outro simples mortal tem a menor ideia da complexidade que é essa visão. Alguns inciaram guerras e levaram milhares a morte, outros terminaram essas guerras, e alguns não passaram por guerra alguma que tenha sido relevante ( sem querer aqui dizer que há irrelevância em qualquer guerra que seja ).
Li algumas biografias e me interesso permanentemente pelo assunto: o homem no poder, dada a distância que o poder impõe a esse homem... é a tal solidão exposta.
Solitário nesse mundo de força disponível e no centro de todas as informações que nunca teremos e podendo, dispondo delas fazer aquilo que julgam o melhor, não fica claro para quem seria esse melhor, mas acredito na necessidade de continuidade no poder e eles hora pendem para o melhor para suas próprias imagens, hora para o melhor para o coletivo que representam, hora para o melhor para seus egos, e isso é assim, já que não terei o reconhecimento pleno vou fazer algo que só será percebido no futuro, vou aceitar o julgamento da história, e isso é pender para o lado do ego em detrimento a todos os outros lados.
Acumula-se um bocado de experiências com uma vivência que em verdade é rápida no poder, no máximo  8 anos numa vida media de 80 anos, e levasse uns 50 anos para conseguir chegar lá, até mais. Mas são anos muito intensos, carregados de jogadas, rasteiras, pressões e surpresas. Nada é obvio e anunciado previamente, tudo chega camuflado e a arte de governar é a arte de desvendar qual a verdade por trás de tudo que chega ao seu conhecimento.
O erro é sempre embarcar na necessidade de governabilidade. Esse erro é fatal e derruba e derrubou a todos. Melhor passar por incompetente que por ladrão ou desonesto. Alguém incompetente conseguiria chegar lá? Alguém honesto conseguiria chegar lá? Claro que não, tratamos aqui de pessoas que conseguem juntar as pontas de várias coisas, criar os fatos e deles de valer para subir cada degrau e se manter nele.
Assim chego ao ponto básico que quero chegar com essa conversa toda.
Imagino ir pescar com um  ex presidente americano, estar só com ele num barco no meio de um lago com o tempo todo a disposição, nada para interromper e poder sondar entre um lance e outro da pescaria cada mínimo detalhe do que é estar no cargo e ser uns dos 44, entender os fatos pela ótica de quem pode declarar a verdade totalmente. Imagino poder descobrir coisas tão absurdamente complexas que levaram a tais e tais decisões, como descobrir também as coisas tão absurdamente simples que levaram a complexas decisões. Coisas como 1 + 1 = 2 ou fórmulas que ocupam um pagina inteira de caderno. Nas coisas simples evidentemente vão prevalecer a alma do homem, suas convicções e suas possibilidades de articulação. Nas bem complexas veria apenas como ele se virou na enxurrada  como conseguiu manter a cabeça de fora para respirar e como conseguiu nadar até a margem ou se conseguiu apenas se agarrar a algo e esperar a força da água diminuir. Deve ser maravilhoso ouvir uma explicação completa e convincente dada a mim que não propagarei nem sairei contando nada para ninguém. Mais, poder mergulhar fundo e entender o processo e o homem envolvido no processo. Foi fácil? Tirou de letra? Perdeu o sono? Deu dor de barriga? Assinou a autorização para bombardear e não tremeu a mão sabendo que de uma certa forma matava naquele ato?
Fascina, instiga... acho que deixaria o anzol sem minhoca só prá não perder a concentração nas respostas.
Sentiria vontade eu também de ser um 45°... claro que sim, é fascinante o poder até para um anarquista como eu. Desconstruir um fato partindo da base da informação, fazendo do fim para o começo e do verso para o anverso, saber primeiro o nome do assassino, depois a história do filme e só por último o nome do filme e quem trabalhou nele. Tem gente que não gosta de saber o final antes, prefere a ilusão. Falo de um mundo sem sonhos e sem ilusões de homens sem isso. De pessoas que se ocupam de fatos, não especulam, que lidam só com verdades e que erram até por não se usarem de suposições ou verdades vagas.
A matéria que lidam é imaterial. Tratam de um jogo jogado entre iguais. Tudo é abstrato e se transformara em verdade material num futuro, onde só então poderá ser avaliado com certeza, só no futuro está a configuração final de seu estilo de propor um ideia, consolida-la e descobrir se acertou ou errou. E isso considerando que jogar com  iguais é muito mais difícil. Num cenário onde outros dispões de vontades diversas, informações diversas e éticas relativas o punhal paira sobre suas costas o tempo inteiro.
Saber como lidou com a ingratidão, com a mentira, com as más intensões e com os que sendo honestos não sabiam se expressar... como soube tirar de cada um a verdade, ou não soube e perdeu por isso.
Houve um universo em cada mandato, alguns foram presidentes quando o país tinha lá sua desimportância.
Na verdade a relevância de decisões ocorreu no mandato Lincoln por conta da guerra sangrenta interna que quase detonou o país e para todos depois de Roosevelt ( Franklin 1933/1945), quando então o país despontou e se manteve no topo.
Esta postagem terá continuação...


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