PENSANDO

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

CORRENDO PARA CRISTINA, CORRENDO DA NEUZA

Primeiro ato:
No ginásio por alguma razão precisávamos passar um recado de sala em sala, no grupo uma certa Cris tomou a dianteira e falou em todas as salas com desenvoltura e naturalidade. Eu nunca tinha percebido aquela garota na escola, me apaixonei na mesma hora. Corri atrás dela, arranjava pretextos e conseguia até ficar bastante tempo próximo a ela, o suficiente para descobrir:
1) Que a mãe dela gostava muito de mim.
2) Que a irmã dela era linda e muito inteligente, alguns anos mais tarde ela passaria em primeiro lugar no vestibular que me colocou na faculdade ( eu em 11º ).
3) Que ela tinha uma rede de amigas arquitetando planos para ajuda-la a conquistar um outro cara.
No entanto um dia convidei-a para assistir a apresentação da Banda Sinfônica de S.Bernardo tocar em seção solene do niver da cidade obras de Debussy, nada mal, ela topou, eu cheguei na porta da casa dela de táxi, paletó e gravata aos 15 anos de idade, e ela apareceu no portão e disse que não tinha roupa pra ir comigo. Dispensei o táxi, peguei um onibus, vi o concerto e tomei um porre de whisky no coquetel que foi servido em seguida e acabei a madrugada tomando glicose na veia. Nunca mais olhei na cara dela. Fui grande amigo da irmã dela no cursinho e na faculdade.
Segundo ato:
No mesmo ginásio um ano depois, penso eu, a Neuza corria atrás de mim, arranjava pretextos e conseguia ficar bastante tempo perto de mim, o suficiente para eu descobrir que:
1) Os pais delas não estavam nem ai nem prá mim nem prá ela.
2) Que os irmãos dela eram muito pirados
3) Que ela era muito mais pirada que os irmãos dela.
Mas eu trabalhei arduamente para dissuadila de gostar de mim. Até que um dia ela foi em minha casa numa hora que eu não estava e pegou de volta todos os discos legais que ela ia me emprestando e nunca mais nos falamos.
Terceiro ato:
Deveríamos ter um sintonizador ( quero dizer: um botão como o fogão de gás que gradua de alto a baixo e desligado ) para poder ajustar exatamente por quem poderíamos e gostaríamos de nos apaixonar. Assim eu não perderia tempo com Cristina e Neuza não perderia tempo comigo.
Mas salvou-se uma coisa muito importante. A Neuza me ensinou a ver com carinho e atenção as pessoas que gostam da gente mesmo que o sentimento que temos por elas não seja na mesma proporção. E a partir dai eu fiquei sempre muito atento a qualquer sinal de paixão oculta para não ferir ninguém. Mas falhei varias vezes. Sempre descobri muito tempo depois alguns casos de pessoas que se apaixonaram por mim e eu não correspondi nem percebi. Isso é uma merda. Não sei onde eu andava com a cabeça quando isso acontecia. Mas sei o que sofri nas vezes que não fui correspondido e citando apenas a Neuza que esta num passado muito distante e não identificável o quanto devo te-la feito sofrer. Sei que era chato a insistencia dela, a presença dela a todo tempo em minha casa meio que implorando prá ser aceita. O mesmo papel que eu fazia na casa da Cris.
Como tudo aconteceu muito junto, deu prá ligar os fatos e aprender uma lição.
Ultimo ato:
É impossível aproveitar todas as possibilidades e oportunidades que a vida nos oferece.
E o peso de uma escolha muitas vezes nos deixa curvados por toda uma vida.

4 comentários:

Mary Joe disse...

Nossa, que texto lindo. Sensível a toda prova e muito, muito verdadeiro.

Nessas coisas de amor, a gente acaba metendo os pés pelas mãos, porque infelizmente o sintonizador, como vc bem colocou naõ existe ainda. Ou pelo menos, nunca vi, rs.

O bom, Vitório, é que essas "agruras", pois estar em qualquer um dos lados é difícil... nos forjam em dois aspectos:
1- Aprendemos sobre quem somos, o valor que temos (e se ela naõ me quer, pior pra ela).
2- Aprendemos a respeitar o outro, afinal, o bem querer nunca deveria ser sinal de sofrimento. Para nenhuma das partes. E um amor por nós não correspondido pesa, e pesa muito.
Beijo
Mary

Família Meneghel disse...

MaRy JoE
Recentemente fui ofendido gratuitamente por uma pessoa de uma comu e deixei a comu sem retrucar. Depois alertado dei uma sapeada na comu e havia um tópico onde minha atitude estava sendo comentada, e a autora da ofensa dizia que eu não havia sabido avaliar o amor que recebia lá, e que eu havia conquistado e abandonado as pessoas de forma muito gratuita.
Achei que ela estava certa, mas resolvi não voltar atrás.
Acho que não consigo aprender a lição.
Bjs.

Mary Joe disse...

Vitorio, alguem que ofende gratuitamente por amor? Esse é um conceito novo para mim.
Acho que também não consigo aprender, se estamos falando de amor nesse caso aí.
Beijokas
Mary

Francisco disse...

Muito bonito o texto, e sabemos que nas coisas do coração, não somos nós que mandamos. Muito interessante a preocupação em não magoar que estava apaixonada por você