PENSANDO
sábado, 27 de fevereiro de 2010
QUEIJO, BAHAMAS E OBTUSOS.
Imagine-se sendo um funcionário responsável por fatiar queijo prato e mussarela
para serem vendidos no varejo. Você tem que fatiar mais de 50 quilos por dia e colocá-los na vitrine para serem colhidos e pesados por um colega seu.
O que é uma fatia de queijo prá você ao final de um dia? Vamos pensar.
Em 100 gramas temos 11 fatias, em 1 quilo temos 110 fatias em 50 quilos 5500 fatias, mas ao final de uma semana de trabalho teremos 33.000 fatias e ao final do mês 143.000 fatias, isso faria qualquer rato feliz.
MaS quem compra não é o rato é o consumidor que paga e quer escolher entre duas coisas básicas, produto fresco e fatia na espessura certa.
Qual é a espessura certa?
Depende do uso. Mas depois de mastigado não vai tudo pelo mesmo buraco?
Sim, pela mesma espécie de buraco, mas o gosto difere e não sei por que tem gente que gosta de fatia fina mas acaba colocando mais fatias num mesmo lanche, já tem gente que gosta de fatias grossas e nem por isso diminui o numero de fatias. Se a fatia vai ser enrolada é bom que o queijo seja elástico e não quebradiço. E mais, fatias finas grudam mais umas nas outras principalmente a partir do dia seguinte a que foram fatiadas, acho que porque a classe é muito unida. Existe uma condição repudiada por quase todos, são as primeiras e as ultimas fatias a serem fatiadas de uma peça. Elas por terem um aspecto de sobra ou resto são desprezadas como não sendo produto de qualidade embora isso seja ridículo, só não tem aquele formato retangular com bordas arredondadas perfeitas mas é queijo igual ao resto.
Mas você diante da máquina de fatiar não pode pensar em todo mundo, talvez nem pense em você mesmo na hora que estiver fatiando uma das 143.000 fatias mensais, imagine que alinhadas dariam 17 quilômetros mais 160 metros, isso de carro dá entre 12 e 20 minutos numa estrada mas como seu braço tem que ir e voltar pra empurrar e puxar o carrinho da máquina dá o dobro, ou seja 34 quilômetros mais 320 metros. Vejamos então, daria entre 24 e 40 minutos de carro numa estrada boa. Seria legal se fosse possível corta o queijo então com um carro, pois em no máximo 40 minutos você faria o serviço e ficava o resto do mês de folga. Insano, por demais insano.
O que quero dizer é que pra você, meu caro cortador de queijo prato ou mussarela, não há diferença entre uma fatia de queijo ou outra porque na sua frente existe uma abundância intolerável delas e seu primeiro desejo na vida é se livrar delas o mais rápido possível a cada dia e por isso seu cérebro já não quer mais fazer a distinção embora você seja a pessoa mais apta a fazer isso.
Em muitas profissões a coisa é assim. Quem lida com o publico tem que saber que não esta fatiando queijo, que cada um chega a sua frente com uma expectativa e ansiedade diferentes. Que quando você entra numa delegacia de policia prá registrar a perda de um documento é tratado como se fosse um bandido capturado, porque lá eles olham as pessoas todas como sendo foras da lei, esse é o queijo deles, num hospital publico não há uma dor mais aguda que a outra, lá só se distingui hemorragia e osso exposto, o resto e tudo fatia de queijo, num telemarketing você não tem um problema maior que o de ,você é apenas mais uma fatia, no transito você pode levar ate todas as multas de transito num único dia porque ninguém quer saber se vai faltar pão na tua mesa se te tomarem a carteira, se o semáforo estava descalibrado e multava no amarelo, se o seu cartão de zona azul estourou a 30 segundos não faz mal voce é apneas uma fatia..., fatias, fatias e mais fatias.
O caixa do banco não tem a mesma pressa que você que esta na fila porque ele não tem que ir buscar a fatia de queijo dele na escola daqui a 15 minutos e a fila não anda porque tem fatias demais querendo pagar conta na sexta.
É isso, você seria mais bem tratado se não fosse apenas um fatia de queijo, se o fatiador olhasse com carinho cada uma delas e dissesse: - Bom dia dona fatia, como tem passado? Que calor anda fazendo, não? A senhora esta com uma cor linda hoje... foi à praia é?
Pré julgados e igualados recebemos um tratamento padrão, onde somos vistos como culpados ou responsáveis pelos erros e acertos dos outros.
Por fim uma historinha real...
Minha professora de filosofia e amiga chamada Cleópatra Poli desembarcava nas Bahamas ( se não me engano ) e na imigração o indivíduo que a antecedeu teve um feroz bate bocas com o funcionário responsável por carimbar os passaportes, ela assistiu aquilo e pensou: - Sou a próxima e vou herdar toda a ira do funcionário.
Chegou a vez dela e o funcionário a olhou com um grande sorriso, tratou-a com muita gentileza, carimbou-lhe o passaporte e disse com força e sinceridade:
-Welcome to Bahamas.
Aquele individuo não lidava com fatias de queijo.
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