PENSANDO

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segunda-feira, 9 de março de 2009

UMA VIDA SEM ARTE.


No livro de Erico Verissimo chamado: Solo de clarineta ele trata numa passagem sobre a vida sem arte. Ele diz que estava em sua casa num dia de chuva ouvindo discos de música clássica, quando seu tio vindo do campo debaixo da chuva inrompe na sala molhando todo a chão com suas pesadas roupas encharcadas. Senta-se numa poltrona todo molhando onde havia discos, e sobre eles portanto, sem perceber nada ao seu redor. Todo o encanto da música e do ambiente se evaporam. Erico comenta então que seu tio vivia uma vida sem arte. Eu lamento conhecer muita gente assim e ter que trabalhar com muita gente assim que não sente, não percebe e não pende para o lado da arte. São pessoas que parecem enchergar em preto e branco tudo aquilo que é naturalmente muito colorido. Vidas sem cor.
O pior é elas passarem como tratores sobre aquilo que a gente elabora com tanto carinho e trabalho. Você tem um ideia, desenvolve-a e dá a ela o seu colorido e modo pessoal.
Vem o sem arte e senta sobre ela sem a menor cerimônia.
Esse desprezo pelas coisas elaboradas artisticamente geram em mim igual dose de desprezo pelos tais. Aprendi a não aculturar quem naturalmente não tem queda para a arte.
Você não tem como convencer alguém de que beleza é algo importante num projeto, que harmonia é fundamental para digestão de uma obra ou trabalho e que isso faz vender mais e dá mais lucro. Nem a questão do lucro ligado ao melhor eles entendem. É obvio que arte é um reduto, arte muito elaborada é um reduto dentro de um outro reduto e arte de vanguarda é o reduto dentro deste ultimo reduto. É fechado, é para poucos, é para quem tem como função criar arte. Impossivel extender a vanguarda para todos. Quando for assimilada, já não é mais vanguarda nem arte, virou consumo, até pelos sem arte. Que a remanufaturam por moldes tortos e pouco elaborados, e assim seguem imunes à beleza e à elaboração.

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