PENSANDO

PENSANDO

quarta-feira, 29 de julho de 2009

CADÊ?

Muito parecido com este acima era o presépio que meu pai montava todos os anos.
Ocupava nossa pequena sala de estar e tinha 3 metros de frente por quase 1 metro de profundidade. Levava um saco de serragem, um monte de tijolos apanhados de ultima hora e embrulhados em papel imitação de pedra amarrotado, musgo, galhos secos e o principal: tinha essas figurinhas de gesso que eram uma perfeição. E eram porque eram, não porque minha memória adocicada da infância quer que seja. Lembro de uma prima de meu pai comprar algumas peças para o presépio dela que não eram nada bem pintadas e eram muito artificiais.
As nossas eram perfeitas. Mas ele colocava um menino Jesus enorme que eu não gostava, tinha uma pick-up de tocar disco que ficava dentro de uma gruta espelhada com dois anjos rodando sobre ela. Um lago feito de vidro e abaixo dele peixinhos vermelhos com um pescador na beirada, tinha um poço e uma tal de Therezinha que carregava dois baldes numa canga, tinha o Seu Belarmino com um realejo e um papagaio, tinha um soldado romano, muitos carneiros, um lindo burrico e um boi na gruta onde ficava o centro do presépio. A árvore de natal era de uma árvore seca enorme pintada de branco com alvaiade e com algodão e bolas vermelhas colocada dentro de uma lata de areia que era camuflada de colina. Muita serragem colorida com pó Xadrez verde, areia colorida de amarelo e um sujeirada danada para desmontar.
Muita gente vinha ver, era uma festa e nunca ninguém tirou nenhuma foto. Isso é lamentável.
Hoje eu e minha filha já chegamos a fazer 1100 fotos num único dia, e naquela época fotos desse tipo eram coisa rara. Lamento outra vez.
Mas o que mais lamento é saber que as peças sumiram, onde teriam ido parar as quase 100 peças que compunham aquela obra de arte? Todas eram guardadas com muito cuidado embrulhadas em jornal e protegidas numa caixa enorme de papelão. Quando meu pai morreu minha mãe deve ter doado para a igreja.
Isso é muito chato, saber que alguém recebeu e não sabe a história e a lembrança que aquilo tinha. Hoje tento preservar comigo tudo que possa virar história da família. Quantas coisas perdi.
Estava pensando nas esculturas de meu bisavô, no álbum de figurinhas de minha tia, nos manuais de mecânica de trator de meu pai ( prá que cuernos tinha ele manuais de trator? ).
É impossível ter espaço para guardar tudo, mas temos que nos esforçar prá preservar o mais simbólico. Manter vivas as histórias da família, porque outros vão querer saber e ver depois de nós.

4 comentários:

Mary Joe disse...

TAmbém tive pena de naõ ter nenhuma foto, Vitório. Fechei meus olhos e fiquei imaginando.

Acho que o mais próximo que consigo chegar é o presépio do pipiripau em BH. Mas esse se tornou muito impessoal, a medida que foi crescendo de tamanho.

Vc me parece certo de querer conservar sua história. Sempre vão existir netos que vão em busca dela.
Beijokas
Mary

Família Meneghel disse...

Olá.
Embora eu tenha tomado muita água benta na vida, acabei me tronando ateu, não por influencia de esquerda mas por descrença mesmo nas religiões e nas explicações e justificativas esfarrapadas que ouvi na vida.
Ma resolvi fazer um presépio.
Vai ser uma espécie de quadro com portas. Pretendo chamar alguns amigos para abrirem o presépio no dia 1º de Dez e depois farei uma festinha para fechar no dia de Reis a noite.
Se vc estiver em SP esta convidada, senão mando fotos ou um video prá vc indiretamente oparticipar. Mas esperem algumas surpresas em meu presépio, que embora não será desrespeitoso ou blásfemo terá alguma coisa alem do esperado.
Um beijão.

Creuza disse...

maravilhosa sua ideia...espero que faça resgatando a história do Natal e não como estão usando na atualidade ,apenas para o comercio ,competição, perdendo o significado real e a simplicidade de como nossos pais faziam...
bjs
Creuza

Família Meneghel disse...

Creuzita Prezepitaprimita
Quero fazer algo realmente legal e que as pessoas vejam nele valores como agregação de amigos, memória afetiva, arte e respeito à religiosidade alheia.
Bjs.